2020, mesmo ainda não tendo chegado ao fim, testou todos os limites do ser humano. Fomos trancados em casa e só saímos com máscaras, perdemos pessoas queridas, saúde, emprego, renda e, em muitos momentos, a esperança de viver.
O contato social, presencial, foi perigosamente substituído pelo convívio digital. Os níveis de ansiedade e estresse chegaram a um ponto talvez jamais experimentado pela maioria de nós. Os danos são indiscutíveis, embora nem tenhamos ainda ideia precisa de sua extensão.
No meio de tudo isso, uma polarização intolerante que vem de antes, mas foi aumentada exponencialmente pelo ambiente de incerteza de uma pandemia e uma eleição desgastante sob todos os aspectos na maior potência do mundo.
O sentimento que parece ser coletivo é o de exaustão. Estamos exaustos, esgotados. Tememos o que não sabemos e esperamos o que não temos certeza se virá. Estamos à beira de um colapso como indivíduos.
A cada postagem no Twitter ou no Facebook, a renovação dos processos de alerta/defesa. Não há relato médico ou científico de que isso seja em alguma medida saudável ou pelo menos sustentável.
De vez em quando, ouço/leio o mesmo lamento: estou cansado (a) das redes sociais. É tão somente a constatação dos prejuízos causados à nossa saúde por essa exposição exarcebada a julgamentos.
Sim, julgamos e somos julgados a cada renovação da timeline, ainda que opiniões sejam livres e possam mudar ao sabor dos ventos. Queremos um mundo de concordância e levamos a discordância como ataque pessoal. Viramos gladiadores sempre a postos para lutar. Isso não pode fazer bem a indivíduo algum. Não mesmo.
2020 pode ser o ano em que passaremos a enxergar que há muito mais a viver do que checar indefinidamente timelines. Ou talvez 2021, quando enfim retomarmos um curso mais apropriado em nossas vidas. É possível que voltemos a valorizar o real, o palpável, não a representação, a foto, a filmagem, o virtual.
Até lá é respirar, inspirar e relaxar. Evitar embarcar em arenas de gladiadores de opinião é mais do que necessário. Deixar de lado o celular em troca de atividades de lazer descompromissadas, como não fazer nada, ou ler um livro de literatura, ouvir uma música por ouvir, ou jogar um jogo de tabuleiro, rir da piada de um amigo ou parente, brincar com os pais, os filhos, os pets, observar a natureza sem hora marcada.
Nossas mentes clamam por um refúgio desse ambiente combativo ao extremo. Respirar, inspirar, relaxar. Vamos em busca da tranquilidade perdida antes que seja tarde demais. Por nós e pelos outros. Pela vida.
P.S.: este texto foi originalmente construído com uso de papel e caneta.