A Tribuna deste domingo trouxe em sua página de esportes uma boa entrevista de Felipe Surian ao repórter Felipe Gurgel. Dentre outras coisas, Surian revelou que foi chamado de doido por deixar uma situação estável na Série C para disputar a Série D. Confira alguns trechos dessa interessante entrevista:
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Como campeão da Série D, com outras propostas, porque continuar na quarta divisão?
Quando acabou o campeonato, fui para casa, descansar e a prioridade era o Volta Redonda, continuar lá. (...) Aí surgiu a proposta do América. Tive outras propostas, mas nada que fosse me tirar do Rio de Janeiro. Mas senti muita firmeza por tudo que me foi passado pelo Beto Santos e Moura. Me falaram das dificuldades desse ano, os erros cometidos e o que eles queriam fazer de diferente para 2017. Passei para eles a minha metodologia e eles me passaram muita transparência e o desejo de tirar o América dessa situação. Senti na conversa com o presidente que teria um respaldo para fazer o meu planejamento e projeto de longo prazo.
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O acerto foi rápido?
Conversei com minha esposa e com amigos mais próximos. Muitos me chamaram de doido por sair de uma zona confortável que tinha no Volta Redonda, por disputar o Campeonato Carioca, a Série C do Brasileiro, mais visibilidade quando for disputar jogos com times grandes, mas o que me move são desafios. Não é que vou arriscar. Mas tenho certeza que, se todos abraçarem, as coisas melhoram e andam. E, projetando, se o América fizer a mesma coisa que fiz pelo Volta Redonda, a projeção é muito maior. Estou em um clube tradicional, que esteve na Série A, disputou várias Série B e tem um respeito muito grande na região Norte/Nordeste.
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Você disse que o projeto do América é bom, assim como o planejamento do clube. Futebol é planejamento ou resultado?
Acredito muito que o resultado vem de acordo com o que você faz no planejamento. Não só no futebol, em tudo na vida. Se você não planeja, vai executar o que para chegar no seu objetivo? Quando se planeja, organiza as coisas, pode ser que dê errado, mas é mais difícil de acontecer. Cobro isso dos meus atletas. Se estamos organizados em campo, as chances de derrota são menores. Pauto isso nos meus times. Tenho certeza de que as coisas estão correndo bem e vão ser assim até o final do ano.
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Vem algum atleta de renome?
No momento, não tem como pelas dificuldades que o América atravessa. Mas tudo depende do planejamento em se tratando de sócio torcedor e Timemania. Se vier alguma verba, tenho certeza de que o investimento vai ser na equipe. Mas o torcedor pode ter certeza de que os que estão vindo têm qualidade técnica e tática é vão abraçar a causa. O América não é de Série D, mas se encontra nela e precisamos de jogador que entende a situação. Vão disputar um campeonato que não tem tanta visibilidade, mas o América é um clube de expressão.
Pode ter alguma surpresa na apresentação do elenco?
Creio que iremos ter 80% do elenco nesse primeiro momento. Alguns atletas ainda precisam se desvincular dos seus clubes e outros são de fora do Brasil e devem chegar apenas no início de janeiro. Creio que só vão ficar faltando 5 peças para completar o elenco.
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Como você pensa o futebol em relação à montagem do time?
Tenho minha filosofia e gosto de trabalhar com marcação forte e velocidade, independente do setor de campo. Priorizo muito o setor defensivo, que é bem consistente. Quanto menos sofrer risco de gol, a chance de perder o jogo é menor. Trabalho mais o meu setor defensivo, já que o ofensivo requer uma maior qualidade técnica dos atacantes. Quando se tem atacantes técnicos, que entendam sua parte tática, isso facilita muito. Por isso trouxe o Dija Baiano e o Marcos Júnior, que já jogaram comigo, e vi alguns jogos do Raul na Copa do Nordeste, atleta experiente, assim como o Jussimar. Isso facilita ainda mais esse planejamento. O que ajudou muito a minha vinda foi a conversa que tive com o atacante Luiz Eduardo, que foi meu jogador na Caldense. Ele me passou boas informações. É um jogador que tem a minha confiança e tenho certeza de que vai ajudar ainda mais em 2017.
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Qual o principal objetivo do América em 2017?
Todo clube grande não pode priorizar nada. Se tiver chance de conquistar o estadual, vamos brigar. Copa do Nordeste, do mesmo jeito, não tem clubes tão diferentes do América. A Copa do Brasil é mais complicada pela diferença de investimentos. Já a Série D é mais nivelada e você consegue se sobressair no trabalho do dia a dia. Os atletas precisam saber que têm partidas que vão ser duras, com campos ruins, viagens longas. Todos os jogos são decisivos desde a 1.a rodada. É quase o mesmo formato da Copa do Nordeste. Das 4 competições, vamos brigar no mínimo por 3. Temos totais condições de brigar pelo estadual, Copa do Nordeste e Série D.
Alguns campos da Série D são complicados. E em Natal tem a Arena das Dunas, que é de Copa do Mundo. O América sai em desvantagem, já que dá um bom campo para o adversário?
Prefiro jogar na Arena das Dunas do que na Arena América, que deve ficar pronta para o início da Série D. Mas prefiro jogar nas Dunas. Sempre gosto do bom futebol. No Volta Redonda, quem ia jogar no Raulino de Oliveira, que tem um campo muito bom, não tinha vida fácil lá. Ali era a nossa casa e a Arena das Dunas é a casa do América. Tenho certeza de que iremos fazer do estádio um grande trunfo.
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ABC e América são sempre os favoritos [no estadual]. O alvirrubro tem você como técnico, com 35 anos, e o alvinegro tem Geninho, técnico experiente. Como surpreender seu adversário?
Vai ser um prazer. Nunca tive a oportunidade de trabalhar contra ele. Tem o meu respeito, é vencedor, sabe montar time e olhar o adversário. Tenho certeza de que iremos ter bons jogos e tenho certeza de que a decisão do estadual vai ser entre América e ABC. Mas, como bom mineiro, vou chegar devagar."