Ser brasileira, fã de futebol, mas opositora ferrenha de uma copa disputada num país que trata mulheres e gays como subpessoas não é nada fácil. A gente anuncia um boicote e todo mundo se empenha em ver o furo dele.
Hoje foi demais. Até o almoço foi preparado em cima da hora do jogo, que começou comigo lavando a louça. Em poucos minutos, liga minha amiga Elisiane, desesperada porque estava presa no trânsito e não conseguiria ver o jogo se insistisse em ir para casa, pedindo para ver o jogo aqui em casa. Janaina adorou.
Eu ainda estava lavando a louça quando Elisiane chegou. O almoço já saiu no intervalo do jogo. Um almoço aqui em casa com Elisiane ao som de Galvão Bueno estressado porque o Brasil não abre o placar é uma experiência para ficar registrada na memória por muito tempo de tão inusitada.
O jogo mesmo só contou com a minha atenção plena depois dos 62 minutos.
Para completar, o Brasil conseguiu sua primeira vitória contra a Suíça numa copa. Na passada, ficou no 1x1. Como já tinha gente chorando pela ausência de Neymar, o resultado mostrou de novo que o Brasil não depende mais dessa mala sem alça. Como na estreia, dois bonitos gols sem a participação dele, embora só um tenha sido validado. E antes que alguém puxe a carta das eleições para a antipatia que Neymar causa em mim, eu antecipo que minha questão com ele vem de longe, desde os tempos do Santos. Em copas então, a questão é desde aquela frescurite toda para sua convocação em 2010, época em que dei início ao Só Futebol? Não!. É bom jogador, mas não passa disso.
No mais, Janaina já está doidinha para o jogo de sexta-feira. Ela usa uma tática de guerrilha, com a coincidência dos jogos da copa com os horários das refeições. Não creio que meu boicote resista mais por muito tempo. Mas esta copa jamais me trará o gosto que tive em todas as outras que já acompanhei na vida. Espero que a do próximo ano, na Austrália e na Nova Zelândia, me faça esquecer de vez o desgosto de ver uma copa disputada num país que desconhece direitos humanos.