Lendo o artigo do advogado Ivan Maciel de Andrade na Tribuna do Norte de hoje, descobri uma curiosidade sobre o escritor americano Ernest Hemingway. Hemingway não admitia ser interrompido quando escrevia, ainda que estivesse num bar ou num restaurante.
Segundo Ivan, o escritor chileno Mário Vargas Llosa relata um desses momentos de Hemingway num bar de Havana, Cuba. Um grande escritor cubano chamado Lisandro Otero tímida e respeitosamente teria se aproximado para saudar Hemingway, alvo de sua admiração. Naquele momento, o americano estava de pé escrevendo junto a um balcão e não pensou duas vezes em afugentar o cubano com um soco.
Tirando reação tão extremista, o processo de escrever é mesmo quase que um transe. Não há espaço para atividades paralelas que exijam respostas conscientes do escritor - e aqui me refiro a escritor como qualquer pessoa que esteja a escrever um texto qualquer, seja ele uma mensagem de celular, um blog, ou um ensaio literário.
O cérebro fica inteiramente voltado para a produção textual, transformando o escritor num interlocutor zumbi. Quem tentar conversar com alguém nessas condições já sabe que ouvirá grunhidos ou palavras sem fundamento como resposta. Detalhe: responde-se sem saber nem o que está sendo perguntado.
Daí o perigo, por exemplo, de quem dirige e responde a mensagens no celular ao mesmo tempo. É perigo para si próprio e para os outros.
Vivendo da escrita em minhas profissões quase que diariamente, conheço bem esse transe. Claro que passo bem longe da agressividade de Hemingway, mas compreendo a mutação que a escrita nos impõe. Não nos cabe qualquer controle; somos absolutamente guiados pela atenção total às palavras que vão surgindo. A cada frase, o mundo real perde importância.
É uma sensação fantástica essa de transformar pensamentos em texto. Mas não admite a menor interrupção.
É uma sensação fantástica essa de transformar pensamentos em texto. Mas não admite a menor interrupção.