Primeiro, deixem-me falar dos acertos. Oliveira Canindé acabou com o esdrúxulo esquema de 3 zagueiros no América, coisa que nunca deu certo no time rubro. Também acertou ao escalar 3 volantes, especialmente porque alguns de nossos volantes conseguem jogar como quase meias (Fabinho e Val, por exemplo). Deu um tiro certeiro ao dar uma chance ao garoto Arthur Henrique na primeira partida da final contra o Globo. Um talento a ser muito bem lapidado pelo América.
Mas o treinador também teve seus erros - coisa natural ao ser humano. E eu faço questão de ressaltar que eu já apontei alguns deles antes mesmo da derrota para o Abc. Dois merecem destaque:
1 - mexer na escalação dos goleiros sem motivo. Andrey com grave contusão cedeu lugar para Dida, que deu conta (muito bem!) do recado. É certo que Fernando Henrique chegou por medo da diretoria de que Dida fosse um fracasso. Mas não foi, muito pelo contrário, fechou o gol no clássico anterior e na decisiva partida contra o Ceará e conquistou a confiança da torcida. Tanto que a maioria ainda não digeriu bem a escalação de Fernando Henrique - que estava sem clube antes de vir para o América. Aliás, foi o primeiro indício de que Oliveira Canindé sente a pressão de ser treinador do América e escala por nome.
2 - escalar por nome. Rodrigo Pimpão virou titular sem ainda estar numa condição física aceitável. O mesmo ocorreu com Max. E assim jogadores com condição melhor, como Adriano Pardal, foram preteridos da noite para o dia. De certa forma, foi o que aconteceu com as laterais, especialmente Wanderson. E isso nunca é bom indício para jogadores, ainda mais grupos fechados como parece ser o do América. Desestimula os reservas - que nunca entrarão - e cria uma incômoda zona de conforto para os titulares - que sabem que são "imexíveis".
Vamos aos fatos. Desde o primeiro clássico de Oliveira Canindé, que o time passou a apresentar uma característica extremamente defensiva. Laterais amarradas com Fabinho e Alex Barros. Não demoraria para que os atacantes sumissem do jogo. Ainda naquele jogo, o time só tomou as rédeas da partida após a expulsão de Isac. Bola no chão, de pé em pé, gol de Wálber, que já havia perdido a condição de titular com o treinador.
Cheguei a falar que o problema havia sido o esquema do Abc, que claramente entrara para não deixar o América jogar ante a falta de algo melhor para fazer. Fui sumariamente desautorizada por Rodrigo Pimpão na entrevista à Rádio Vermelho de Paixão, que afirmou categoricamente que o time jogou exatamente como Oliveira Canindé pedira.
De lá para cá, o América não convenceu em uma única partida. Passou a ser um time sem iniciativa de jogo, transformando as partidas em algo enfadonho de se ver. Foi uma verdadeira agonia assistir a América 2x0 Boavista, só para citar uma em que houve vitória.
Contra o Avaí, somente no fim do jogo o América voltou a ser América. Contra o Globo, lá em Ceará-Mirim, só no 2.º tempo. E nunca mais. Nem contra o Oeste, nem contra o Globo na Arena (muita gente pensava que o problema era o gramado ruim de outras partidas), nem contra o Abc. O América parece ser um time que entra em campo contando os segundos para que o jogo acabe.
Seria o cansaço? Desculpem-me os fisiologistas, mas jogar 2 partidas por semana não é motivo para que 11 jogadores desaprendam a jogar. Até aceito que o nível de pressão destes últimos jogos, todos decisivos, tenha influência no desempenho, especialmente após uma conquista. É até normal uma certa desmotivação. Mas um elenco no nível do América que chegou recheado de reservas como titulares à semifinal da Copa do Nordeste tem em si a solução. Quem tiver cansado peça para sair. Ou o treinador tenha peito de tirar. Será que ele tem? Se não tiver, vai ter que passar a ter!
Contra o Avaí, Thiago Chrystian fez uma senhora partida. Foi ofensivo em quase todo o jogo, tendo inclusive marcado um gol e quase feito outro. Eu até pensava que era Arthur Henrique por não ter visto as tatuagens. Análise do treinador sobre ele após a partida (chateado): "dar um chapéu não é o que quero. Quero que ele seja muito mais aguerrido do que foi hoje." Como? O treinador não gostou do jogador que serviu como válvula de escape do time e livrou seu time da derrota? Sinal de alerta ligado no máximo.
Aliás, este é o maior motivo de o América não jogar mais como antes: as laterais morreram. Ninguém passa mais para a linha de fundo. Quem ainda tentava isso era o ótimo Marcelinho, que no estadual não jogara nada, mas se encontrou do Globo para cá. Pela esquerda, Wanderson (o que houve com sua ofensividade?Ficou no Sudeste?) e Alex Barros revezam-se em enterrar o time na intermediária. Nada de linha de fundo - só bola pelo meio, feito time de pelada. Do lado direito, George Lucas conseguiu a proeza de não atacar e ainda servir de avenida para os últimos 4 gols que o América tomou (Oeste e Abc).
O time agora é obrigado a atacar pelo meio ou com os atacantes e Arthur Maia caindo pelas pontas. Para quem chutar ao gol? Fabinho? Jean Cléber?
Primeiro reflexo: sumiram os atacantes. Não importa quem seja o titular - não jogará bem. É fácil marcar pelo meio porque a defesa adversária tem sempre em seu campo de visão os atacantes e a bola. Em bolas alçadas da lateral, ou um, ou outro. Daí o desespero de se enfrentar um time cujas laterais são ofensivas. O América era assim. Era.
Ontem, o jogo que mais parecia antijogo pode ser resumido em dois lances. Os dois envolvendo Edson Rocha e Dênis Marques. Achei engraçado Edson Rocha ainda ter a cara de pau de gritar com alguém depois da lambança que proporcionou o primeiro gol. Acho que gritou com George Lucas. E quem gritou com ele? Ninguém. E a lambança se repetiu no 2.º gol. Pelo menos não gritou com mais ninguém. Não tinha mais moral para isso. Tanto que ninguém mais em sã consciência tocou a bola para ele. Era capaz de entregar o 3.º. Tanta moral para gritar com os outros, bem que poderia pedir para sair. Ficou calado. E o time totalmente entregue em campo, mais uma vez só contando os segundos para o jogo acabar.
Dizem que Ricardo Baiano (já negou) andou falando que o América perderia quatro partidas seguidas. Coincidência ou não, perdeu do Oeste, empatou com o Globo sem gols, e perdeu para o Abc, encerrando um tabu de mais de dois anos bem no dia da morte de Mãe Dinah. Vai completar a série e perder para o Náutico? Como diria Dona Milu, mistééééério.
De todo jeito, eu me pergunto: até quando Wanderson ficará brigado com a linha de fundo? Até quando George Lucas permanecerá com seu "me engana que eu gosto" na direita? Até quando Rodrigo Pimpão será escalado sem condição? Até quando Oliveira Canindé vai permitir que seus comandados passem o tempo a contar o tempo? Até quando o cansaço será desculpa? Até quando?
É na hora da pressão que se separa o joio do trigo. Então, solta as laterais, Canindé!