Ontem fui conferir A Favorita no Moviecom (sim, um filme exibido às 18h50 ali e legendado! É para glorificar de pé, minha gente!)
Começo pelo que gostei. As atuações do trio que segura a história da Rainha Anne e de suas damas de companhia em luta por sua preferência e mesmo dos coadjuvantes é competente. Aliás, a cada dia me surpreendo mais com as atuações de Rachel Weisz, que não muda de cara, algo que não gosto em atores, mas consegue imprimir uma alma diferente a cada personagem que interpreta com a mesmíssima cara.
Olivia Colman arrasou. Nem lembro de tê-la visto em algum filme antes, mas é absolutamente convincente na interpretação de uma rainha insegura, um tanto quanto doida e atormentada por crises de gota.
Emma Stone não ficou para trás. Segue na balada de mudar de cara e também atuar de forma convincente.
Sobre o filme, alguém ter posto que era uma comédia dramática e histórica quase arruinou o que dele eu esperava. Não há comédia. Só o trailer mesmo consegue ser engraçado. Há um drama com levíssimas pitadas de graça, nada que faça alguém como eu gargalhar no cinema. No máximo, um sorriso no canto da boca.
Também não sei se alguém acha graça no espezinhamento de um ser humano por ganância ou mesmo instinto de sobrevivência num ambiente como a corte inglesa, tão bem ilustrativa de um mundo que pode ser bizonhamente cruel com mulheres, ainda mais quando é o poder que está em jogo.
O filme vale pelo que mostra da História, pela atuação de seu elenco, mas passa longe de ser um filme agradável ou de comédia. Não, ele é bem incomôdo por quase não ter uma única demonstração de afeto genuíno ao longo de suas 2 horas de duração.
O humor britânico é tido como ácido, diria até macabro em certas situações. Mas até para mim, que estou acostumada com as produções britânicas, e obviamente com o seu humor peculiar, não é possível enxergar esse olhar britânico cômico em A Favorita. É um filme duro, seco e assusta imaginar que seja inspirado em algo que de fato ocorreu. Mais: assusta imaginar que a realidade do século 18 não é nada distante nas relações do século 21.
O corte brutal no fim é mais um dos choques de realidade que o diretor impôs.
Enfim, A Favorita não é comédia e exige que você aguente o tranco da dureza das relações de poder expostas.