Desavenças entre conselheiros de um mesmo clube são mais do que normais. Mas o bate-boca entre o diretor com poderes de presidente do Abc Rogério Marinho e o conselheiro e ex-presidente alvinegro Leonardo Arruda subiu de tom. Primeiro, Rogério Marinho batendo forte na oposição. Em entrevista que a Tribuna do Norte publicou em sua edição de domingo na página 4 do caderno de esportes foi a vez de Leonardo Arruda responder também em tom forte. Ele falou sobre a atual adminstração e sobre o atacante Gilmar, agora defendendo o América. Confira alguns trechos exatamente como foram publicados, inclusive quanto a erros de grafia, acentuação e pontuação:
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Por qual motivo seu nome é mal visto pela atual diretoria?
Não sei. Na verdade Paiva Torres que ajudou a atual gestão conhece bem meu trabalho dentro do ABC. Talvez esses que estejam ai, no período que eu me encontrava nessa linha diretiva, talvez nenhum estivesse ainda no clube. Meu discurso sempre foi de total apoio ao ABC e nas vezes em que fui convocado, nunca faltei.
Poderia ser por que você questiona as contas do clube com alguma veemência?
Foi solicitado ao conselho deliberativo uma licença para o ABC negociar dez apartamentos cedidos ao clube na transação daquela área ao lado do campo do CT. O mínimo que poderia ter sido feito para dar algum tipo de satisfação aos conselheiros era prestar as contas do produto da negociação, mas isso nunca foi feito. Ninguém sabe até hoje o que se sucedeu aquela autorização. Não temos informações e não sabemos se já foram vendidos, quem os vendeu, quem comprou e por quanto comprou. Todas as informações de prestação de contas que pedíamos no fórum apropriado, que são as reuniões do conselho, nos foram sonegadas.
E o motivo do debate dos problemas do clube pelas redes sociais, quais são?
Isso passou a ocorrer pelo mesmo motivo, falta de prestação de contas. No início de 2014, o conselheiro Antônio Pinto de Medeiros Neto levou alguns problemas a debate reclamando da falta de transparência e informações sobre o que acontece dentro do clube. Ele listou uma série de respostas que a diretoria necessitava dar aos conselheiros e toda cúpula diretiva estava presente na reunião. Como disse isso ocorreu no início do ano passado e até agora não houveram respostas. Em março um grupo de 21 conselheiros, do qual eu fiz parte, com base naquilo que Antônio Pinto havia levantado, fez um requerimento para o presidente do conselho, Ivis Bezerra, para solicitar a direção do clube as explicações. A época coincidiu com aquela questão da multa contratual que o Roberto Fernandes tinha com o ABC, nós pedimos também essas explicações, lembro que Rubens Guilherme estava de licença, e simplesmente esse contrato do ABC com o treinador não foi encontrado no clube. A questão é muito difícil. Quem ousa pedir explicações atualmente é taxado de mal abecedista e torcer contra o clube. É justamente isso que levamos para as redes sociais.
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E com relação as ações na Justiça, existe mesmo uma enxurrada?
Essas ações quando a gente perguntava viviam dizendo que eram oito ou dez. Mas já passam de 50 casos reclamados na Justiça do Trabalho. Quem leu a decisão da juíza concedendo a liminar de desvinculação do atacante Gilmar do ABC, entende que as contas do ABC não estão equacionadas e que o clube tem muitos problemas. Não foi depositado um só mês de FGTS de Gilmar, isso não está ocorrendo de forma isolada, eu acredito. Então a gente não pode concordar com essas coisas por medo ou receio de ser chamado de futriqueiro pelo seu Rogério Marinho.
E o tipo de contrato assinado pelo ABC com Gilmar?
Confesso que isso foi o que me deixou mais estarrecido. Eu não acredito que bons abecedistas possam fazer um contrato da maneira como foi feito aquele com o atacante Gilmar. É de uma aberração sem precedentes esse documento. É um contrato secreto, tem cláusula de confidencialidade, que é uma burla ao contrato normal de um atleta registrado nos órgãos esportivos. Gilmar estava sem clube na época em que veio para o ABC, fez apenas alguns bons jogos, poucos. Mas acabou sendo tratado como a estrela da companhia pelo tipo de contrato firmado, que previam gatilhos de reajuste e que já se encontrava em R$ 45 mil, partindo de R$ 25 mil. Se o time subisse para a Série A ele ganharia ainda um reajuste de mais 20%.
O que a gente está vendo, pelo que vem sendo exposto, é um completo amadorismo na formulação desse contrato. Logo você considera a atual gestão como temerária ao clube?
Acredito que ela seja sim. Eles não estão tendo o zelo necessário com as questões do clube, a gente não sabe quem comanda o ABC na realidade. Além da premiação normal que todo atleta teria em caso de acesso, Gilmar ganharia mais R$ 30 mil do clube. Com medo de perder o jogador para outro clube, ainda fixaram a multa rescisória em R$ 600 mil e posteriormente para R$ 1 milhão em caso de ruptura do contrato. E o que acabou acontecendo: o jogador saiu para o maior rival sem pagar nada e ainda move uma ação trabalhista que pode chegar ao mesmo R$ 1 milhão contra o ABC. São certas coisas que a gente não concorda.
Você teve acesso a carta de renuncia de José Wilson, que era vice-presidente jurídico do ABC até o final do ano passado?
Tive e lamentei essa perda. Ele entregou o cargo no dia 24 de dezembro último e apenas esse final de semana foi efetivado outro para ocupar a vaga. José Wilson destacou o grande número de ações trabalhistas envolvendo o clube nos últimos três anos. Não foi Leonardo e nenhum outro mal abecedista quem disse isso, foi a pessoa que zelava e trabalhava diretamente para proteger o patrimônio do ABC.
Se a gestão é temerária, vocês não tem como pedir o impedimento da atual direção? O estatuto não prevê isso?
Eu não quero o impedimento de Rubens Guilherme, não tenho nada contra ele, mas acho apenas que ele está delegando competência demais e perdeu o controle da situação. Tenho a impressão que algumas coisas que estão ocorrendo no ABC, não sejam do conhecimento do presidente.