Para quem viu os jogos anteriores tanto de ABC como Baraúnas, o resultado de 7x0 a favor do ABC lá em Mossoró realmente é um assombro. Aliás, qualquer 7x0 é um assombro sejam quem forem os envolvidos.
O problema são as insinuações. Não gosto. Mas torcedor de futebol, em geral, adora uma teoria da conspiração para justificar um resultado que não lhe agrada. Basta ver a velha teoria requentada de que a Nike vendeu tal resultado no Brasil para a Adidas na Copa X. Assim, genérico mesmo porque a teoria desde 1998 é ressuscitada a cada derrota do Brasil em Copa do Mundo.
Claro que o Rio Grande do Norte já viveu coisas escabrosas no futebol, especialmente a favor do ABC, mas não exclusivamente. Lembro de uma em especial, inclusive quando Leandro Campos era técnico do alvinegro. No estadual de 2011, salvo engano, América e ABC ainda disputavam, na última rodada de um dos turnos, vaga na final. O América jogava fora de casa - não lembro o adversário - num estádio que não tinha iluminação. Portanto, o jogo teria que ser à tarde, mesmo que no meio de semana. O alvirrubro tinha que vencer e torcer por um tropeço alvinegro.
O ABC não queria de jeito nenhum jogar à tarde. Prejudicaria o público. Veladamente, também queria esperar um tropeço do América para que Leandro Campos escalasse o time todo reserva para uma partida que não valeria mais nada antes das finais.
O que fez a FNF? Mandou a esportividade para o inferno. Sabem aquela história de, na última rodada, os jogos que influenciam na classificação serem todos no mesmo horário? Pois é. Aqui no RN, naquele ano específico, não valeu. O América jogou à tarde e o ABC à noite. Só não foi pior porque o América venceu e obrigou o ABC a jogar com os titulares. Mas é claro que os comentaristas esportivos da imprensa norte-rio-grandense defenderam a medida com unhas e dentes. Eu quase tive um infarto por ver gente que trabalha com o esporte defendendo uma medida anti-esportiva na cara dura. Comentam ou torcem? Já pensaram se o benefício fosse invertido?
É o acúmulo de coisas escabrosas que torna os americanos em especial desconfiados. Como a história da FNF pagar um incentivo para o Globo vencer o América no ano passado.
Na segunda-feira, por exemplo, o técnico Luizinho Lopes só teve que responder perguntas na coletiva pós Força e Luz 0x1 Globo a respeito de não ter conseguido vencer por 3x0 para tirar a liderança do América. Os repórteres chegaram mesmo a menosprezar o fato de que quem vencer todas as partidas leva o turno. Defenderam que só a vitória não interessava porque o saldo era mais importante.
Aí, na quarta-feira, o ABC que vencera suas duas primeiras partidas em gramados velozes, que favorecem o estilo de seu ataque, por um minguado 1x0, e sofrendo de cansaço no 2.° tempo, foi ao gramado alto do Nogueirão, que tira a velocidade do jogo, e venceu o Baraúnas por 7x0, saldo suficiente para ultrapassar o América, como questionavam os repórteres dois dias antes.
Para piorar, o próprio técnico do Baraúnas levantou a bola de que seus comandados atuaram de forma estranha. Os gols mostrados na TV mostram a inocência da marcação do time mossoroense no jogo. Agora acrescente que o técnico Leandro Campos, hoje no América, levantou a bola de um mal-estar gerado pelo resultado atípico.
As coincidências também assombram. Aí temos um prato cheio para todo tipo de especulação.
De minha parte, reforço que não gosto de insinuações. Resultado atípico foi, mas isso é praxe no futebol. E saldo de gols, continuo defendendo, é detalhe: o que vale é vencer as 7 partidas. Quem conseguir o feito, tal qual ocorre numa Copa do Mundo, será o campeão do turno.
Certamente teremos motivação extra para os jogadores de América e ABC para o clássico mais do que decisivo de sábado, às 18h, na Arena das Dunas. Os americanos querendo provar que o jogo do rival não lhe assustou e os abecedistas querendo mostrar que formam mesmo a melhor equipe do estadual e que o jogo não foi assim tão atípico. E que a esportividade dê o tom, com o respeito à velha máxima "Que vença o melhor". Pelo bem do futebol norte-rio-grandense.