Quase não me manifestei durante a polêmica aluga-não-aluga campo do Abc ao América. Não quis aumentar a polêmica nem gastar energia à toa, já que as opiniões neste caso estão encrustadas na alma, sem qualquer possibilidade de argumentação. No entanto, estando resolvido o assunto (nem o Abc aluga, nem o América quer alugar), claro que eu não poderia deixar de meter o bedelho, especialmente após a divulgação de alguns números.
Inicialmente, eu me pergunto: será que alguém analisou friamente todos os aspectos do negócio? Quando Judas Tadeu saiu quase escorraçado do Abc, só ouvíamos que o alvinegro estava deixando o amadorismo de lado e entrando numa nova era de profissionalismo. Sei, sei. Bastou a fase áurea de Rubens Guilherme acabar para que ele demonstrasse que não passa de mais do mesmo.
Mas não quero ficar nessas picuinhas pessoais. Vamos abordar aspectos mais importantes. Comecemos com o técnico: argumento que nunca foi utilizado pelos que eram contra o aluguel, mas que poderia ser bem convincente. O Frasqueirão é o mando de campo do Abc. O time da casa conhece seus meandros. Ao abrir seu estádio para o mando de campo do América, o alvinegro poderia perder a vantagem do clássico da última rodada da Série B. Só isso: uma única partida. Por outro lado, teria a vantagem de ter o clássico do 1.º turno dentro de seus domínios, apesar do mando do adversário. Do lado alvirrubro, é no Nazarenão que o time segue invicto desde o ano passado em competições nacionais. Uma mudança de campo poderia configurar-se em obstáculo à excelente campanha americana na Série B: 6 rodadas sempre no G4. É de se ver que a maior desvantagem no aspecto técnico ficaria com o América, já que o único prejuízo técnico do Abc seria na última rodada, mas compensado pela vantagem do clássico do primeiro turno.
Quanto às finanças, aí é humilhação! Seria um jogo de ganha-ganha, uma vez que ambos ganhariam mais dinheiro com o aluguel, com evidente vantagem para o alvinegro, que levaria de cara a parte do patrocínio do Governo do RN que caberia ao América, além dos 10% da renda bruta dos jogos do alvirrubro. Ambos ainda seriam patrocinados por grande empresa de varejo moveleiro (R$ 500 mil para cada). Fora outras negociações que poderiam ser empreendidas. O Abc, por exemplo, poderia reajustar o aluguel de seus bares, vez que todos teriam mais lucro com 2 equipes sempre jogando no Frasqueirão. E os royalties?
O América veria um obstáculo ser derrubado para que sua torcida comparece aos jogos: a distância de Goianinha, especialmente para jogos à noite. Mais gente no estádio, mais dinheiro no bolso. Ou menos prejuízo. No caso do Abc certamente mais dinheiro no bolso, já que os 10% por jogo referem-se à renda BRUTA.
No aspecto político, bem o ano alvinegro prevê eleições. Talvez aí esteja a explicação para que tenham matado a galinha dos ovos de ouro. A oposição sempre aposta no quanto pior, melhor. E a situação, especialmente estando o time mal das pernas em campo, termina embarcando na pilha.
Enfim, desculpem-se se sou dura, mas não me venham mais com essa balela de que a administração de X ou Y é profissional! Quando a situação aperta, todos demonstram que o amadorismo vige com força no futebol do RN. Tenho pena dos que acreditam que algum patrocinador de verdade (não abnegados) queira associar sua marca a algo que mais parece um convescote de porta de bodega, cheio de maledicências e onde se gastam R$ 2,00 para que o vizinho não ganhe R$1,00.