Faz tempo que não escrevo por aqui sobre minhas divagações diárias. Falta tempo mesmo. Também falta entusiasmo para digitar, seja no computador, seja na tela do celular. Bom mesmo é pegar papel e caneta, mas aí tem que transpor para cá se a intenção for publicar.
Muitas coisas me fizeram pensar em escrever. O calor, o ano novo, a saúde... A última coisa foi ter visto o preço dos ingressos de um show de Ivete Sangalo aqui em Natal. Tem de R$ 3 mil. Eu até me perguntei se vinha alguma barra de ouro autografada. Ivete - ou quem vende seu show - mira Beyoncé, Taylor Swift, BLACKPINK e demais shows internacionais, mas esquece que essa galera quase nunca vem aqui e, quando vem para pouquíssimos shows, é remunerada e remunera seus contratados internacionais em dólar, bem mais valorizado do que o real. Ivete é remunerada e remunera em real mesmo, mas resolveu cobrar na proporção do dólar. Pobres fãs que vivem de salário no Brasil.
Escárnio mesmo é que há uma categoria de ingresso chamada "jovem baixa renda" por R$ 150. Por favor, alguém me explique como uma pessoa jovem de baixa renda pode pagar R$ 150 num ingresso para um show se sua família tem que se virar com meio salário mínimo por pessoa a cada mês (critérios do CadÚnico)? Se é para ter "jovem baixa renda", que os ingressos sejam doados/sorteados, ainda que seja com número atrelado às vendas de outros setores.
O que falo aqui de Ivete não é pessoal e serve para qualquer outra pessoa artista com práticas semelhantes de preços. Sei que a pandemia maltratou muito o setor, mas querer esfolar a pessoa fã, que costuma sacrificar muita coisa em nome de sua paixão artística, para recuperar prejuízo de meses num único show me parece de uma crueldade sem tamanho.
E escrevo este texto depois de ver Ivete protagonizar merecidamente o Carnaval, festa popularíssima que é a cara do povo brasileiro. Ela enquadrou a pastora do apocalipse ao vivo em rede nacional, caiu nos braços da galera numa pipoca da muvuca mesmo e ainda impregnou a mente de cada uma das pessoas deste país com os versos "Ah, bebê/ É a Veveta que tá no comando/ Macetando, macetando, macetando..." (tenho certeza de que você leu cantando).
Com tudo isso e por tudo isso, ela precisava mesmo esfolar no preço dos ingressos de seus shows?