Não escrevo mais com tanta frequência sobre o América. O desgosto não deixa. Dentre tantos motivos para tamanho desgosto, cito apenas um, para não me alongar mais do que já vou me alongar: É muito mais apego da parte de quem dirige esse clube por empresários de futebol do que por sua própria torcida.
Há anos falo da roda viva de jogadores e, principalmente, de técnicos. No ano passado, por exemplo, demitiram um com 3 rodadas da Série D. Neste ano, um outro foi remanejado para outra função após 2 rodadas da Série D (1 vitória em casa e 1 empate fora).
Neste ano, por sinal, as coisas estão bem piores nesse quesito, já que os dois técnicos removidos assim o foram após resultados que não eram derrotas e quando parecia que as coisas estavam mais ou menos organizadas na direção certa.
Se o problema fosse só esse, até que teríamos mais do mesmo. Mas parece que Souza ficou com saudades dos tempos de Beto Santos e inventou um treinador de currículo sofrível e de conquistas (?) longínquas no tempo.
Mas não é só. O cara deu entrevista falando no rival, exaltou o fato de um jogador de seu time abrir um corte na canela num treinamento e ficou de fora do banco de reservas num jogo do Brasileirão porque até hoje - 30 de abril de 2022 - não havia tomado sequer uma dose de vacina contra Covid (eu, por exemplo, mais nova do que ele, já tomei 3 doses).
Não para por aí. Ele ainda vai ficar de fora de mais partidas porque precisa completar o esquema vacinal, exigência do regulamento da competição da CBF.
Não surpreende que o time tenha conhecido a primeira derrota na competição e logo dentro de casa.
Vejam que os dirigentes do América perderam qualquer noção do que seja humilhação/vergonha para uma instituição centenária que já disputou até competição sul-americana. Contrataram um técnico com quase nada a oferecer no futebol atual e do nível que é disputado mesmo na Série D e ainda vão fazer o clube lhe pagar salário para ficar dando pitaco da arquibancada porque nem sua documentação vacinal conferiram.
O desgosto só aumenta. A torcida, coitada, quando não se afasta, fica servindo de massa de manobra, falando por um e por outro, pedindo a cabeça deste ou daquele, na doce ilusão de que os problemas do América são provenientes das decisões nas quatro linhas.
É inacreditável o buraco em que enfiaram o América e mais inacreditável ainda que se tenha que ver um ídolo do clube agora empenhado em cavar mais esse buraco. E com requintes de crueldade.
Nunca na vida imaginei marcar outros compromissos bem para o horário do jogo do América, logo eu que saí correndo da missa de minha formatura para ver um jogo de estadual em andamento na época.
É que esse não é mais o América. É só um joguete nas mãos de quem só pensa o futebol-negócio. A paixão, a tradição, essas são massacradas sem a menor cerimônia. Do que resta do clube que amamos e outrora Orgulho do RN, tudo vai sendo transformado numa caricatura sem graça que ofende os brios de quem torce de verdade.
Pior é saber que a vergonha de amanhã sempre tem potencial para superar a desgraça vivida nesta semana. É este o fundo do poço em que jogaram o América e sua apaixonada torcida. E é este fundo do poço que segue sendo cavado.