Atualmente, o futebol valoriza mais os atributos físicos de um jogador. É uma evolução (?) natural dos esportes coletivos. Primeiro, vence a democracia: joga quem quer. Com o início da popularização, passam a ser requisitados os que levam jeito para a coisa. Após a massificação, são os atributos físicos, especialmente a altura, que são escolhidos a dedo e determinam quem vai seguir carreira em tal esporte. Foi assim com o vôlei e com o basquete, para ficar nos mais praticados em terras brasileiras.
No futebol, até que essa constatação demorou para se firmar. Pelo menos aqui no Brasil. Talvez pelos muitos anos de péssima alimentação de nossa população, majoritariamente baixinha para os padrões de cada idade. Mas há tempos esse quadro vem mudando, principalmente aqui no Nordeste. E assim todos os esportes se encaminham para valorizar mais e mais o porte físico.
Baixinhos já não têm vez em certas posições. Em outras, um talento acima do normal ainda pode compensar. Além da altura, agora jogadores precisam aguentar o tranco. Independente da altura, o correto posicionamento do corpo permite a um franzino baixinho aguentar de pé o choque (lícito) de um parrudão. Quem joga basquete sabe bem o que estou dizendo. Um posicionamento bem feito por quem fica no rebote na hora dos lances livres, por exemplo, impede qualquer progresso do adversário, ainda que mais alto e mais forte.
Talvez por ainda ter um pensamento romântico, o futebol brasileiro seja cheio de jogadores estilo cai-cai. Ao contrário da realidade, esses jogadores não se preparam para tranco e vivem de alçar voo durante os jogos. Ainda há árbitros que sentem pena e marcam falta. Mas a maioria despreza a atitude de quem não se preparou adequadamente para um esporte de contato.
Nesta Série C, por exemplo, dos times que o América já enfrentou, o Cuiabá foi o que impôs mais dificuldades nesse quesito. Jogadores fortes em todos os setores e que se impunham fisicamente obrigaram o América a explorar também com maior intensidade o vigor físico de seus próprios jogadores. Não é surpresa, por exemplo, que tenha sido a melhor partida de Max nos últimos jogos. Também não é surpresa que o desempenho de Judson e Maguinho só tenha melhorado com a entrada de Rafael Estevam, que ajudou a equilibrar a defesa.
Os ditos leves não estiveram tão bem, embora também não tenham comprometido, com exceção do ótimo Thiago Potiguar, numa noite infeliz após contusão logo na sua entrada em campo.
No caso do ABC, grande destaque nesse quesito é Edno. Por onde jogou, goleiros costumam "quebrar" bolas nele, sejam tiros de meta ou chutões mesmo, em virtude de sua capacidade de se impor fisicamente.
Quem quiser ser bem sucedido no futebol precisa ter consciência dos novos tempos. Talento, especialmente o fora de série, é sempre bem-vindo. Mas um time só será vencedor se souber dominar fisicamente o jogo. Fora disso, vira presa fácil, como se um time profissional jogasse contra um das bases.