Vice campeão brasileiro da Série D 17, o técnico Luizinho Lopes, de 35 anos, virou figurinha fácil de entrevistas na imprensa natalense nessa semana. Destaco trechos de duas -
Globoesporte.com e Tribuna do Norte (pág. 2 do caderno de esportes deste domingo):
GE - Você é um dos técnicos mais longevos do Brasil. O quanto isso é importante no trabalho?
Luizinho - Está bem claro que esse tempo fez toda a diferença. Desde a minha chegada ao Globo FC, eu contratei alguns jogadores na 1.a temporada, em 2016, mas para essa temporada, nós contratamos o Bismarck no início do ano, mas depois ele se lesionou e não jogou a Série D. E depois nós contratamos, para a Série D, o Reinaldo. Nesse processo saíram vários jogadores. Jogadores titulares, como o Leomir, o Pablo, o Luizão. Agora o João Victor, que vinha sendo titular, foi para o Atlético-GO, o próprio Romarinho, que saiu antes da final. E aí a gente consegue utilizar o próprio elenco, os jovens que estão trabalhando ali há bastante tempo, que tiveram poucas oportunidades, mas, quando têm a primeira, vão lá e garantem o padrão tático da equipe. É mais com relação ao modelo. Existe um modelo enraizado. Os jogadores sabem o que têm que fazer dentro de campo. Eles não têm uma posição. Eles têm funções. É tanto que a gente modifica as posições dos jogadores, um joga de lateral direito, depois está de volante, quando vê está de extremo, porque eles sabem como é a nossa maneira de jogar. Então, acho que a diferença está na continuidade, no modelo de jogo enraizado e os atletas saberem o que têm que fazer em campo na hora de defender, na hora de atacar e nas jogadas pré-definidas, que são as bolas paradas. Esse tempo de trabalho enraíza o modelo de jogo.
TN - Nessa campanha do Globo teve um momento que você ficou com receio de não chegar?
Luizinho - Iniciamos com derrota para o Parnahyba, num jogo com campo muito ruim e clima no estádio completamente adverso, depois vencemos na 2.a rodada e perdemos na 3.a. Em 3 rodadas, tínhamos apenas 3 pontos e isso gerou uma certa preocupação realmente. Mas refletimos. Sabíamos que era necessário mudar algo e alteramos nosso modelo de jogo e na partida contra o Guarani de Juazeiro realizamos um jogo muito bom. Vencemos por 2x0 e, a partir dali, conquistamos 7 vitórias consecutivas, estabelecendo um recorde do futebol potiguar em campeonatos brasileiros. Depois daquela atuação, me deu uma segurança muito grande de que estávamos no caminho certo. Depois fomos só confirmando a possibilidade de brigar pelo acesso, que acabou vindo.
TN - Qual o segredo do Globo que consegue revelar tantos jogadores em tão pouco tempo de trabalho?
Luizinho - Eu quero lembrar que, além do Romarinho, esse ano nós enviamos para o Fluminense o goleiro Pedro Paulo, que é o titular absoluto da equipe sub-20 das Laranjeiras. [Enviamos] 4 atletas para os grandes centros do futebol nacional. Mas não tem mistério. O segredo é trabalho, ter bons olheiros e confiar no projeto que vem sendo desenvolvido, dando condições para que esses garotos possam atuar sem maiores preocupações. (...) Na minha chegada ao clube, eu já encontrei muita coisa boa, resultado do trabalho sério que sempre foi realizado, como, por exemplo, os contratos longos assinados com os jovens promissores que chegaram ao clube. Eles tinham potencial, evoluíram muito e começaram a participar da equipe principal. Através de uma determinação da diretoria, ficou implantado a necessidade de utilizar esses jovens nos profissionais, onde nós sabíamos que teríamos de realizar um trabalho de paciência para que os garotos evoluíssem jogando na equipe principal, já que, por vezes, eles não atuam bem.
GE - O Globo FC tem uma comissão técnica que sempre é citada como um alicerce no sei trabalho. Como é sua relação com eles e como foi essa montagem?
Luizinho - Eu tive a felicidade de encontrar um excepcional profissional, o Lawrence Borba, fisiologista e preparador físico, um cara diferenciado para o nosso mercado. Encontrei lá o Rafael Chaves, que hoje é o técnico do sub-20 e é o meu auxiliar também. Tem o Janilson Bossal, sub-17, que trabalha na captação. Mas, assim da minha chegada, eu levei um analista de desempenho comigo, o Victor Hugo. É um menino estudioso, formado na UFRN, fez todos os cursos na CBF de análise de desempenho. Ele tem me ajudado de sobremaneira. É um cara que está ao meu lado o tempo todo, tanto analisando a nossa equipe como os adversários. Há pouco tempo nós contratamos um preparador físico pra auxiliar o Lawrence e ser o do sub-20. Todos os profissionais formados e capacitados. O nosso preparador de goleiros é um cara que tem uma idade avançada, mas está todo dia se capacitando. Não tem nível universitário, até devido às circunstâncias e oportunidades, mas é um excelente profissional. Então, eu tenho uma grande felicidade no Globo de encontrar pessoas que estudaram, que têm a ciência como o fator predominante para o desenvolvimento do nosso trabalho. Com certeza, esses profissionais, eu quero estar sempre com eles ao meu lado, perto, sobretudo no Globo. E, se amanhã a gente tiver que sair do Globo, pode ser que a gente também possa contar com algum desses profissionais. Mas isso faz toda a diferença. Nós não contratamos nenhum profissional que não tenha formação e capacitação para trabalhar no Globo. A gente parte desse princípio de que a ciência tem que estar inserida dentro do esporte.
TN - Assim como você, os jogadores da Globo já começaram a ser sondados para uma possível transferência?
Luizinho - O Globo trabalha com pensamento a médio e longo prazos. Os contratos entre as partes são muito bem feitos e os jogadores ficam praticamente enraizados no clube. O Negretti é um dos atletas que [tiveram] o contrato renovado recentemente. É um dos pilares dessa equipe que conquistou o acesso para a Série C. Não temos interesse de abrir mão dele pensando em contribuir com a ascensão dos jovens que atuam ao seu redor na equipe. Realmente ficamos sabendo do interesse, que havia sido feita uma sondagem por parte do ABC, mas até o momento ninguém oficializou nada.
GE - Seu nome tem circulado entre torcidas de ABC e América nos últimos tempos. Como você vê essa reação dos torcedores?
Luizinho - Naturalmente o novo atrai olhares. O Globo é um clube novo, um clube charmoso, que as pessoas começam a adotar como segundo clube. E vem tendo uma ascensão muito rápida, até em nível nacional. Antes era local apenas e esse ano em nível nacional. Eu também, como um treinador jovem, uma novidade no mercado, naturalmente as pessoas querem. Eu fico muito feliz por isso. Sinal que o trabalho está sendo bem feito.
O contrato atual de Luizinho, que foi jogador cria das bases do América e auxiliar técnico de Leandro Sena no Treze e de Roberto Fernandes no América, se encerra em outubro, mas tudo indica que será renovado.