Se antigamente as paredes tinham ouvidos, na era dos smartphones, assistentes residenciais, smart TVs e carros conectados, tudo tem não só ouvidos, mas olhos bem abertos.
Sim, somos espionados o tempo todo pelas redes sociais. Já comentei várias vezes sobre um determinado quadro antigo do programa americano de comédia SNL que sempre aparece como sugestão no meu YouTube quando comento com alguém sobre como gosto dele e pretendo mostrá-lo a essa pessoa.
Também não surpreende mais ninguém o fato de pesquisar algo no Google e surgirem mil anúncios ligados ao que foi pesquisado no Facebook e nas outras redes.
Todavia, o que ocorreu na semana passada comigo foi a confirmação de como a espionagem segue o tempo inteiro e em todos os aspectos.
Numa arrumação de casa sem fim começada ainda em 2020, a cada dia discuto com mamãe e Janaina o que fazer com algumas coisas que parecem sem prazo definido para consumo. Doação, coleta seletiva, lixo mesmo, outros locais para manter a guarda, tudo vai tendo um destino após análise.
Só que na semana passada, passamos a discutir o destino de algumas bebidas, vez que festas e comemorações anteriormente tão comuns aqui não têm mais a menor previsão, nem mesmo otimista, de acontecerem.
Dentre tais bebidas, uma garrafa aberta de whisky. Faz uns 7 anos que deixei de beber radicalmente qualquer tipo de álcool, tendo voltado ao consumo de forma raríssima há uns 2 anos, mais como forma de acompanhar Janaina e/ou celebrar algum momento especial em casa.
Sem muito destino, brinquei com ela que tomaria uma dose de whisky a cada noite, tendo depois trocado a sugestão para algo mais sério, lembrando de algo parecido que meu cardiologista sugerira também há 2 anos: uma dose antes de dormir sempre que estivesse com crise de cefaleia tensional, uma desgraça sem controle depois que se instala.
Gente, no outro dia, quando abri o Facebook, lá estava uma propaganda do Old Parr. Quase caí para trás porque nunca havia acontecido algo parecido. Mais um pouco, surgiu outra oferta de whisky num clique e retire de um supermercado daqui. E ressalto que as ofertas só surgiram nas minhas redes sociais, apesar da conversa envolver outra pessoa.
Ou seja, a captação de uma conversa ambiental é feita descaradamente, é acurada o suficiente para saber quem está falando e sabe-se lá Deus qual é o freio disso.
Vou revisar todas as recomendações de segurança e privacidade de todos os aplicativos, retirando as permissões de acesso a câmera e microfone, por exemplo, mas será isso suficiente? Temos mesmo algum controle disso?
A sensação de que estamos sendo espionados o tempo todo só cresce e é certo de que, mais cedo ou mais tarde, teremos que lidar com isso em busca de segurança e privacidade, mas somos mesmo capazes de enfrentar o império das redes sociais, que já nos escravizou há muito tempo?
A preocupação a esse respeito no mundo oficial já existe, mas não sei se as pessoas no dia-a-dia têm pelo menos ideia do perigo que isso representa tanto nas mãos de empresas como de governos, principalmente os autoritários.
Como nos defenderemos eficazmente disso é questão que precisamos responder desde já.