Logo após o jogo América 1x3 Vitória, o técnico do time baiano Ricardo Drubscky desabafou em sua entrevista. Ao ser perguntado por nossa Ana Karla Martins (salvo engano) a respeito da pressão que vinha sofrendo e da iminente demissão caso não houvesse vencido o América, um sorridente Drubscky fez praticamente um manifesto sobre a situação dos treinadores no Brasil.
"Em apenas um mês de competições no Brasil já tivemos 70 treinadores demitidos.", afirmou o comandante rubro negro. Drubscky falou bastante sobre o assunto. Disse que era por isso que o futebol brasileiro vinha em queda, já que não se produzem frutos desse jeito. E reforçou seu ponto de vista com o fato de que não há um único técnico brasileiro trabalhando no continente europeu.
Olha, nunca fui fã dos trabalhos - vencedores, diga-se de passagem - de Drubscky. Ele aposta alto na defesa. Mas mudei meu conceito sobre ele após essa entrevista. Aliás, o Esporte Interativo deveria ter gravado para fazer um programa de debates a partir dela.
É de fato inadmissível que um clube contrate um treinador para uma pré-temporada, faça todas as suas contratações e dispensas sob seu aval, enfim, entregue seu destino às mãos dele e apenas com um mês de trabalho, ou alguns empates e uma derrota, simplesmente decida mudar tudo. Puro amadorismo brasileiro.
Há muito eu defendo que as contratações devem ser feitas por convicção no trabalho de alguém, não pelo salário ou pelas relações com diretores e empresários. Mas aqui no Brasil as coisas não acontecem assim.
Perde o futebol, porque o treinador já entra para não perder pois sabe que uma derrota pode lhe custar o emprego.
As finanças dos clubes também sofrem pois todo um trabalho montado sob determinada base será totalmente reformulado a custa de novas dispensas e contratações.
O mesmo ocorre com o jogador, seja profissional ou da base. Se em dois jogos ele não agradar, já é hora de demiti-lo. Nunca se pensa em adaptação ao esquema do treinador, ao clube e mesmo à nova vida em outra cidade, às vezes de clima diferente, ou na diferença marcante entre futebol de base e o profissional. 2 jogos são o limite. Não agradou? Rua.
Num campeonato qualquer, apenas 1 será campeão. É a regra. Não podemos ter 20 campeões no Brasileirão, por exemplo. Mas será que isso quer dizer que os outros 19 não prestam? Se tivermos 20 equipes do mesmo nível de futebol (uma utopia ante a realidade de abismo financeiro entre os clubes preferidos da TV e os do RN, por exemplo), teremos uma que será campeã e outras rebaixadas, ainda que todas vençam em casa e percam fora, cabendo ao saldo de gols definir a diferença.
É um rebaixamento um fim de mundo? Ou a perda de um título? Não seria desgraçadamente pior um clube se afundar em dívidas e dilapidar seu patrimônio?
Tudo no futebol brasileiro passa pelo tal planejamento, que não existe. Vou ficar só aqui pelo América mesmo. Quantos jogadores foram dispensados sem merecer nem 5 minutos de uma partida oficial? Como se desenvolve um trabalho assim?
No Ceará, Dado Cavalcanti foi demitido porque o time, que estava invicto, não convencia. Por que acreditaram nesse treinador para o início da temporada, então?
É preciso que dirigentes deem mais a cara para bater e, a exemplo dos europeus, não demitam treinadores. Contratou errado? No fim do ano corrige-se o problema. O mesmo pode ser dito em relação aos jogadores. Vamos dar mais tempo ao tempo. Lembro bem o exemplo de Isac, cuja cabeça cansei de pedir por aqui por não saber dominar uma bola, e no fim ele foi artilheiro da Série B. Daniel Costa é o mais recente. Por dois primeiros tempos ruins no ano passado, sua cabeça já estava a prêmio. A bola da vez, embora eu não tenha a menor ideia se ele de fato pode melhorar, é Magalhães. Mas conhecendo a torcida e Roberto Fernandes, o coitado não entra mais nem que o treinador só tenha mesmo ele para completar 11.
Tá jogando mal? Banco. Mas partir para dispensa sem dar pelo menos uma oportunidade soa cruel, principalmente para as finanças do clube.
Enfim, defendo mais estabilidade para o clube numa temporada. Técnicos devem cumprir seus contratos até o final e devem trabalhar com o que têm disponível, sem preconceitos. Não são eles professores? Pois desenvolvam seus alunos sem preferência porque é assim que faz um professor de verdade.
Se o barco vai afundar, paciência. Cabia mais discernimento lá no início da temporada. Só não dá para vivermos com essa ciranda de técnicos e jogadores e esse clima eterno de especulação sobre dispensas e contratações. Não há trabalhador que goste disso nem empresa que aguente a sangria de seus cofres. Também não há desenvolvimento sem o mínimo de continuidade.