Adoro dramas, de longe, meu estilo favorito de filme. Adoro cenas enormes sem uma palavra dita desde que estejam dentro do contexto da estória. Atores que encarnam bem dramas com naturalidade sempre ganham o meu respeito. E diretores que contam bem essas estórias dramáticas me cativam.
Ontem estreou aqui em Natal o drama Desobediência, adaptação do livro homônimo de Naomi Alderman. No mês passado, eu acho, li uma crítica muito boa a respeito dele na Veja, de autoria de Isabela Boscov. Li outra nesta semana na internet anunciando a estreia do filme no Cinépolis do Natal Shopping, na famosa sessão de arte (amo!).
Botei os olhos em Rachel Weisz e tive aquela sensação de que já a conhecia de algum lugar - no caso, um filme, claro. Forcei, forcei a memória e nada. Nada que o Google não resolva. Ela participou de muitos filmes, alguns bem famosos, mas que não contaram com a minha audiência, como todos d'A Múmia. Vi dois com ela: Um beijo roubado - também da sessão de arte, dessa feita com a cantora de quem sou fã Norah Jones e o ator Jude Law - e Oz: Mágico e Poderoso. Este último matou a charada. Ela fez uma das bruxas más, com uma impressionante atuação. Mas eu não a reconheceria nunca neste filme. Sempre aplaudo atores que passam por transformações na aparência para viver personagens. Daí a minha eterna crítica a Denzel Washington, que sempre tem a mesma cara em todos os filmes, a ponto de ninguém saber qual filme é qual.
A estória é centrada em sua personagem, a filha do rabino numa comunidade judaica ortodoxa de Londres que é expulsa do convívio por ter sido flagrada em romance com uma amiga e volta após muitos anos ao ser informada da morte do pai. Só por isso podemos imaginar o choque da volta. Agora acrescentemos que ela passou a viver nos EUA, especificamente em Nova Iorque.
Aparentemente, ninguém esperava por sua volta. Mas ela recebe abrigo do seu melhor amigo, que será o próximo a assumir a função de rabino por ser considerado filho espiritual do líder religioso. Ele vive o drama do amor fraternal que sente pela amiga e da pressão social para não lhe acolher. O ator aqui é Alessandro Nivola, também em trabalho magistral. Seu rosto também não me é estranho, mas o Google apontou um único filmaço que vi com ele, embora não me lembre dele especificamente: A Outra Face, no longíquo ano de 1997.
Devo alertar que a dose de drama ainda não acabou. Sabem quem é a esposa desse quase rabino? A amiga e garota do romance adolescente, muito bem interpretada por Rachel McAdams, do sucesso comercial Doutor Estranho e do aclamado (e ainda na minha lista) Spotlight: segredos revelados. O foco da estória se desloca para ela ao longo da exibição. A tensão cresce no filme tanto entre os protagonistas como no meio social em que se passa o ocorrido a partir daquela decisão do futuro rabino.
Não posso contar mais nada sob pena de estragar o enredo arrasa-quarteirão do diretor Sebastián Lelio. Mas não posso deixar de ressaltar que, para mim, o final merece o adjetivo cafajeste. Houvesse terminado talvez uns 10 minutos antes, eu não teria tal opinião. Sebastián Lelio conseguiu deixar a estória com um final tipo francês falsificado, com uma sequência sem justificativa, que só não põe o filme todo a perder porque as atuações são magistrais ao longo das quase 2 horas de duração. E se o enredo se perde no final, nem nesse momento as atuações desafinam. Porém, admiradores de drama devem se preparar para a decepção dos momentos derradeiros da estória.
Ressalto que não li o livro para saber se a decepção é exclusiva da versão para as telonas, embora eu ache difícil tal coisa num livro que alguém imaginou ter enredo suficiente para ser adaptado para o cinema.
De todo jeito, esqueça a cafajestada do final e vá ver esse filme marcante que tem cinco indicações em festivais internacionais se gosta de drama. Talvez o alerta diminua a decepção com as últimas cenas.