Já comentei por aqui a respeito dos bons textos que saem na página 2 da TN, dentre eles, os do padre João Medeiros Filho.
Os textos do padre valeriam compartilhamento imediato por aqui por sua lucidez se não fosse o meu tempo tão corrido a impedir a transcrição.
Hoje aumento o esforço para trazer o texto de ontem e que vale para o momento atual brasileiro, aqui incluído, claro, o RN. Deleitem-se!
Posse dos eleitos e ano novo
O Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas reúnem-se hoje, em sessão extraordinária, para empossar os novos gestores, escolhidos nas últimas eleições. Estão em recesso, cuja finalidade é proporcionar o contato dos parlamentares com as bases para ouvir propostas, reivindicações e críticas. Durante o ano que findou, o Parlamento Nacional foi mais um palco de polêmicas e ataques entre os blocos de oposição e governista do que espaço de diálogo e busca de soluções para os verdadeiros e urgentes problemas da nação. Marco Maciel, quando Ministro da Educação, dirigiu-se a seus principais assessores, nestes termos: "Preciso de colaboradores, não de bajuladores". Os eleitores também poderiam ouvir declarações análogas de seus representantes. Há uma pergunta que não cala: em seu retorno, como o Congresso irá votar as reformas? A nação queda-se incrédula diante da insensibilidade social e indiferença da classe política e de certas autoridades. Quão distantes estão da Sagrada Escritura, quando se refere a Javé, o Deus Todo-Poderoso: "Ouvi o clamor de meu povo" (Ex 3, 7). A aprovação dos projetos de emenda constitucional é insuficiente para mudar o Brasil. Não será a solução automática, como muitos imaginam. A tarefa é bem mais complexa. A reforma necessária reside primeiramente nas mudanças dentro de nosso tecido sócio-político-cultural. Ocorrerá somente com a transformação radical de mentalidade e condutas individuais ou partidárias, que vêm perpetuando privilégios e exceções. Deve-se caminhar para o fim de posturas que alimentam preconceitos e discriminação, intransigência e ódio. Acontecerá apenas se os anseios do povo prevalecerem sobre aqueles dos partidos e grupos. É preciso eliminar uma mentalidade retrógrada, antiética e antipatriótica de tentar prejudicar e fazer oposição irresponsável, ilógica e indiscriminada aos governantes. O clima deve ser de união e colaboração pelo bem da pátria, que é do povo e não dos dirigentes e políticos.
O Brasil merece dias melhores. Para tanto, convém respeitar os avanços sociais, e não atender tão somente a projetos de governos ou partidos (não os da população), mesmo à custa de artifícios administrativos, bem como concessão de cargos e benesses. Entende-se que só haverá a verdadeira transformação, quando as instituições se tornarem instrumentos capazes de elidir mecanismos de empobrecimento e exclusão social. Exige-se lucidez para ajustar a máquina pública, extirpando regalias que geram desigualdades. Requerem-se disciplina e controle para não se gastar além do que se arrecada e estabelecer prioridades para a nação. É fundamental superar dinâmicas viciadas, que acarretam divisão: de um lado, privilegiados e, de outro, uma multidão de desassistidos.
Para o Brasil avançar é imperativo que a classe política faça respeitar verdadeiramente a dignidade humana, como princípio basilar da sociedade. É essencial haver, por parte dos novos gestores, a vontade inarredável do bem comum, firmado em parâmetros de equidade e eficiência, e não de conveniências partidárias. Atualmente, é unanimidade afirmar que o Estado não suporta mais o crescimento excessivo de sua máquina e seus aparatos, sobrecarregando o povo com despesas. Os políticos e governantes têm em 2019 um desafio sério: encontrar uma saída para o desenvolvimento do país e o bem-estar dos cidadãos. Estes estão exaustos de pagar a dívida dos desgovernos e saturados de escândalos, improbidades, desrespeito e retórica demagógica! Assim, poder-se-á vislumbrar um autêntico Ano Novo para o Brasil!
Cabe lembrar as palavras de Cristo: "Não se põe remendo novo em pano velho" (Mt 9, 17). Talvez seja o que acontece entre nós, tornando a emenda pior do que o soneto. Há premência em sair da crise que atinge a nossa pátria. Para isso é indispensável incluir responsabilidade e sensibilidade social a fim de proporcionar uma governabilidade eficaz, assegurando empregos, facilitando atividades empresariais, iniciativas educativas e culturais. Urge que o Brasil reconquiste sua credibilidade com a garantia de direitos e oportunidades de trabalho para evitar que a nação seja uma legião de decepcionados e excluídos. Mister se faz seguir as recomendações do apóstolo Paulo a seu discípulo Timóteo: "Antes de tudo, façam súplicas e orações por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos paz, justiça e dignidade" (1Tmb2, 1-2).