O dirigente americano Leonardo Bezerra gentilmente me procurou hoje para explicar a situação do meia sub-19 Marcelinho:
"No começo do ano, ele [Marcelinho] me procurou dizendo que estava de saída do Flamengo (clube que, junto ao América, detinha 50% dos seus direitos federativos), [e] querendo saber se eu não conseguia por ele aqui de volta. Falei com Jussier, e Beto acertou com ele o contrato de 1 ano.
Durante esse ano, ele passou por 3-4 treinadores no profissional e nenhum cravou Marcelinho como um reforço, seja para o estadual ou Série D.
Iniciado o campeonato sub-19, onde o nível é mais baixo, ele realmente se destacou e eu o procurei para renovar. A princípio, ele se mostrou favorável à ideia, mas com o decorrer do tempo a conversa foi mudando - queria aumento salarial de mais de 100%.
Renovamos com 8 atletas do atual elenco e não aumentamos o salário de nenhum. O América passa por uma grave crise financeira e não tem condições para isso. Mesmo assim, abrimos uma exceção e fizemos uma contra proposta para ele em mais de 50% de aumento. O atleta não aceitou e seguiu.
Poderíamos ter feito um contrato mais longo? Sim! Mas não houve por parte de nenhum treinador a certeza dessa pedida. A nossa torcida não tem paciência com jogadores prata da casa. Veja o exemplo de Gláucio, Jamerson, Eduardo, todos vice campeões brasileiros pelo Globo que aqui no América a torcida não queria pintados de ouro. A diferença é que o Globo tem dono e, mesmo com a campanha que fez, não tem média maior do que 1.500 torcedores com ingresso a R$ 10. Lá não há pressão e o fundamento é pagar pouco e vender.
Em dois pontos eu concordo 100% com Leonardo: a falta de paciência da torcida e a questão gerencial especial do Globo. Marconi tem como aguentar o tranco. No América, o buraco é mais embaixo. Vejam que, quando aparece na imprensa daqui que determinado atleta, cria das bases, tem um contrato mais longo, chovem críticas de torcedores a respeito de quem teria fechado o contrato.
Ainda falamos sobre as bases em geral e a necessidade de oportunidades. Leonardo afirmou que o problema é a falta de dinheiro. "Formar um atleta é algo com um custo enorme! A diferença de investimentos entre os clubes até do Nordeste é abissal. O Vitória tem orçamento de quase 1 milhão por mês para as suas bases e está aí numa gangorra na Série A. Nós temos um orçamento de R$ 2 milhões por ano para o clube todo", apontou.
E ainda acrescento que o mundo empresarial do futebol não é nada fácil. Até nas bases há empresários que forçam escalação de jogadores, como se estrelas fossem, e pressionam seus pupilos a saírem do clube quando não escalados. Além de outras coisas típicas do mundo cão do futebol.
De todo jeito, mantenho a esperança de que os outros talentos desse sub-19 consigam a vaga na Copa São Paulo e de lá sejam ou muito bem negociados, ou voltem para o elenco profissional com atenção especial de Leandro Campos na sua transição. Não custa sonhar com a paciência dispensada por ele a Tadeu, Uederson e Marcos Júnior sendo direcionada aos que podem trazer bons frutos ao América.