A sucessão de falhas do jovem goleiro Busatto no América nesta temporada chamam a atenção para uma posição importantíssima de um time e que, desde a primeira grande passagem de Fabiano por aqui (2005-2006), nunca mais teve unanimidade entre os americanos.
Quais são os atributos de um goleiro? Basicamente, saber saltar para atingir ou agarrar uma bola alçada em sua área, saber cair para desviar ou agarrar bolas rasteiras e chutar forte para que seus tiros de meta e reposições caiam sempre após a linha divisória do gramado.
Dentro desses atributos básicos, é claro que nenhum goleiro será 100% em tudo. Existem os goleiros rebatedores, que dificilmente agarram uma bola, mas sabem atingi-la com força suficiente para tirá-la do alcance do adversário. Existem os "jogadores de futsal", que tendem a usar os pés no lugar das mãos. Existem os "paredões", que pegam tudo à queima-roupa. Existem os pródigos em bolas alçadas. Existem os pegadores de pênalti. E por aí vai.
Pelo América, desde que eu acompanho futebol, já passaram todos os tipos. Inclusive os frangueiros. E também os de desempenho insuficiente num dos quesitos básicos. Por exemplo, em 2008, um dos goleiros apresentava falha gritante no tiro de meta, preocupação constante do preparador da temporada. Ele fazia treinamentos específicos e nada do goleiro, que era um bom sujeito, melhorar. Suas bolas sempre caíam na linha central ou antes. E tome sufoco na Série B. A diretoria abriu o cofre e trouxe Fabiano de volta. Problema resolvido.
Mas além dos atributos básicos, para mim, goleiro tem que falar. Ele é o que tem a melhor visão da movimentação do ataque adversário e de sua defesa. Se ele não utiliza isso para orientar seus companheiros, vai precisar se garantir no silêncio, o que é mortal em muitos jogos. Fabiano mais uma vez é exemplo dessa característica, ainda podendo ser citados Rodolpho, Gustavo (lembram dele em 2007?), Dida e Fernando Henrique, para ficar nos mais recentes.
E, ao contrário do que se espera, goleiro bom é o que pega as bolas fáceis. Daí surge a confiança nele mesmo e dos outros em relação a ele. O seu desenvolvimento na temporada pode até levá-lo a praticar grandes defesas e alguns milagres. É quando entra numa fase ideal e ninguém em sã consciência cogita mexer na posição. Mas há uns treinadores que não resistem a indicações de diretoria e arriscam nesse quesito, especialmente se o preterido tiver um grande currículo. Já vi isso acontecer diversas vezes por aqui e nem sempre acabar bem.
No entanto, não se enganem, os bons falham. Aliás, os excepcionais falham. Dizem até que só é grande goleiro quem já tomou um frango daqueles humilhantes, tipo bola no meio das pernas ou dos braços (esse é o conceito de frango para mim; o resto é falha). É a frequência que vai separar o joio do trigo. E fase ruim todo jogador tem.
Enfim, goleiros não são infalíveis. Mas Busatto já esgotou sua cota nesta temporada. É chegada a hora de o América passar o chapéu e trazer um goleiro que aguente a pressão da torcida americana (crescente desde Fabiano, diga-se de passagem), tenha os atributos básicos (independente de ser reboteiro, paredão, jogador de futsal, pródigo em bolas alçadas... Só não dá para ser tudo num só!), mas que seja essencialmente um líder. Flávio Boaventura e Cléber precisam ter confiança de que não serão inesperadamente atacados pelo seu companheiro. E o time pode se aproveitar bem de suas orientações dentro de campo e ali na pequena área.
Vejam que o Fortaleza percebeu rápido a péssima fase do experiente Deola, colocou o jovem Erivelton, mas para não sofrer de inexperiência e morrer na praia da Série C de novo, já trouxe o experiente Ricardo Berna, que deixou a titularidade de um time de Série B!
Time no G4, essa é a hora de não dar sopa para o azar e corrigir o rumo. Pantera parado há mais de ano pode não ser a solução, embora eu só o tenha visto em boas atuações. Mas ainda que seja, Busatto não está mais em condições de lhe fazer sombra. Um goleiro líder é tudo de que o Mecão precisa para ontem na árdua caminhada de volta à Série B.
Momentos cruciais pedem decisões importantes. Que a diretoria encontre o caminho mais sábio!