O novo técnico americano Luizinho Lopes falou sobre sua volta ao clube, o passado vitorioso no América, a pressão do cargo e a representatividade dos técnicos potiguares.
Volta ao América
É com grande satisfação que a gente retorna literalmente a uma casa que a gente teve grande convivência e bastante tempo. (...) Para tentar ser objetivo, queria dizer que é emocionante retornar aqui nessa condição que a gente retorna. Eu cheguei ao América em 96. O América, para simplificar esse objetivo, o América foi o clube que me deu oportunidade de me integrar em uma categoria de base em 96, ainda no sub-15. E aí sequenciei no sub-17, no sub-20. Foi o clube que me deu a primeira oportunidade de jogar profissionalmente também. Posterior a isso, fui estudar, fui me capacitar quando encerrei minha carreira ainda jovem. Recebi a minha primeira oportunidade de ser técnico de uma categoria de base, do sub-17, posteriormente sub-20, e coordenador das categorias de base também. E aí também tive a oportunidade de iniciar no profissional como auxiliar técnico. Então, aí já fala por si só. Agora chegou o momento de uma responsabilidade maior. Assumo para vocês até confidencialmente que isso era um sonho. Quando eu entrei no América para ser técnico do sub-17, eu objetivava no futuro ser técnico do futebol profissional. (...) Eu tinha convicção que isso ia acontecer. Tinha convicção absoluta porque nós percorremos um grande caminho ainda jovem, mas eu costumo dizer que a experiência não está relacionada só à idade, e sim à intensidade [com] que você vive as coisas. E eu venho vivendo essa minha profissão intensamente. Imaginava, de repente, que fosse um pouco antes, mais tarde, mas eu tinha convicção que esse momento ia chegar. E prontamente, quando me foi feito o convite, já mexeu bastante comigo. A gente entende, reconhece a dificuldade. O América não é um clube de Série D. Todas as vezes que aqui trabalhei, trabalhei em nível de Série B, nem Série C. Nos momentos em que estive no América, o América ou era Série A, ou Série B. Vejo nas dificuldades, que são naturais da posição do América, eu vejo uma grande oportunidade. Para mim, eu estou chegando num clube grande, centenário, de uma camisa reconhecida nacionalmente. Então em nenhum momento me passa que eu estou assumindo uma responsabilidade de um clube que é de Série D. Ele está, é uma questão momentânea. O América vai sair dessa e esse momento de dificuldade eu vejo uma grande oportunidade de mais uma vez fazer história. Todas as vezes em que aqui estive as coisas deram certo, então, isso também me motivou a estar aqui. (...) É uma curiosidade, mas eu faço questão de falar porque isso mostra uma ligação com relação à positividade: eu fui campeão(...) com relação a campeonato estadual, sub-15 como atleta, sub-17 como atleta, sub- 20... Se forem buscar aí na história, vocês vão encontrar. Como atleta, dentro de campo, 2 vezes - 2002 e 2003. 2002 com Adilson [Batista] e 2003 com Ferdinando [Teixeira]. Como auxiliar, como técnico de sub-20, coordenador, então, eu tenho uma história muito bacana e eu sonhava em concluir essa história agora como técnico de futebol profissional. Espero que as coisas aconteçam. Prometo muita dedicação, muito profissionalismo, cuidado diariamente com o clube, viver intensamente e respeito. O que eu tenho para falar para o torcedor é que trabalho não vai faltar, até porque eu vejo o torcedor como o principal patrimônio do clube. Esse respeito, essa dedicação não vai faltar. Junto a isso, espero que os resultados nos acompanhem porque a gente sabe que precisamos bastante para dar continuidade no trabalho.
Trabalho no Confiança
A gente que analisa desempenho e não só resultado... eu, como profissional de futebol, tenho que analisar desempenho. O resultado obviamente que fala, diz muita coisa, ou diz tudo no futebol, mas a gente que analisa desempenho, o trabalho no Confiança foi muito regular. Como você bem frisou, até aquele momento que nós viemos jogar aqui contra o América, nós saímos invictos do campeonato estadual. Nós fizemos 14 rodadas de G4. Eu saí do Confiança ainda no G4. Nós lideramos por 5 rodadas no 1.º turno. Terminando o 1.º turno, de 9 jogos, em 2.º lugar. Fomos até o jogo contra o ABC aqui na 2.ª posição. Foram 12 rodadas de G2. O que aconteceu no Confiança é que nós estávamos numa sequência de 9 jogos sem perder. Eram 3 vitórias, já na Série C, e aí vieram muitos empates. Mas nesses empates houve muito bons desempenhos também. Em consequência de uma sequência grande de empates, veio uma sequência de 3 derrotas. Mas se você pegar uma média de 30 jogos que nós fizemos, nós temos computadas apenas 5 derrotas. Então foi uma sequência crítica na competição. Criou-se uma expectativa muito grande pela campanha que o Confiança nunca tinha feito na Série C, mas foi um trabalho muito proveitoso, garantiu uma renda que o clube vai conseguir se programar para a próxima temporada - a própria Copa do Nordeste que hoje a gente lamenta em estar sem cota aqui. Enfim, a gente vai tentar de outras maneiras suprir essa falta. Mas foi um trabalho muito proveitoso, uma experiência fantástica porque é um clube que tem muita tradição, muita torcida. E em comum acordo a gente decidiu seguir um outro caminho e agora a gente está no América, o que é realmente o que nos interessa. Mas foi um trabalho muito regular em que houve ótimo desempenho. O que passou foi que eram 9 jogos invictos, e aí essa sequência de empates, quando veio, não veio uma vitória, e aí vocês sabem como é que funciona o futebol brasileiro. A gente entende isso. E a gente achou melhor - foi decisão até nossa em comum acordo - que um outro profissional desse continuidade no trabalho lá.
Contratações
Obviamente por ser um profissional de futebol a gente tem catalogado inúmeros jogadores, mas cada situação requer uma observação diferente. O Armando, executivo, ele já está no clube por cerca de um mês e já vinha trabalhando, já vinha apresentando nomes para a diretoria, e eu estou chegando agora e, a partir de agora, primeiramente, a gente vai analisar o que já estava sendo proposto. A gente já está começando as reuniões. A gente vai passar por um primeiro confronto de nomes para que a gente definir realmente uma ideia que caiba na nossa realidade em acordo com o que a gente projeto para o nosso modelo de jogo. A partir de agora oficialmente a gente vai começar a confrontar essas ideias, a estar em reuniões diárias para que, num segundo momento, possa começar a fazer contatos. Mas obviamente que nós temos uma característica, todo treinador tem uma característica. A minha não foge muito do momento atual do futebol brasileiro. (...) Nós vamos definir uma forma de jogar futebol no América e aí vamos definir características por posição e função. E que a gente consiga fidelizar isso para que, num contexto final, favorece aquilo que a gente tem como ideia de jogar futebol no América. Obviamente que já se tem nomes, eu tenho vários nomes. Agora eu deixo claro para vocês que eu estive 2 anos e alguns meses num clube em que eu tinha total autonomia para contratar, para montar elenco, mas meu compromisso a partir de agora é com o América. (...) Eu não tenho compromisso com jogador, nem muito menos com empresários, e sim agora com o meu executivo de futebol e com o América. Obviamente se algum jogador que trabalhou comigo encaixar na característica dos critérios que nós vamos adotar, pode vir a trabalhar. Facilita o entendimento da minha forma de trabalho, mas não me prendo a isso. (...) Quando eu fui para o Confiança, acho que um atleta já tinha trabalhado comigo. No Globo, nunca um atleta que já havia trabalhado comigo em outros momentos trabalhou comigo lá. A gente vai definir um modelo de jogo. Existe uma estratégia de montagem de elenco e a gente vai tentar ser fiel a isso. Acredito na grandeza da camisa, no nome do América, porque a gente tem um pouquinho mais de facilidade para trazer alguns jogadores de nível. Porque jogador que está no mercado de Série B, de Série A, até de alguns clubes de Série C, clubes que têm aportes aí de cotas, dificulta.
ABC e América com treinadores potiguares
Muito me envaidece porque a gente levanta mesmo a bandeira de ser um acadêmico, de ser local, de ter se dedicado muito até aqui. A história de Ranielle coincide muito com a minha, inclusive na cidade, no início, ele era um salonista, eu também era salonista, a gente da mesma época. Duelamos nas quadras, depois Ranielle, um estudioso, foi para a UFRN, eu também. Quando eu ainda era atleta, o admirava com relação à formação - ele logo cedo entrou na universidade, eu ainda continuei jogando, depois percorri, trilhei o mesmo caminho acadêmico. Fiquei feliz pelo sucesso do amigo, é um cara que eu gozo de respeito, sobretudo profissional. E é uma satisfação enorme. Isso aí para a minha área de treinador serve de exemplo para esses jovens que estão estudando. Tem várias universidades com curso de Educação Física e muitos almejam ser treinador de futebol, é um sonho de muitos. Eu fico feliz por representar ainda tão jovem e ter esse grande oportunidade, essa grande responsabilidade que eu quero encarar com muito otimismo, vendo nas dificuldades uma grande oportunidade. Esse é o lema que eu quero trilhar no América. Muito se chega falando das dificuldades, eu tenho que chegar otimista. Eu estou chegando agora, não estava participando de todos esses problemas. Quero ver nisso tudo uma grande oportunidade para a gente continuar fazendo história dentro desse clube.
Oportunidade para os atletas da base
Eu vivo o futebol intensamente, 24 horas. A partir do momento do acerto, a gente já começou a estudar várias situações. (...) Ainda não tive a oportunidade de sentar com o departamento das categorias de base, mas as minhas portas vão estar abertas 24 horas. Eu fui coordenador da base e tive a oportunidade de estar lincado com o profissional. Tenho uma história dentro da base. Obviamente que as oportunidades de estarem próximos, dos atletas serem vistos, de acompanhar o trabalho, isso aí vai ser diário, isso aí da minha parte não vai faltar. Agora a gente vai prometer utilizar realmente aquele atleta que tenha condição de atuar e fazer a diferença no elenco de profissionais. Uma coisa eu já adianto: a oportunidade de estar próximo do profissional... Por exemplo, a ideia que nós já tivemos junto com o diretor executivo, o elenco será reduzido, será objetivo. A gente tem que deixar margem, aquele volume para oportunizar aos garotos da base. A partir do momento que você monta um elenco inchado num clube dessa grandeza, você já fecha as portas até para treinamento. E minha metodologia, que é nossa metodologia - está casando muito com as ideias do diretor e do executivo também - é um elenco reduzido para que a gente oportunize os atletas. Eu venho de 2 clubes aí que atletas muito jovens se destacaram conosco. Recentemente agora no Confiança, Iago foi para o CRB, Léo foi para o Vitória. Eram jogadores que não tinham minutagem no clube e conosco tiveram minutagem absoluta , tiveram uma sequência de 90 minutos. O Léo hoje é titular absoluto do Vitória, inclusive já fazendo gols. O Iago já ascendeu para uma Série B. No Globo, nem se fala. No Globo a gente tinha um G1 e um G2 e o G2 era montado basicamente por garotos da base. Agora a gente está chegando. Vamos observar. Espero encontrar qualidade. O trabalho também do Jocian, do professor André também não têm muito tempo. Tem sido a curto prazo, 2 meses. Ninguém faz mágica. Um jogador de sub-20. para ele estar pronto, ele já tem que ter passado por um processo lá no sub-15, sub-17. De repente, a gente encontra alguns atletas que precisam um pouco mais de aprimoramento. Mas a aceitação é enorme. Quero encontrar juventude, jogadores com sede, com gana. Talvez por dar essa oportunidade e por observar, nos clubes por onde eu passei muitos atletas se destacaram. No período que passei aqui no América também na base, a gente conseguiu colocar os atletas no profissional. A vontade é enorme para que a gente consiga utilizar. Agora a gente precisa ter a qualidade, que o atleta realmente tenha condição de fazer valer jogar em uma equipe como o América. Eu lembro que em minha última passagem aqui, eu acho que muitos estiveram ali no elenco. Acho que Macena, Judson, Rivaldo, Gláucio, Jamerson, tinha uma turma que já estava ali ativamente participando. E tenho sentido falta disso no América, olhando à distância. De jogador que possa efetivamente fazer uma diferença. O atleta... você também não pode dizer "Ah, é um menino da base, vai jogar". Ele tem que dar uma condição da gente conquistar resultado. A gente também não pode agora jogar toda a responsabilidade nessa nova gestão que acabou de chegar, mas eu vejo com futuro, que a dedicação tem sido imensa. Ainda vou me orientar, mas a atenção será dada e, como eu falei, as intenções são as melhores com relação à base.
Pressão da torcida e limitação financeira
Um dos motivos que me fizeram vir foi a aceitação do torcedor. Obviamente que a gente precisa de resultado. Eu não me iludo, eu sou um profissional do futebol. E quando eu venho para o América, eu não venho porque eu não vou dizer para vocês "Ah, eu sou um torcedor do América". Eu tenho uma identificação muito grande com o América, mas acima de tudo eu sou profissional. Essa identificação com o clube me traz com muita felicidade, com muito otimismo, na minha cidade, num clube que eu tenho um carinho... o clube que me deu todas as oportunidades no futebol. Esse foi o primeiro momento de voltar. Em segundo, o torcedor, que nesse momento nos passa muita confiança, tem passado uma credibilidade muito grande, mas a gente sabe que vai precisar de resultados. Eu vejo uma grande oportunidade. A gente já não chega com desconfiança. Obviamente que sempre vai ter uma discordância ou outra, mas pelo que a gente tem visto nos bastidores, a gente acompanha tudo, no dia-a-dia na cidade, essa identificação, esse respeito mútuo que nós temos e essa receptividade do torcedor, que eu creio que é o maior patrimônio do clube... Eu me peguei observando as redes sociais do clube, você vai ver jogos da Série D decisivos, você vê uma coisa fantástica - o torcedor numa Série D recebendo a torcida como recebe na Arena das Dunas para jogos decisivos. Então, é um fator motivante, é uma grande responsabilidade, mas a gente que almeja chegar em um lugar acima, numa divisão acima, a gente não vai encontrar momento em que você não tenha pressão. O América é um clube grande. Eu estou me preparando para isso. Eu me preparei para isso, para esse momento. A dedicação, o respeito não vão faltar e eu espero que eu possa corresponder às expectativas do torcedor. E entenderei completamente que a torcida também não me veja como, porque eu sou do América, a gente vai ser blindado com relação à crítica. A crítica, ela é natural do futebol, do processo acho que no mundo corporativo. Se você não dá resultado, isso é natural. Mas uma coisa eu garanto: é dedicação exclusiva. E essa identificação muito contribuiu para vir. De repente, poderiam existir algumas coisas até financeiramente que pudessem ser uma coisa mais abastada, mas eu acho que o conjunto identificação-torcida muito pesaram para que abraçasse esse grande desafio, essa grande responsabilidade. Tenho convicção que eu venho sabendo exatamente do momento do América. E pronto para assumir essa responsabilidade.