Ontem, uma amiga queria me chamar para ver o jogo do Brasil amanhã. Como eu estava conversando com outro amigo, ela terminou perguntando a Janaina, que respondeu com uma pergunta: "É o vôlei?". A amiga explicou que era o futebol masculino e Janaina terminou explicando que eu não via mais.
Nesse momento, eu ingressei na conversa e ela me perguntou qual era o motivo. Respondi o óbvio: "A gente depois descobre que estava torcendo para um estuprador". Ela terminou lembrando da patota que se juntou para liberar o estuprador da Espanha.
A bem da verdade, meu desgosto com o futebol começou antes dos estupradores condenados. Ver jogo do Brasil se tornou chato, antes de tudo. Começaram a idolatrar gente que mais passava tempo rolando no chão. Isso num país cuja arbitragem não tem a menor ideia do que é um esporte de contato é a tempestade perfeita para jogos com pouquíssimo tempo de bola rolando.
A mediocridade grassou por todo lado. O América, única salvação, também entrou numa era de futebol zero. Jogos enfadonhos acompanhados com gente fumando em lugar proibido e em horários cada vez mais difíceis.
Veio a pandemia e me ensinou que havia vida além do futebol, embora, na essência, eu já soubesse disso há muito tempo. Tanto que este blog anunciou desde seu início há mais de uma década: Só Futebol? Não!.
Junte-se a isso uma chatice que sempre me acompanhou e que piora com a idade. Pronto, eis a receita para que eu hoje tenha o futebol como um mero traço do que era antes. Não anseio mais por jogo nenhum e nem tenho paciência de acompanhar mais 90 minutos (que viram 2 horas de desperdício da vida) sem conferir outra coisa totalmente diferente no meio do caminho.
Se antes eu amava ir a campo até por não gostar de acompanhar comentários/narrações mais do mesmo, hoje não tenho mais essa opção pela absoluta falta de cumprimento da lei que proíbe fumar em qualquer recinto delimitado, como um estádio de futebol. Sobrou justamente o futebol na TV, trezentas vezes mais chato do que o futebol in loco.
Agora ainda há o VAR escancarando o que eu grito há décadas: o problema da arbitragem brasileira é não saber patavina de interpretação de regra. Podem colocar 300 mil câmeras em campo e ainda assim, na esmagadora maioria das vezes, a pessoa que deveria aplicar a regra não terá a capacidade de compreender que condutas infringem ou não a regra.
A cereja do bolo do desgosto chegou com esse festival de apostas esportivas e os esperados escândalos que assolam clubes pequenos, médios e grandes. Agora, um jogador pode até apostar que ele mesmo leva um cartão amarelo ou vermelho. É demais, né?
Vejam que eu nem citei os supostos conluios de técnicos, empresários e jogadores para certos resultados infames, algo sempre comentado desde muito antes das apostas.
Mas demais mesmo é ver a ironia esfregada na nossa cara com a Arena das Dunas agora conhecida com o aposto inicial "Casa de Apostas". Desisto.
No saudosismo, eu me volto para esportes que parecem ainda não estar contaminados, como futsal, tênis, vôlei e até mesmo o futebol, só que o feminino, cujo jogo evolui para retomar a beleza que o masculino perdeu há mais de uma década. Por enquanto, eles me dão menos desgosto. Até o próximo escândalo envolvê-los numa aposta, num estupro ou numa vaquinha para livrar estuprador da prisão. Espero que não ocorra.