Caseira ao extremo, às vezes sinto um certo sufocamento que só passa em alguma atividade ao ar livre. Foi assim que fui parar ao lado da Praça Pedro Velho, que insistem em chamar Praça Cívica (por quê?), na noite de sábado em busca da mais autêntica comida de rua.
E foi lá, desfrutando de um céu estrelado, que observamos um carro, depois outro, e depois uma moto chegarem de mansinho à praça.
"Que será que vão fazer?", indagou-me o comichão da curiosidade humana. Ficamos ali de olho naquelas pessoas, que pareciam se conhecer. Alegres, elas desciam dos veículos e se cumprimentavam, carregando sacolas e outros recipientes. "Seria um picnic no meio da praça e no meio da noite?"
Algumas crianças corriam como na minha época de brincar na rua. Olhamos de novo para os adultos e eles agora faziam uma roda com as mãos dadas e pareciam rezar. Já passava das 20h quando percebemos o intuito daquelas não mais do que 10 pessoas: levar comida e bebida para os moradores de rua.
Duas mulheres abordaram um senhor que dormia num dos bancos. Ele não pareceu nem um pouco incomodado em ter sido acordado para receber um recipiente que aparentemente continha sopa e uma garrafa de água mineral. Sabe-se lá se não era a única refeição daquele dia...
Ninguém tirava fotos ou filmava; era o momento que valia. Um outro levou vários recipientes para entregar em sua moto. Além da água, vimos refrigerante.
Não ficamos até o fim, mas foi alentador observar pessoas que faziam o bem sem olhar a quem, dando comida e bebida aos que tinham fome e sede. Que exemplo aquelas duas crianças, que não importunavam nenhum dos adultos para mexer em algum celular, vão levar para suas vidas!
Para nós, que acompanhávamos de longe, ver aquilo tudo ao vivo foi ainda mais inspirador. Como é lindo o ser humano sendo apenas humano!
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