Na mesmíssima página 2 da edição de ontem, a Tribuna do Norte publicou carta de Luiz Carlos Amorim, escritor, fundador e presidente do grupo literário A Ilha a respeito de como tem se processado a alfabetização no Brasil. Confesso que, confirmada a tendência, temi pelo fim da velha e tradicional caligrafia. Não saberemos mais no futuro escrever com lápis e caneta?
Alfabetização no Brasil - Luiz Carlos Amorim (escritor, fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA
Meu sobrinho de sete anos, Ramon, saiu-se com esta, recentemente, quando lhe deram um texto escrito em letra cursiva para ele ler: "Como é que vocês me dão uma coisa com uma letra que não sei ler?" E ele tinha razão. Ele está sendo alfabetizado pelo sistema novo que inventaram, há uns quantos anos, para o ensino fundamental, segundo o qual a escola começa com as letras "de forma" ou "de livro". Ao contrário da sistemática antiga, na qual começava-se pela letra cursiva e só depois das famílias de sílabas, que hoje em dia já não se usam mais, quando a criança começava a ler, é que se entrava com as letras de imprensa.
E, comprovadamente, as crianças têm muito mais dificuldade para aprender a letra cursiva depois da letra de forma. A maneira que se usava antes era muito mais prática, tinha uma sequência que funcionava, mas os donos do poder, na última década, resolvera, "modernizar" a educação brasileira e as nossas crianças, agora, estão aprendendo a ler e a escrever com oito, nove anos, por osmose, ao contrário de antes, que era com sete anos. Então o Ramon tem razão de ficar indignado, pois se ensinaram para ele primeiro a letra de forma, que é quase quadrada, com muitos traços retos e poucas curvas, não dá para esperar que ele reconheça um texto escrito em letra cursiva.
Precisamos que o MEC reveja a nossa sistemática de ensino, pois não está funcionando. Precisam fazer mudanças para melhorar o ensino e não o contrário, como tem sido feito. Estão tornando o ensino cada vez mais fraco neste nosso país, com modificações que deveria melhorá-lo, mas na verdade o sucateiam cada vez mais. As escolas públicas precisam de manutenção, de equipamentos, pois muitas estão caindo aos pedaços, literalmente, e os professores precisam de qualificação e salários decentes.
A educação precisa de uma reforma de verdade, mas uma reforma que melhore o ensino público e até o particular, pois as modificações que foram feitas até agora foram só para encaminhar a nossa educação para a falência.