Eu me embrenhei nos últimos dias na leitura de, dentre outros livros (sim, leio uns 4 ou 5 de assuntos diferentes ao mesmo tempo), 1914 1918: A História da Primeira Guerra Mundial, de David Stevenson, que é professor de História Internacional na London School of Economics and Political Science. A obra tem 4 volumes e eu terminei agora o 1.° deles, com título A Deflagração.
Há muitas observações sobre erros, medos, acasos na preparação de cada um dos envolvidos, com detalhes sobre quantidades de armamento e até de perdas (mortes, baixas por ferimento e prisões). A cada página, a gente vai confirmando a idiotice de quem vive a planejar e executar uma guerra, especialmente quem pretende dar início a ela.
Em vez de comentar sobre o livro em si, que é um pouco mais técnico do que o esperado, mas nada que desabone sua leitura, eu prefiro transcrever uma passagem que retrata algo muito ressaltado sobre a primeira das grandes guerras, e que aparece nas páginas 150 e 151, mostrando como o alto comando é divorciado de quem realmente dá a cara para bater:
No meio dessa carnificina, ocorreu um dos momentos mais pungentes da guerra, a Trégua de Natal de 1914. No dia 24 de dezembro, árvores de Natal iluminadas apareceram nas trincheiras alemãs em Flandres, e ambos os lados entoaram hinos. Na manhã do Natal, soldados britânicos e alemães se reuniram em terreno neutro, conversaram, fumaram, jogaram futebol, posaram para fotografias e enterraram seus mortos. Muitas vezes, o cessar-fogo se estendia por vários dias, até ser interrompido (com pedidos de desculpa das unidades em ação) por insistência dos altos-comandos, que garantiam que, nos Natais subsequentes, aquilo aconteceria menos frequência, se é que voltaria a acontecer. O episódio parece demonstrar a ausência de rancor entre muitos soldados da linha de frente que - agora que os impetuosos primeiros dias haviam passado - se encontravam presos numa máquina de matar por uma pressão que vinha de cima. Tréguas não oficiais e acordos tácitos para moderar a violência continuavam a caracterizar a Frente Ocidental durante 1915, no setor francês (onde a Trégua de Natal foi menos predominante) e também no britânico.