Só sei dizer se gosto ou não de um vinho. No máximo, entendo se é suave ou seco. Ao tomar um vinho de uvas passas da Cantina Tonet (RS) e comentar no Twitter que era uma delícia, ante as respostas, lembrei-me de um texto (A língua do vinho) engraçadíssimo de Zuenir Ventura (O Globo) republicado por Woden Madruga em sua coluna na Tribuna do Norte que circulou na terça-feira, 11/09. Divirta-se:
“Gosto muito de vinho, mas não sou capaz de diferenciar um Malbec de um Pinot Noir, um Carménère de um Cabernet Sauvignon ou um Syrah de um Merlot. Como não eduquei meu paladar, quando quero saber se gostei ou se devo elogiar uma safra, recorro ao Veríssimo, meu personal winer, como diz o Ancelmo.
Descobri, porém, que mais difícil do que entender de vinho é compreender o que se diz dele. Como o que já ouvi de sommeliers ou de autênticos e pseudoentendidos, ou li em cartas e guias sofisticadas, acho que se poderia construir um discurso digno de figurar na mesa de cabeceira de Baco. Diante de minha perplexa ignorância já desfilaram diálogos como os que transcrevo aqui com ligeiras adaptações para que as autorias não sejam reconhecidas:
- Prova esse branco de cor palha com tons verdosos. Ele é dominado no olfato pelo limão e flor de acácia, pela fruta exótica e pelo mineral esfumaçado. É de um elegante ataque gustativo, marcado pela notável densidade frutada e o arrojado frescor. De longo final.
- Ou então esse outro de estonteante buquê de ameixas em calda, amêndoas, baunilha e madeira defumada. Muito equilibrado, revela estilo, concentração e acidez vivaz. Longo fim de boca.
- Ah, prefere um tinto? Então degusta esse de coloração rubi, de média intensidade. É expansivo no olfato com fruta tropical, pêssegos, folha de limão e leve tom floral. O impacto na boca é volumoso, dotado de deliciosa mineralidade, fresco, com longa persistência.
- Experimenta este: macio, com algum acídulo e uma marcante estrutura, onde se revela toda a complexidade entre as características varietais e maturação. Potentes taninos, embora suaves à degustação. É bem equilibrado e de forte persistência.
- E esse aqui, com taninos sedosos, é para deixar respirar antes de servir. De um rubi luminoso, possui aromas envolventes e elegantes. Na boca, ondas cheias de estilo deságuam em notas minerais e florais, com toques de frutos vermelhos confitados, tabaco e couro.
- Para arrematar, um Madeira com notas de tabaco e frutos secos, que se comporta como um vinho doce, limpo e harmonioso. Acidez e corpo bem conjugados com a doçura e taninos.
Não vejo a hora de reencontrar meu amigo na mesa de um restaurante para lhe dizer do vinho recomendado, depois de rodar a bebida no copo, levá-lo ao nariz e sorver um gole: ‘É de boa estrutura, vigoroso no aroma, com predominância das notas florais, mas eu preferiria que tivesse um final mais longo e persistente’. Quero ver o que ele vai dizer.”
Descobri, porém, que mais difícil do que entender de vinho é compreender o que se diz dele. Como o que já ouvi de sommeliers ou de autênticos e pseudoentendidos, ou li em cartas e guias sofisticadas, acho que se poderia construir um discurso digno de figurar na mesa de cabeceira de Baco. Diante de minha perplexa ignorância já desfilaram diálogos como os que transcrevo aqui com ligeiras adaptações para que as autorias não sejam reconhecidas:
- Prova esse branco de cor palha com tons verdosos. Ele é dominado no olfato pelo limão e flor de acácia, pela fruta exótica e pelo mineral esfumaçado. É de um elegante ataque gustativo, marcado pela notável densidade frutada e o arrojado frescor. De longo final.
- Ou então esse outro de estonteante buquê de ameixas em calda, amêndoas, baunilha e madeira defumada. Muito equilibrado, revela estilo, concentração e acidez vivaz. Longo fim de boca.
- Ah, prefere um tinto? Então degusta esse de coloração rubi, de média intensidade. É expansivo no olfato com fruta tropical, pêssegos, folha de limão e leve tom floral. O impacto na boca é volumoso, dotado de deliciosa mineralidade, fresco, com longa persistência.
- Experimenta este: macio, com algum acídulo e uma marcante estrutura, onde se revela toda a complexidade entre as características varietais e maturação. Potentes taninos, embora suaves à degustação. É bem equilibrado e de forte persistência.
- E esse aqui, com taninos sedosos, é para deixar respirar antes de servir. De um rubi luminoso, possui aromas envolventes e elegantes. Na boca, ondas cheias de estilo deságuam em notas minerais e florais, com toques de frutos vermelhos confitados, tabaco e couro.
- Para arrematar, um Madeira com notas de tabaco e frutos secos, que se comporta como um vinho doce, limpo e harmonioso. Acidez e corpo bem conjugados com a doçura e taninos.
Não vejo a hora de reencontrar meu amigo na mesa de um restaurante para lhe dizer do vinho recomendado, depois de rodar a bebida no copo, levá-lo ao nariz e sorver um gole: ‘É de boa estrutura, vigoroso no aroma, com predominância das notas florais, mas eu preferiria que tivesse um final mais longo e persistente’. Quero ver o que ele vai dizer.”