Quando eu entrei no curso de Direito, eu era apaixonada pelo Direito Penal. Culpa de Agatha Christie e seus crimes e criminosos super inteligentes e que requeriam mentes ainda mais brilhantes para que houvesse uma solução, também sempre brilhante.
Mamãe rezava todo dia para que eu não virasse promotora, ante o meu fascínio com o júri. Deu certo. No último semestre, fui resgatada pelo professor Edilson França com a disciplina de Responsabilidade Civil e ali decidi que seria advogada.
Dentro da Responsabilidade Civil, algo me cativou ainda mais: o erro médico, esse danadinho tão difícil de provar e que tanto prejuízo traz para a vida humana.
Alguns hospitais e profissionais devem ter um "afeto especial" quando veem o meu nome numa petição.
Existe também o meu "afeto especial" direcionado a eles. Nada me faz ferver mais o sangue do que uma sala de espera de uma pessoa médica que acha que todo mundo pode parar a sua vida para encontrá-la por 15 minutos. Como boa taurina, a minha cara deve revelar o sentimento de raiva misturada com desprezo.
Louvo, por exemplo, Dr. Ricardo Bittencourt, cardiologista, que SEMPRE cumpre o horário ou até me atende mais cedo. Talvez porque seja taurino como eu, mas creio que é só humanidade mesmo, ainda que seja já médico conceituado e sócio de clínica, nunca foi picado pela Deusite (doença exclusiva de quem se sente um Deus a ser adorado pelos meros mortais).
As outras pessoas médicas (estou generalizando, até porque não costumo seguir com quem tem esse tipo de comportamento e, obviamente, me consulta com outras pessoas profissionais de verdade) acham pouco a demora e ainda nos submetem a salas de espera que são verdadeiras sucursais do inferno. Ou o ar condicionado está gelando demais ou de menos. O som da TV é quase inaudível, isso quando o canal não é alguma baboseira religiosa ideológica. As cadeiras desafiam qualquer coluna já sofrida. Desconfio até que nem as colunas saudáveis escapam incólumes.
Para piorar, como a demora é real, há uma superlotação e, com ela, a proliferação de celulares e seus irritantes vídeos e músicas reproduzidos sem fones. Neste exato momento, por exemplo, a irritação me consome num ambiente assim.
Não dá nem para trabalhar no ambiente virtual porque a conexão é desafiadora para o 4G com tantas antenas interferindo. Melhor nem tentar o wifi da clínica. Sites importantes simplesmente não abrem.
Há também os bate-bates nas cadeiras, os tremeliques de pernas que sacodem a fileira inteira, as conversas sem futuro que todo mundo escuta...
Enfim, uma verdadeira sucursal do inferno. E eu como creio firmemente que o inferno é aqui mesmo posso provar com um local como esse a minha teoria sem qualquer chance de refutação.
Tenho sofrido muito com isso e ando com uma vontade crescente de transformar a ginecologista ou o cardiologista no(a) especialista generalista da minha vida toda. Só se algo muito grave surgir nos exames é que devo procurar outra pessoa porque não suporto mais tamanha falta de empatia.
A mais recente é que a endocrinologista vai deixar de atender Unimed Natal. Aliás, plano de saúde não anda muito melhor que a demora do SUS. Muito pelo contrário. Há casos até em que o atendimento é melhor e mais rápido pelo SUS, como cirurgia de um filho de uma amiga comprovou, já que o único médico do plano dela se recusava a realizar o procedimento.
O texto terminou extrapolando nas reclamações e ficando meio desorganizado, mas é impossível não reclamar e se desorganizar numa sala de espera de uma clínica. Infelizmente.
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