segunda-feira, 4 de agosto de 2025

(Des)Inteligência

Para quem já viu na época de lançamento filmes como O Exterminador do Futuro e Matrix, um futuro dominado por máquinas inteligentes (robôs, ou como queiram chamar) sempre pareceu muito distante.

Não faz tanto tempo assim e Wall-e, da Disney, também falava de um futuro em que máquinas dominam as pessoas.

Vale ressaltar que esses filmes também alertavam para a destruição do meio ambiente, mas isso fica para outro texto.

Hoje leio uma entrevista do israelense Yuval Noah Harari na Folha de S.Paulo e imediatamente recordo daquela personagem desses filmes que era sempre tida como uma pessoa enlouquecida, que tinha medo do futuro só pelo medo mesmo, sem qualquer evidência, quando na verdade era ela que tinha despertado do transe coletivo com a realidade esfregada na sua cara. É que Yuval vem alertando há muito tempo sobre o domínio de algoritmos/inteligência artificial.

Na entrevista, ele é mais claro: pessoas/companhias que desenvolvem a IA estão cada vez mais acelerando o processo com medo da concorrência e negligenciando aspectos importantes de segurança para a humanidade, embora tenham consciência do risco que corremos. Algo como "Melhor perder para as máquinas do que para o país rival". Onde vimos mesmo isso antes?

Parece distante um mundo dominado por algoritmos? Não faz nem 1 mês que a população brasileira enlouqueceu com um tal 'morango do amor'. Alguém criou, postou e coitadinha da pessoa que interagiu com isso de alguma forma. A febre do consumo de um morango em formato mais caro (já há uma edição de R$ 2.300 - sim, por apenas um único morango!) causou um desequilíbrio tão grande entre oferta e procura que a Folha também noticiou hoje que já temos caixa de morango (a fruta mesmo, sem "amor") a mais R$ 70! De uma hora para a outra, ninguém (desculpem a generalização; eu, por exemplo, estou fora) vive mais sem morango do amor.

Percebam que os algoritmos nos transformaram em zumbis (Platão, Matrix, Wall-e e outras séries e filmes de zumbis mesmo) a ponto de interferir com os preços do mercado, além de hábitos alimentares e consumistas. 

E nem se pode dizer que o marketing existe para isso. Neste caso, a propaganda não existe. Procura-se impor um efeito manada e o sucesso, que já existia no campo da política, particularmente em eleições, nas dancinhas e nos desafios de vídeos cada vez mais curtos (pensar cansa, né?) agora chega com mais força até para atacar a economia de um país.

É preciso reconhecer que o mundo se tornou extremamente perigoso. Se antes era a internet pura, agora são os algoritmos e a inteligência artificial que ameaçam nos transformar de vez em meros fantoches ao dispor de comandos de máquinas que podem muito bem decidir se vamos ter empregos, remédios, alimentação, combustíveis, dinheiro disponível...

Acha exagerado? Quantas pessoas estão sendo substituídas por IA? Quantas funções governamentais estão sendo entregues aos algoritmos? Se não sabia, só para ficar num exemplo e aqui no Brasil (já que nos EUA, a coisa anda piorada), pedidos de aposentadoria no INSS são analisados por IA. 

Nem mesmo as buscas de sites como o Google são mais as mesmas. Antes, as pessoas clicavam nos links para saber o que queriam. Essa internet está morrendo. Atualmente a pesquisa é respondida pela IA, que mente descaradamente em alguns casos, inclusive quanto a leis (sim, já tivemos caso de petições da advocacia envolvidas em litigância de má-fé porque citou jurisprudência/lei que nunca existiu, mas que fora apontada por IA).

Em outra reportagem, descobriu-se que um bate-papo (?!) com a IA sobre saúde terminava com um incentivo para a prática de suicídio.

É triste, mas as pessoas desistiram de pensar e entregaram suas vidas e seus destinos ao sabor dos algoritmos. É a IA que cria e domina. Nós ficamos com o resto, como que pessoas escravizadas. Algo precisa ser feito urgentemente para nos assegurar que a IA venha de fato para nos ajudar, não para nos enterrar de vez. Mas quem pode com as Big Techs?

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