sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Subiu o nível


O caminho do conhecimento é mesmo sem volta. Uma vez que se enxerga o que antes era quase impossível não há mais como "desver" a realidade. É com esta sensação que eu terminei de ver as 4 temporadas de Wynonna Earp na Globoplay.

Parece um contrassenso falar em realidade numa série de ficção especialmente sobre demônios e outras figuras cuja existência não é comprovada de forma concreta - e aqui tento não ferir as pessoas que creem e as que não creem - mas a série canadense de Emily Andras estrelada por atrizes e atores que eu jamais havia visto em outros trabalhos apresenta uma cidade (Purgatory, nome bem sugestivo) que vive uma maldição e uma família (Earp) que precisa lidar com ela mais diretamente.

São 4 temporadas de 12 episódios de aproximadamente 40 minutos que contam a estória de uma heroína absolutamente humana, cheia de angústias, julgamentos e erros em seu caminho. Todas as personagens são interessantíssimos de se acompanhar, até o líder dos demônios Bobo Del Rey, mais presente na 1.ª temporada.

Por falar em 1.ª temporada, ela é magnífica e isso causa um impacto nas seguintes, especialmente na 2.ª, quando tive a nítida sensação de que a estória se perdeu. Ainda bem que a 3.ª temporada consegue capturar o fio da meada em seu desenrolar e a 4.ª temporada, ou season finale, conseguiu recuperar muito do espírito da 1.ª e ousou elevar o nível, dando um belo final à estória.

Assistir a Wynonna Earp é ver muito tiro, muito sangue, muitos demônios e outros tipos de monstros fantasmas, tudo com muito bom humor e sexo, mas é também entrar em contato com uma magnífica estória de aceitação própria e das outras pessoas à sua volta, o que é muitíssimo bem representado por Waverly Earp, irmã da personagem principal, que desde sempre tem um olhar acolhedor para quem quer que seja, humano ou não, algo que parece tão em falta nos dias atuais. 

Além disso, enfim temos na telinha mulheres que detonaram as caixinhas que insistiam em nos limitar após tanto tempo de uma criação voltada para o mito de uma tal fragilidade feminina.

A beleza do ser humano, o que podemos alcançar quando aceitamos que a imperfeição nossa e dos outros e a força da mulher quando entende que é ela que traça seu próprio destino são fatores que saltam da tela em Wynonna Earp e, pelo menos para mim, impedem que eu volte a assistir de bom grado a qualquer show a que falte pelo menos um dos aspectos dessa realidade tão sufocada até aqui.

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