Nem sei por onde começar. Talvez devesse lembrar da desgraça que se abateu sobre o América ainda em 2014. Semifinalista da Copa do Nordeste, entre os 16 melhores da Copa do Brasil, tendo eliminado dois clubes de Série A (Atlético-PR e Fluminense, este último em circunstâncias jamais esquecidas), primeiro campeão da Arena das Dunas. Cofres abarrotados. Época de vacas gordas. Mas aí Oliveira Canindé perdeu a mão do time e ninguém da diretoria viu, a ponto de dois jogadores trocarem socos no vestiário e o técnico nem dar conta pois estava em sua "sala" no vestiário.
Não trouxeram Bob. Preferiram um de perfil semelhante ao de Oliveira. Martelotte não empolgava nem uma mosca. Terminou de encaminhar a desgraça americana. Bob foi chamado apenas após 10 rodadas. Não havia mais tempo. As ervas daninhas já dominavam a alma americana. O Mecão ficou fadado a passar seu centenário na Série C.
Bob permaneceu, como queriam os americanos. O fantasma orçamentário começou a assustar. Mesmo assim, o América sagrou-se bicampeão estadual. Alcançou a segunda fase da Copa do Nordeste. Caiu para o Vitória. Passou pela primeira vez de fase na Copa do Brasil eliminando o adversário numa única partida. Goleou impiedosamente o Globo. Destruiu o favoritismo do seu rival em seus domínios e conquistou o almejado título centenário. Mas falhou ao não enxergar que o nível de seu goleiro lhe tiraria preciosas conquistas. Caiu na Copa do Brasil diante do Vasco graças às trapalhadas do sujeito. Na Série C, o mesmo goleiro tirou-lhe 2 pontos preciosos contra o Salgueiro dentro de casa. Dois pontos que permitiram ao Confiança ficar com a última vaga de seu grupo para a fase decisiva da Série C. E o Mecão melancolicamente permaneceu na C no ano do centenário.
Apesar da vontade da maioria esmagadora da torcida, Bob não permaneceu. Trouxeram um tal Guerreiro. Enquanto o preparo físico antecipado prevaleceu, venceu. Mas as derrotas para ABC e Globo ficaram engasgadas nas gargantas de quem nunca conseguiu compreender de onde saíra um nome tão sem experiência para comandar um time de tanta tradição.
Veio Guilherme Macuglia. Não trabalhava há um certo tempo, nada que prejudicasse sua experiência. Deixou boa impressão na passagem anterior, mas saiu por ser muito rude. Organizou logo 3 volantes. O América passou a jogar na conta do chá. Venceu o Estanciano na Arena. Olhando para trás, lembrei que o Estanciano teve um jogador expulso.
Colocou o América na final do turno com a vantagem do empate (o Globo conseguiu a façanha de ser o único derrotado pelo Palmeira). Foi campeão do 1.° turno com dois 0x0: no tempo normal e na prorrogação.
Pela Copa do Nordeste, venceu o CRB na Arena. De novo, lembrei que o CRB teve um jogador expulso. Enfrentou o fraco Estanciano lá e celebrou um 0x0, mesmo tendo jogado pelo estadual contra o Alecrim com reservas dos reservas (perdeu o jogo) para poupar o time para aquele importante jogo.
O fantasma do orçamento passou a assombrar com mais frequência. Perdeu para o ASSU com os titulares. Empatou com o ABC com um novo esquema: 3-5-2. Estivesse Hélio Câmara ainda nos microfones, ele daria logo o alerta: o América nunca conquistou coisa alguma com tal esquema. E, que me perdoem os abecedistas, mas o ABC não tem servido de parâmetro até agora na temporada.
Como a zaga bateu cabeça com Gustavo na direita, Boaventura no meio e Zé Antonio na esquerda, Macuglia trocou de lado Zé e Gustavo. Essa foi a grande alteração para enfrentar o Coruripe na Arena das Dunas, já que a entrada de Mateusinho deveu-se à contusão de Thiago Potiguar.
Vejam bem: o América precisava apenas vencer em casa para seguir na competição, mas 3 zagueiros foram escalados nessa missão. O destino deu uma mãozinha a Macuglia com a contusão de Boaventura. A entrada de Alex Cazumba levou Bruno para o meio e organizou o time, que até então estava absolutamente acuado por um veloz e pressionador Coruripe. Pantera já havia salvado umas 2-3 vezes o time.
Porém, um lance despretensioso deu ao Coruripe o que ele merecia desde o início do jogo: o gol que abriu o placar. O time de Macuglia conseguiu o empate. Mais uma vez, o adversário sofria com uma expulsão. E o gol só saiu quando mais um do Coruripe resolveu fazer cera no chão.
É que o América estava com um jogador a mais, mas não abria as jogadas, insistia em afunilar. Quando Cazumba tocou voltando próximo à linha de fundo, achou Mateusinho bem colocado na área para empatar. Também não se esperaria outra coisa se o treinador sacou o lateral direito para a entrada do há-tempos-ineficiente Reis. E assim o América foi eliminado na primeira fase da Copa do Nordeste. Ah, se tivesse vencido o Estanciano...
E onde está o problema? No risco de se acostumar com a mediocridade. O América saiu de time que incendiava sua torcida, quase imbatível, para ser o time que enerva seus torcedores. Vai-se à Arena na certeza de que, se não houver uma superioridade numérica, o placar será frustrante. Contra o Coruripe a coisa piorou consideravelmente: mesmo com um a mais, nada fluiu. Foi preciso ocorrer a indisponibilidade temporária de mais um jogador do Coruripe para que ao menos o empate saísse. E vamos combinar que o futebol do América parecia de um time que fazia o primeiro coletivo da temporada - um verdadeiro amontoado de jogadores sem objetividade.
Que me desculpem a diretoria do América e Guilherme Macuglia, mas um clube com a tradição do tamanho da tradição do América não pode se contentar em ser um amontoado que vive de buscar 0x0. É bom lembrar que a ofensividade faz parte do DNA americano. Foi assim, por exemplo, em 1998, quando conquistou a Copa do Nordeste. Foi assim em inúmeros outros feitos, até mesmo nos 5x2 contra o Fluminense. Era assim até bem pouco tempo com aquele que não deveria ter saído... Aquele que nunca foi chamado de burro pela torcida.
Dizem que se a vida lhe der um limão, faça uma limonada. Ouvi algo mais interessante: recebeu um limão? Pegue tequila e sal. Mas a mediocridade de um América com medo de adversários como Estanciano e Coruripe é como jogar o sumo do limão fora e tentar digerir a casca e os caroços. É muito amargo para o meu gosto.
Perder faz parte da vida. Mas jogar o que jogou o América nessa quarta é uma afronta ao futebol em si.