Quem não pode com o pote não pega na rodilha. Mamãe me disse isso inúmeras vezes quando eu ainda era uma criança. Sempre que eu parecia querer abraçar o mundo ou queria fugir de alguma responsabilidade, era assim que mamãe me chamava a prestar atenção na minha capacidade de fazer algo.
O América sabia desde o ano passado que 2016 seria um ano de vacas magras. E no futebol isso significa ter muito critério nas escolhas a serem feitas. O menor tropeço pode precipitar fracassos.
Ainda em 2015, contrariando grande parte da torcida, Beto Santos achou por bem não renovar com Roberto Fernandes. Primeira bola fora. Se o dinheiro andava pouco, era preciso cuidado para não espantar o torcedor. Mas, àquela altura, Beto Santos anunciava aos quatro cantos que buscaria a contratação de Flávio Araújo, outro técnico bem quisto pela torcida. O problema é que o salário de Flávio era maior do que o de Bob.
A prioridade seria a Série B. No entanto, isso não dava ao presidente o direito de apostar tudo num nome sem qualquer apelo junto à torcida para o estadual. O problema era dinheiro? O povo até se conformava em ver Leandro Sena ou Diá para comandar a temporada 2016. No entanto, espantando a torcida, Beto Santos preferiu Aloísio Guerreiro. E com ele uma ruma de jogadores que mais pareciam a mais clássica forma de meter os pés pelas mãos. Neto Potiguar, Ramon e até um estrangeiro que nem existia. Era só uma questão de tempo para a torcida se voltar contra o time. Afinal, era uma verdadeira provocação a confirmação de tais contratações. Não deu outra: no primeiro tropeço, justamente no primeiro clássico contra o ABC, o caldo entornou.
O Guerreiro não aguentou outro tropeço, dessa feita contra o Globo. E foi demitido. Para o seu lugar, nada de Roberto Fernandes, Flávio Araújo, Diá ou Leandro Sena. Guilherme Macuglia foi escolhido. Macuglia tinha experiência. O problema foi a sua saída em 2009: problemas de relacionamento com a equipe. Saiu da mesma forma em 2016, pelo que vazou. O time desandou de vez, não conseguiu nem a mais fácil classificação para a 2.a fase da Copa do Nordeste, e ainda terminou como vice-lanterna de um turno do estadual - algo inédito na história centenária do clube.
Quando pensamos que o América teria seu rumo corrigido, já que haveria um intervalo de 17 dias até a primeira partida da final, eis que o clube segue outro caminho: o time seria dirigido por um trio de treinadores interinos.
Achando pouco o menosprezo à disputa do tricampeonato, Beto Santos ainda afirmou em entrevista que o estadual já havia cumprido sua função, posto que já distribuira as vagas da Copa do Nordeste e da Copa do Brasil, numa clara sinalização de que de fato o título não fazia mais parte das ambições americanas.
Depois, achou por bem anunciar aos quatro ventos que o time atual não seria nem de perto o time para a Série C. 10 entre 10 torcedores teriam a mesma opinião. No entanto, certas coisas não podem sair da boca de quem pertence à diretoria de um clube de futebol, especialmente do presidente. Pior que isso só se Moura fosse o autor da declaração, exatamente como Josué Teixeira, então treinador do ABC, fez às vésperas da partida decisiva em 2015. Ainda bem que o ex-camisa 10 americano manteve o bom senso e evitou qualquer declaração a respeito.
Já na saída da delegação, segundo imagens divulgadas pelo clube no Facebook, era possível ver o desânimo estampado na cara dos jogadores. Cascata já dera o tom ao se achar no direito de reclamar de uma possível apatia da torcida na partida da Arena das Dunas. Não sei se ele reclamou da apatia dos seus companheiros. Também não sei se ele achou ruim não ter acertado um só lançamento no Frasqueirão. Aliás, Cascata estaria satisfeito com seu rendimento desde que o América anunciou sua renovação ainda na Série C do ano passado? De lá para cá, não houve uma só partida do meia em que seu desempenho tenha sido à altura de seu potencial.
Outra coisa: alguém sabe explicar a entrada de Alan com o deslocamento de Gabriel para jogar como volante? De quem teria partido a invenção justamente na última partida do campeonato?
Perder para o ABC é absolutamente normal. Mas perder daquela forma é motivo para um treinador quebrar um vestiário todinho no intervalo para mexer com os brios dos jogadores. E todos nós sabemos que tal característica não pertence ao eterno craque Moura. Faltou um técnico para evitar tamanho desastre.
Não vou citar as patacoadas das fotos no Frasqueirão. Já falei disso em outras postagens, inclusive no Podcast desta semana.
O desejo atual da maior parte da torcida é que haja uma reformulação completa do elenco. E até da diretoria. Já há notícia de que Boaventura será anunciado amanhã no CRB e Cascata, no Paysandu. Os líderes dessa equipe estão indo embora. Bom ou ruim, só o futuro dirá.
Quem poderia ficar? Talvez Pantera, Camilo, Zé Antonio, Gustavo, Mateusinho, Thiago Potiguar, Rômulo, Lúcio, Thiago Dutra. Muitos apenas como opção de elenco. Aos outros, tchau e bênção.
O problema é que agora faltam 15 dias para a Série C e o América só tem duas certezas: não tem treinador oficial e o time que tem não ficará para a Série C, como disse seu presidente. Alguém já viu esse filme antes? Já sim. Em 2007, 2010, 2011, só para citar os mais recentes. Só em 2011 deu certo.
E se o possível novo treinador for Diá, podemos esperá-lo lá para junho, já que a semifinal do Paraibano entre Campinense e CSP está suspensa pelo STJD. Isso torcendo muito para que o caso tenha solução rápida. Como Diá já disse que só sai do Campinense no fim do estadual, é só fazer as contas do prejuízo para o América na Série C.
Para piorar, segundo Beto Santos, muitos sócios teriam renovação agora em maio. Dá para imaginar a debandada de revoltados com essa sucessão de erros de que o América tem sido vítima desde o fim do ano passado. Um verdadeiro buraco sem fim.
Já passou da hora de acertar esse rumo. E quem for empecilho a essa correção de rumo que peça para sair. Ou então podemos todos imaginar a ladeira para a Série D. Afinal, o futebol não perdoa tamanho acúmulo de erros.