sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Decepcão

Um filme que tem Julia Roberts, Mahershala Ali, Ethan Hawke e Kevin Bacon - que eu não via há muitos anos - não poderia ser tão fútil, sem credibilidade e altamente superficial como O Mundo Depois de Nós, recém lançado pela Netflix. Uma total decepção!



Primeiro, uma direção altamente pretensiosa de Sam Esmail, que chega a imitar Hitchcock com o plano aberto, sem cortes, que chega ao detalhe da cena, além de preferir rodar a câmera alguma vezes para aumentar a sensação de atordoamento de quem assiste, como se isso fosse necessário.

Além disso, a estória é terrivelmente mal contada, e olha que não me refiro ao fato compreensível de que não há um fim definitivo e de que faltam informações desde o início, já que a intenção é realmente atordoar a audiência. O problema (alerta de spoilers a partir daqui) são as reações nada críveis de cada personagem. Um petroleiro atingiu a praia? Há gente morta em outra parte da praia vítima de uma queda de avião? Outro avião caiu na mesma praia? Todas as estações de TV e rádio saíram do ar? Nenhum GPS nem operadora de celular funciona? Um grupo de animais surge de repente? Nada compadece as personagens deste filme, que parecem viver no mundo da lua. Ninguém quer saber de nada, apenas da casa alugada para um fim de semana, cujo proprietário retorna no meio da primeira noite pelo caos que se formou na cidade.

A credibilidade é espancada sem dó. Quem reagiria assim? Alguém pode até argumentar que algumas pessoas reagiriam assim, mas num grupo de 6 pessoas, todas teriam um comportamento absolutamente alienado ainda mais em ambiente estranho (a casa não é da família maior e é apenas um refúgio de férias/fim de semana para a família menor)?

A sensação é de que quem escreveu a estória (que é livro também) tem certeza de que as pessoas da audiência são abestalhadas o suficiente para engolirem 2h20 de uma alienação tresloucada, à la filmes de terror em que as vítimas sempre tomam as decisões mais idiotas para fugirem da psicopatia em forma de gente que as persegue. 

Compreendo que houve uma tentativa de criticar o modo de viver da humanidade, que certamente precisa ser repensado urgentemente. Mas disparar críticas a esmo, sem qualquer profundidade (o que só é excepcionado levemente num diálogo da filha com o pai proprietário sobre racismo e noutro da mãe da outra família com essa mesma garota sobre o comportamento das pessoas), como uma metralhadora que não sabe bem qual alvo atingir, só transforma o filme num colcha de retalhos sem qualquer sentido.

Para piorar, o filme termina se prestando a exaltar como certas as pessoas que vivem de teorias da conspiração, estocando armas, construindo bunkers e que tais, mesmo que isso não seja garantia de nada no fim da estória. 

A cereja do bolo da decepção é que esse péssimo exemplar de filme que deveria servir de discussão teve como produtores o casal Michelle e Barack Obama. Nada é perfeito na vida, não é mesmo?

Emfim, fujam! 

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