É até chato repetir essa quase que aversão que o América tem de jogar fora de casa, mas fazer o quê? Contra o Tubarão, deu a lógica: o time da casa venceu até sem muito esforço.
O jogo em si começou com o Tubarão indo para cima, chutando de onde podia. O América parecia estar com a defesa tranquila, mas o meio campo, grande destaque do time, deu pena. Nenhum com força suficiente para jogar de costas para o adversário. Quase todas as bolas que chegaram para algum jogador do América assim terminaram proporcionando o contra-ataque do mandante.
O árbitro Daniel Bins tem o critério de deixar o jogo correr (adoro!), o que favorece quem costuma chegar junto na marcação. Quem apostou no cai-cai para pedir falta dançou.
Aquele vai-e-vem da Série D, quando Uederson e Tadeu não prendiam uma bola no ataque e expunham a defesa deu o ar da graça em todo o 1.° tempo. Faltou Leandro Campos enxergar o jogo mais rápido e recuar o posicionamento ofensivo do América ou então passar a investir em lançamentos diretos da zaga, especialmente de Tiago Sala, que tem um ótimo passe lançado. A segunda opção já veio tarde demais, no finzinho do 1.° tempo, quando a vaca já havia ido para o brejo.
O 1.° gol foi um castigo desmerecido. Tiago Sala espirrou o taco e a pressão do Tubarão fez o resto. O 2.° gol veio do abalo que o 1.° causou. O América claramente não esperava o baque tão cedo.
Jonathas, Cascata, Juninho Tardelli, Mateusinho e até Adriano Pardal mais erraram passes e domínio de bola do que acertaram. Guilherme um pouco melhor do que Danilo. Até Robson errou passes. Assim, a carga terminou pesada para a defesa.
Contudo, preciso ressaltar que Thiago Braga fez mais uma grande partida.
No 2.° tempo, mais do que a entrada de Tadeu e Nem, foram as saídas de Mateusinho e Jonathas e o próprio arrefecimento de ímpeto do Tubarão que deram ao América um certo domínio do jogo. Afinal, o festival de perda de passes diminuiu consideravelmente. Gols foram perdidos. E R$ 600 mil foram para o beleléu.
Pensando de forma prática, nem vou falar em reforços pontuais, mas vou bater na tecla de sempre: Leandro Campos precisa entender rápido o jogo fora de casa. O padrão da Série D - quando a casa cai, cai de vez - precisa ser corrigido sob pena de não serem apenas R$ 600 mil que irão embora, mas a necessidade de sair do buraco da Quarta Divisão.
Não dá para jogar bonito sempre se os jogadores com essa capacidade sentem a pressão e a marcação e não acertam um passe. Conhecer o adversário é importantíssimo, mas conhecer a si próprio é ainda mais revelador. Preservar Cascata, por exemplo, para um 2.° tempo fora de casa pode ser a chave porque eu nunca vi um primeiro tempo dele nessas condições que valha à pena.
Dar chutão para cima também não é proibido, ainda mais com a qualidade que Tiago Sala apresenta para esses lançamentos, longe de serem os tais chutões.
Trocar um meia com pouca produtividade (Mateusinho, por exemplo) por um volante não seria uma blasfêmia numa situação de jogo único em que o 0x0 significava a classificação e um bom dinheiro no caixa para reforços. Ainda mais se considerarmos que esse padrão "não sei jogar nada fora de Natal" não é novidade no meio campo americano.
Isso tudo é dito mais como reflexão para o futuro do que mesmo como crítica à desclassificação. Como esperado, o Tubarão é sim uma equipe de melhor nível até pelo estadual que disputa, a anos-luz do nosso. Só que essa equipe também vai disputar a Série D e é possível um encontro repetido nas fases mais decisivas. Logo, melhor tirar o jogo de ontem como lição para não sofrer novamente mais à frente.
Vale repetir: Conhecer o adversário é importantíssimo, mas conhecer a si próprio é ainda mais revelador. Ambos essenciais.