Estou longe de ser especialista, mas sou curiosa e adoro informação. E se o assunto é tão palpitante quanto o mistério do Sars-Cov-2 e a Covid-19, logicamente que o interesse cresce, até por questão de sobrevivência mesmo.
Seguindo um pouco com o assunto do podcast de hoje (
O que já sabemos), deixei o tema da imunidade de rebanho para ser tratado por escrito por absoluta falta de tempo disponível.
Na verdade, nem sei se devemos mesmo usar o termo "imunidade de rebanho" ante a realidade que os simpatizantes bolsonaristas costumam ser pejorativamente denominados de "gado", e isso causaria uma ambiguidade inaceitável. "Imunidade coletiva" seria mais adequado. O problema é que o primeiro termo tem uso mais espalhado e é de maior compreensão.
Essa imunidade é um freio para epidemias em geral. Normalmente é atingida, a grosso modo, quando entre 40-80%, a depender da epidemia, da população já desenvolveu anticorpos, seja por já ter superado a doença em si, seja por vacina, contra o agente causador da doença em questão.
No Jornal da Globo da última segunda-feira, o professor Eduardo Massaud, da Fundação Getúlio Vargas, explicava que Manaus já sente os efeitos dessa imunidade, mesmo a porcentagem não sendo a ideal para a população toda. É que o isolamento tem deixado de 40-50% da população em casa, colocando isso ou um pouco mais nas ruas, expondo-se à doença. Calculando-se a porcentagem então apenas na população que está nas ruas, ele afirmou que os efeitos da imunidade de rebanho já são sentidos em Manaus e já, já em São Paulo e Belém.
Sobre Natal, ele afirmou que, pela ocupação de 100% das UTIs, em mais 1-2 semanas, a cidade também atingirá os efeitos da imunidade de rebanho e as novas infecções devem cair.
Segundo ele, com a reabertura, a tal segunda onda vai então atingir os 50% isolados da população, sendo necessário novo alcance da imunidade de rebanho.
Pensando nisso e nos números dos testes rápidos da Prefeitura de Natal que revelaram algo em torno de 20% de contaminados dentre o universo testado, dá mesmo para imaginar que essa imunidade de rebanho esteja mesmo próxima daqui, com o pico de casos se aproximando. O problema me parece ser a reabertura da movimentação das pessoas já sendo vislumbrada para 24 de junho, sem nem mesmo alívio na ocupação das UTIs daqui, desafogo até para cidades do interior.
Há ainda um detalhe intrigante e desanimador nisso tudo: ninguém sabe por quanto dura a imunidade advinda da doença. Daí a irresponsabilidade de deixar que a população se infectasse livremente. Um estudo chinês de pequena escala revelou que assintomáticos perderam 81% dos anticorpos imunizantes após 8 semanas da detecção. No caso dos sintomáticos, a perda foi de 62%. Isso parece indicar uma imunidade de apenas 3 meses, mas os cientistas ainda pesquisam sobre a possibilidade de reinfecção, já que a memória do Sars-Cov-2 pode permanecer no sistema imunológico, teoricamente viabilizando uma resposta mais rápida em caso de novo contato, com manifestação mais leve da doença. Tudo ainda não confirmado, eu reforço.
Em casa ou não, precisamos mesmo é que a população abrace a causa do distanciamento social (2 metros), do uso de máscara corretamente e do toque nos olhos, no nariz e na boca apenas após as mãos terem sido adequadamente lavadas com água e sabão ou higienizadas com álcool 70%, que são nossas únicas armas até o momento.
Temos notícia de novos medicamentos para o tratamento em casos mais graves e também de vacinas que, caso se mostrem eficientes, serão disponibilizadas a pelo menos 2 bilhões de pessoas no mundo até o fim de 2020, o que pode enfim libertar a humanidade da maldição que se impôs sobre nós. Até lá, façamos nossa parte para que tenhamos menos vítimas da Covid-19 e de outras doenças por lotação dos leitos hospitalares: fiquemos em casa o máximo que pudermos, de lá saindo apenas para serviços essenciais.