Quem será que inventou o serviço público? Na verdade, o que quero saber é quem teria inventado o serviço público como um favor dos deuses prestado a reles mortais.
Qualquer um que já tenha sido atendido em alguma repartição pública, especialmente aquelas infestadas por gente em vias de se aposentar e cujo ingresso na folha de pagamento de algum ente estatal se deu via favor político nas priscas eras anteriores à Constituição de 1988 sabe bem do que estou falando.
Pensei que nada pudesse ser pior do que o atendimento numa certa vara do Fórum Seabra Fagundes no fim de expediente (isso quando havia atendimento ao público nesse horário; agora é só até 14h30). Éramos obrigados a aguardar a contemplação do pôr do sol. Como pude ser tão inocente! Isso era fichinha perto do que vi hoje na Central do Cidadão do Via Direta.
Como minha família e eu vamos precisar de carteiras de identidade recentes (menos de 10 anos) para uma viagem, lá fomos nós ao referido local para uma 2.a via. Só para obter a primeira informação, tive que esperar o desabafo de uma funcionária da recepção para outra a respeito do atendimento de um tal de Luan. Para variar, quando recebi atenção, a funcionária não sabia e me mandou fazer a pergunta a outros dois funcionários do guichê do ITEP.
Contrariada lá vou eu. Uma multidão na frente do guichê. Um dos dois funcionários indicados se propõe a verificar se as carteiras poderiam ser feitas ali, embora minha pergunta fosse outra. Se tem uma coisa que aprendi na vida é que não se deve ousar perguntar mais de uma coisa de uma só vez, especialmente a quem é adepto da burocracia. Enquanto espero a verificação, acompanho o trabalho de outras funcionárias atendendo a multidão. O clima é de piada para cá e piada para lá. Mas eficiência que é bom...
Uma chega a perguntar se uma criança de 4 anos vai assinar o documento! Talvez chateada por ter que pegar a tinta de carimbo para colher a impressão digital, ela se senta e passa a olhar para o tempo, mesmo vendo que uma família aguardava a entrega das carteiras (quase prontas). A outra nem se prontificou, apesar do pedido do funcionário que iria fazer a verificação para mim, e dos apelos da família que aguardava os documentos que já estavam ali sobre o balcão. Ou seja, as duas queriam ficar olhando para o tempo às 11 da manhã, enquanto o outro preenchia algo no computador e atendia outras pessoas. No fim, somente o RG de mamãe poderia ser feito ali; o resto só no Alecrim. Bufando de ódio pelo culto a ineficiência que é o serviço público inoperantemente burocrático brasileiro, fui até a Central do Cidadão do Alecrim.
O problema já começa de onde estacionar a @##$%& do carro. Dei sorte. Arranjei uma vaga a um quarteirão na sombra. Chego lá e já dou de cara com uma folha A4 escrita a hidrocor: "O Itep encerrou. 29/01". Não são nem 11h30 e ninguém consegue mais RG naquela desgraça. Pelo menos dessa vez, o atendimento da recepcionista é digno. Ela nos informa que o atendimento ocorre das 7h às 9h30 e que há gente que dorme na fila!
Gente, estamos no século XXI! Qualquer carroceiro tem celular. Por que não realizar agendamento por telefone, coisa já ultrapassada, porém muita mais conveniente do que a infame distribuição de fichas? Agendamento pela internet, então, seria um sonho!
Considerando o meu nível de transparência quanto às emoções, devo ter feito uma enorme cara de nojo, porque é o que sinto quando deparo com esse tipo de prestação de serviço.
Agradeci as informações. Vou tentar novamente na segunda. Desta feita, vou tentar chegar no horário de abertura do local. Se não conseguir, nem vou mais me estressar: vamos todas tirar novos passaportes. Mais caro, é verdade. Porém mais digno. A Polícia Federal consegue (ou pelo menos conseguia há 5 anos) tratar o cidadão como cliente, não como um mendicante de favores impossíveis, como o ITEP e outros órgãos municipais, estaduais e federais.
Fico me perguntando se algum governante, seja ele o prefeito, o governador ou mesmo a presidente, terá coragem um dia de obrigar essas cabeças de dinossauro a entender que quem não faz parte da casta na verdade é quem lhe paga o salário. Portanto, merece mais respeito, independente da roupa, da cor da pele ou mesmo do valor do serviço prestado. Mas aí me lembro só quer saber de algumas coisas, sendo a primeira delas como se manter no poder. Quem terá coragem de mexer no vespeiro do funcionalismo público, que tem tantos votos quantos são os apadrinhados?
Pobres de nós!