Não sou muito de festival de música. São demorados demais e, por vezes, atrasam demais para que contem com a minha paciência. Eu me lembro de um em João Pessoa para o qual aceitei ir depois de muita insistência das amigas. Tinha show de Biquini Cavadão. Demorou tanto que mais distribuí mal humor do que diversão. Minhas fotos felizes foram todas na chegada do evento.
Outra vez foi um show de Jennifer Lopez em Recife que tinha Ivete Sangalo na abertura e Júnior, irmão de Sandy, como DJ no encerramento. Caía uma chuva torrencial na capital pernambucana e o atraso indecoroso de Ivete Sangalo me deixou numa situação de hipotermia após 6 horas debaixo d'água que caía sem parar. No primeiro grito de Jennifer Lopez, deixamos o local para pegar o carro e voltar para Natal. O corpo não aguentava mais. Não dormi na estrada porque Deus não quis. Não sabia mais o que era reta nem curva a 60 km/h na estrada e só lutava para me manter acordada até chegar a Cabedelo-PB para enfim descolar um motel para dormir até a manhã seguinte.
As duas experiências traumáticas ocorreram há mais de 10 anos. Meu abuso de Ivete inclusive começou daí. Não suporto quem marca um horário e não cumpre.
Neste ano, uma amiga me apresentou ao Festival Pôr do Som & DoSol, que foi realizado no último fim de semana na Funcarte (Capitania das Artes) na velha Ribeira de guerra. Sempre tive vontade de ir a um festival essencialmente potiguar, mas as experiências anteriores e até o trabalho como professora me impediam de empreender uma aventura por horas e horas de show. Como a pandemia levou embora a professora deixando apenas a advogada, o caminho ficou mais aberto, e para minha sorte, Janaina me fustigou o suficiente para que eu encarasse a maratona. Enfim fui a um festival praticamente sem defeitos do início ao fim.
Primeiro, eu que cheguei atrasada nos dois dias, talvez por imaginar que sofreria o que passei na palhaçada de Ivete Sangalo em Recife. Azar o meu, que perdi um show bacana no 1.º dia (cheguei no finzinho) e outros dois no 2.º dia (precisei chegar um pouco mais tarde).
Segundo, o pessoal da portaria era absolutamente cordial com quem chegava, mesmo quando precisava impedir a entrada de algo ou inspecionar bolsas.
Os shows foram todos muito legais. Adoro não conhecer música alguma quando vou a um show de artista desconhecido para mim. Até a galera DJ também me surpreendeu. Natal e o RN têm artistas de muita qualidade, carisma e com repertório atrativo logo de cara.
Além disso, pela primeira vez, fiquei com uma inveja danada da geração Z. Ela cresce absolutamente consolidada no conceito de que o mundo é lindo em sua diversidade de estilos musicais, jeito de se vestir, orientações sexuais, identidades de gênero, o que produz uma mistura belíssima de acompanhar de pessoas sem o menor risco de algum olhar incompreensivo. De longe, essa constatação era unânime ao meu redor. Da patricinha à galera mais alternativa, todo mundo parecia super à vontade com seus pares diversos.
Minha grande reclamação vai para os valores cobrados dentro do festival. Vejo que a Arena das Dunas fez escola por aqui. Uma coxinha custava R$ 11! Uma lata de Devassa, a cerveja puro malte menos cerveja do mundo, R$ 7. A Heineiken, que se acha muita coisa, mas não amarra a chuteira de tantas outras, R$ 12. Nada de Spaten, a cerveja mais encorpada e anti-ressaca do mundo (e olhe que tem teor alcoólico bem superior à media, 5,2%).
Também havia muitos banheiros químicos, mas eu gostaria de ter tido acesso a banheiros físicos mesmo. Os químicos, imersos na escuridão, nos deixavam com duas opções: dividir o minúsculo espaço fétido com alguém muito solidário para segurar a lanterna do celular e, neste caso, enxergar toda a imundície, ou enfrentar a podridão absolutamente no escuro. Triste.
No mais, saí de lá com a certeza de ouvir muito mais música potiguar no Spotify porque gostei mesmo, por exemplo, de Sarah Oliver, e confirmei a opinião que já tinha a respeito de Luísa e os Alquimistas, para citar apenas duas bandas cujos shows me agradaram demais.
Espero por novas oportunidades e que elas venham com banheiros iluminados e limpos e com preços menos escandalosos de bebidas e comidas em seu interior.