Tendo visto a temporada acabar em 18 de setembro da forma mais melancólica possível, é chegado aquele momento de reflexão por que todo mundo passa em algum momento de insucesso na vida. É hora de parar, refletir sobre erros e procurar o engrandecimento do América.
Dizem que 2016 é um ano para ser esquecido. Não é. O que ocorreu neste ano tem que ser muito bem processado e internalizado como lição para que nunca mais se repita.
Primeiro, é preciso que os gestores do América tenham consciência de que o clube não é uma extensão da sala de casa, onde se reúnem amigos e familiares. Certamente o América foi fundado assim e isso fazia todo sentido na época. No entanto, suas conquistas ao longo de sua história centenária o retiraram há muito tempo dessa categoria: o América é de Natal, é do Rio Grande do Norte, é do Brasil, não de duas, três famílias.
Essa balela de DNA americano sempre me pareceu uma forma de barrar qualquer outro candidato que não tivesse sobrenome ligado aos cardeais do clube. Ou alguém ainda acredita que o DNA americano se referia aos jogadores, se muitos ex-ABC foram contratados logo no início dos trabalhos (vide Camilo, Gabriel, Neto Potiguar...)?
Mas deixemos isso de lado. O que importa é o agora. O presidente do América declara diariamente que ninguém é mais americano do que ele. Pois bem. Chegou a hora de provar o seu amor partindo para o sacrifício. O América não vai mais se recuperar desse baque sob o seu comando. Nem é falta de competência; é questão de carisma mesmo. O América precisa se reconciliar com sua torcida. O América precisa que os americanos façam o sacrifício de abraçar o clube novamente. Mas a torcida vê sua presença como obstáculo.
Não há mais confiança no futuro do clube em 2017, seja na C ou na D. Basta perguntar a qualquer torcedor no meio da rua. Se escapar no tapetão da D neste ano, a torcida tem como certo o rebaixamento em 2017, vez que os personagens deste enredo não mudarão. 2016 teria sido apenas um preparatório.
Porém, engana-se quem pensa que basta a saída do presidente, da comissão técnica e dos jogadores. A saída é necessária e urgente, mas não suficiente. Discute-se uma mudança de estatuto no América. Aparentemente para inglês ver, posto que essa mudança passa longe de trazer a democracia para o clube.
Os que fazem o América recusam-se a admitir que os sócios torcedores escolham o presidente do clube. Essa categoria sempre chamada a se sacrificar pelo clube, que paga em cartão de crédito para não ter risco de ficar devendo e que vê no meio da temporada o clube dar-lhes um pé no traseiro ao trocar o mando de campo para outra cidade, não serve para definir o destino do clube. Entendam: seu dinheiro serve; seu julgamento, não.
A hora é agora. Esse fundo do poço (pelo menos até agora, porque o negócio pode piorar muito em 2017 e 2018, com a possibilidade de o clube ficar sem série) é o momento exato dos verdadeiros americanos, numa expressão sempre utilizada politicamente para que críticas sejam evitadas, colocarem o América no rumo certo do engrandecimento. Parafraseando James Monroe, é chegada a hora de termos o América para os americanos (todos).
O ABC saiu na frente nesta questão e o clube terá eleições diretas. É hora do América trilhar um caminho mais democrático, mais transparente, mais próximo de sua torcida.
E se o fato de aproximar o clube da torcida não comover o conselho deliberativo do América, que pelo menos olhem o lado financeiro. Um sócio que vota não abandona o clube quando os resultados são ruins ou não concorda com a gestão: ele permanece porque sabe que seu voto poderá estancar a sangria no clube. Esse vai e vem no número de sócios baseado na campanha ou no carisma do administrador diminuiria muito. O América enfim ficaria mais próximo de um planejamento financeiro confiável.
É preciso dar o pontapé inicial nas mudanças por que clama o América. É preciso que a atual gestão prove que seu amor pelo clube é maior do que a mera manutenção de poder. É preciso que os conselheiros provem que o América está acima da vaidade e abram as eleições aos sócios, ainda que seja exigida uma permanência mínima de 2 anos e obviamente a adimplência. É o futuro do América a partir de agora que está em jogo.
Sem vencedores ou vencidos, sem situação ou oposição, marchemos todos juntos em busca de um América do tamanho que sua tradição exige.
Americanos, uni-vos!