Deixei de ser um alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado e depois de mais de 2 anos de pandemia enfim conheci a Covid-19 de forma mais íntima.
A primeira a adoecer foi mamãe. É preciso atenção a sintomas porque pessoas idosas quando têm febre, ela é sempre baixa, na casa dos 37° mesmo. Quando o termômetro indicou 37°, dei uma dipirona e já me preparei para levá-la ao pronto socorro. Lá os exames apontaram uma bronquite leve. Saiu com indicação de exame RT-PCR, xarope e antibiótico, e também repetir dipirona se voltasse a apresentar febre. No dia seguinte, o exame confirmou a suspeita: Covid-19. De lá para cá, basicamente apresentou um pouco de cansaço, tosse, coriza, dor de garganta, e mais nenhum episódio de febre. Melhorou progressivamente para meu alívio, mesmo com uma lista considerável de comorbidades.
3 dias depois, Janaina alertou que estava com coceira e ardência entre nariz e garganta muito mais intensas do que em crises de alergia. No dia seguinte, amanheceu normal. Acho que era mesmo alergia. De todo jeito, comprei autotestes para fazer em 3 dias para um diagnóstico mais certo. O dela revelou-se positivo com menos de 1 minuto, embora a gente tenha esperado o tempo normal para certeza (15 minutos). O meu deu negativo.
Ela passou a ter sinais mais evidentes neste dia, como febre, tosse, congestão nasal.
Isso tudo a gente com uma obra em casa porque um portão começou a ceder com as chuvas. No menor sinal de sol, a obra começou e, com ela, a chuva voltou. Foi o mais intenso estica-e-puxa que vi na vida. O estresse de ver algo não avançar, ou pior, quando avançava, ter parte levada pela chuva.
Já perto do fim, a chuva deu uma trégua de 3 dias (aqui mamãe foi diagnosticada) e a obra chegou ao fim e a textura pôde ser aplicada. Mas a tragédia veio na mesma noite da aplicação: a chuva desbotou quase tudo e levou parte da textura. Ainda há uma roldana a ser consertada no portão (estamos esperando todo mundo se curar).
Mas como Janaina não consegue ver algo para fazer sem ir logo fazer, ela tentou consertar o problema da textura pelo menos com o resto de tinta aqui. Todo dia em que tentou, choveu no fim, desperdiçando parte de seu esforço. A Covid-19 cobrou a conta também: a cada tentativa, a febre dava as caras. Enfim, me ouviu e se aquietou por uns 2 dias. Agora por exemplo, está de novo lá fora tentando consertar o que dá. É sem jeito.
Depois de 6-8 dias de sintomas de mamãe e Janaina, eu enfim senti um pigarro na garganta incomum, além de ardência nela. Nem peguei mais autoteste. Não precisava. Estava com Covid-19.
Não sei se um dia a ciência chegará a alguma conclusão, mas é interessante que eu tenha demorado tanto a me contaminar com elas confirmadamente doentes. Mais: a doença só se instalou quando meu período menstrual do mês se encerrou.
No dia seguinte, a febre chegou e não quis mais me deixar. Fui a única a repetir a dose de dipirona. Depois que a febre me deu uma trégua, fiquei normal, como quem tem uma gripe um pouco mais forte. O peito parecia se preparar para uma crise de asma. Além disso, espirros, garganta arranhando, um certo cansaço ao falar. No mais, vida normal. Segui com as atividades domésticas de sempre.
No 3.° dia, fiz uma micro lavagem de roupas para mamãe e, quando já estava no meio da louça do café da manhã, senti um cansaço pior do que o normal. Terminei a louça e me recolhi. Nada mais de atividades naquele dia, só repouso. A tosse (seca) começou a dar as caras.
Ontem, me levantei para tomar café da manhã e senti um cansaço que nunca senti na vida, a não ser nos momentos que antecederam meus poucos episódios de desmaio. Mas agora essa sensação não passava. Eu estava respirando bem, porém a fraqueza/cansaço era incessante e de forma muito, muito intensa. Pensei seriamente que ia morrer perto da hora do almoço, porque, além de não parar, essa exaustão piorou - não conseguia levantar os braços à mesa. Chorei imaginando uma internação e tudo que ela significaria para o resto da família. Basta dizer que Janaina me pedia o tempo todo para ir ao hospital e mamãe passou a fazer rondas intermináveis no meu quarto. Prometi que se piorasse para além do que senti na hora do almoço no mesmo dia ou não melhorasse no dia seguinte, eu iria ao hospital nem que o Samu me levasse.
Troquei o xarope de tosse seca (havia tomado só uma dose) pelo expectorante porque eu começava a ter sinais de sinusite, inclusive com olfato e paladar desaparecendo e voltando, ou ficando confusos, e comecei as lavagens nasais.
Quando a noite chegou, a tosse quis piorar (na verdade, é um pigarro-quase-corte-na-garganta que me faz tossir), também a congestão nasal. Em compensação, o cansaço extremo deu uma leve recuada, o que me animou o espírito. Talvez tenha sido a sopa que a mãe de Janaina (um anjo) gentilmente preparou e fez o irmão dela vir deixar aqui. Quem me conhece sabe que sopa é o meu prato favorito. Revigora qualquer doente, imaginem uma apaixonada por ela como eu!
Hoje acordei com medo de me levantar e me sentir exausta novamente. Não aconteceu, graças a Deus. Até já lavei a louça, sentindo um cansaço normal de quem está com um gripe mais forte. Para não abusar, me recolhi novamente pelo menos até tentar uma nova atividade. Uma dorzinha de cabeça (deve ser da sinusite) incomoda, mas não é nada para quem já está acostumada com as crises de cefaleia tensional. O olfato e o paladar praticamente sumiram pela leve congestão que a sinusite trouxe.
Espero que o pior já tenha passado e acredito que passou. Não tenho mais febre, respiro bem e o cansaço normalizou. Os próximos 2 dias serão de muita observação, mas tendo superado o dia de ontem, quando conheci um cansaço nunca imaginado, tenho certeza de que caminho para a cura. Tambén torço para que o sol siga brilhando porque ajuda demais na recuperação de quem tem asma, riscando pelo menos uma preocupação para quem tem Covid-19.
Ainda que eu não esteja curada, já sou muito grata deste momento só ter chegado após as 4 doses de vacina de mamãe e as 3 minhas e de Janaina. Não termos precisado de nada mais do que repouso em casa e medicamentos comuns em casos de gripe/resfriado um pouco mais forte é um verdadeiro presente para quem tanto se resguardou na fase mais crítica da pandemia justamente esperando pela benção do avanço da ciência e seus estudos.
Espero que chegue logo o momento (mais à frente) de fazermos check-ups para descartar qualquer outro tipo de problema secundário. É a vida que segue.