Entender o que se passa no América não é para amadores. O clube fica décadas com um estatuto do século passado, precisando de adaptação às normas do Código Civil (2002), da Lei Pelé (1998) e da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (2015) e resolve numa terça-feira (segundo a data da resolução) que vai escolher seu novo estatuto na segunda-feira seguinte por um "x" numa cédula enviada por email, sem discussão e sem dar conhecimento aos conselheiros do que exatamente e aprofundadamente eles estão escolhendo.
Aí a eleição acaba e o clube não anuncia o resultado oficial. Somente no dia seguinte, o clube anuncia que apenas 44 conselheiros votaram para definir o futuro do América. Desses, 27 escolheram a proposta original que, dentre outras coisas não menos importantes, não permite voto ao Sócio Torcedor (este precisa ficar associado durante 4 anos para ter a possibilidade de troca de categoria para o Sócio Proprietário pagando uma joia de R$ 2.500 e esperar mais 12 meses a partir daí para poder votar e ser votado - isso se já tiver sido conselheiro...).
Acrescente-se que o voto não é direto na proposta original: escolhe-se uma chapa para o Conselho Deliberativo e esta escolhe o presidente e o vice.
Pois bem. Aí o América nessa publicação do resultado afirma também que "A principal mudança na carta magna do clube envolve o Sócio Torcedor que poderá participar diretamente da vida política do América após dois anos de vínculo ininterruptos, de acordo com a proposta eleita."
Hmmm? Quando a proposta do clube passou a ser voto direto após 2 anos? Quando essa proposta foi distribuída antes da votação?
Para piorar, a explicação veio agora de manhã no blog de Marcos Lopes:
Com a vitória da chapa do CD estava claro que o sócio-torcedor teria que passar quatro anos sem nenhuma interrupção para só então ganhar direito ao voto [Ainda tinha que ter sido conselheiro e ter virado sócio proprietário há pelo menos 12 meses].
Diante da repercussão negativa, o presidente do clube, Ricardo Valério, conversou com José Rocha, presidente do Conselho Deliberativo, e conseguiu fazer com que fosse diminuído para 2 anos o prazo.
Como é que é? Houve uma mudança no estatuto após a votação sem que houvesse nova votação? Onde está determinado que uma conversa do presidente com o presidente do CD é suficiente para alterar um estatuto?
Era justamente para evitar esse estado eterno de ilegalidade no América que a votação deveria ter sido precedida de várias discussões de todos os projetos para que O MELHOR PARA O AMÉRICA fosse alcançado com um estatuto para durar pelo menos mais 100 anos. Mas a publicação do clube e de Marcos Lopes provam que quem determina mesmo o futuro do América é tão somente (e exclusivamente) o presidente do Conselho Deliberativo José Rocha e que o eststuto escolhido não aguentou nem 24 horas (nele é previsto prazo de 5 anos para qualquer alteração após sua aprovação) para ser modificado, já com desrespeito ao que ele mesmo estabelece.
Vale ressaltar que, até agora, o clube não se deu ao trabalho nem de publicar seu novo estatuto para conhecimento de todos, que segue um mistério, já que novas alterações podem surgir em novas conversas.
Ou seja, minha gente, está tudo errado e parece que não há a menor vontade de consertar dentro da normalidade: discussão exaustiva de todas as propostas e votação pelo Conselho Deliberativo. Não sei como o América resistirá a esse estado de coisas.
P.S.: é tanta coisa atropelada e absurda que é quase impossível evitar confusão. Ernesto acabou de publicar no Twitter o lembrete de que o prazo de 5 anos é para revisão geral do estatuto. Emendas/reformas podem acontecer a qualquer tempo, desde que - imagina-se - seguindo os dispositivos estatutários.