Há quem não goste quando eu digo que o campeonato estadual não passa de um torneio de pré-temporada e que tem servido apenas como obstáculo a uma boa temporada do América. Respeito. Como diria meu saudoso avô João Francisco, "é um direito que lhe assiste".
Mas o padrão América de planejar uma temporada existe e tem se revelado de uma mediocridade ímpar. Há anos é tudo do mesmo jeito: monta-se um elenco e uma comissão técnica com promessa de prioridade ao Campeonato Brasileiro, faz-se uma pré-temporada até razoável e engasga-se com o ABC ou, pior, com o Força e Luz ainda no 1.° turno do torneio estadual (houve ano em que o treinador foi demitido porque a vitória foi considerada simples demais).
Com o programa de associação, a ladainha também se repete. Juras de amor à torcida até que surgem os jogos e muda-se o mando de campo, ou a catraca para o(a) associado(a) é justamente a de pior fila...
Mas voltemos ao futebol em si. Se antes esperavam uma derrota no clássico ou uma vitória simples num jogo contra um clube de menor investimento para mudar o treinador, agora chegou-se ao ponto de um técnico ser demitido tendo apenas 1 derrota (na estreia) e tendo vencido um clássico que há muito andava engasgado.
Renatinho saiu com o América classificado para as semifinais com 2 pontos a menos que o líder e favorito ABC e estando em 2.° lugar. O último resultado? Uma vitória de virada, 3x1.
O que Renatinho teria mostrado agora que não mostrou antes na D? Eis a pergunta que valeria até entrar no circuito de apostas tão em voga. O prêmio certamente seria milionário para quem encontrasse uma resposta satisfatória.
De novo, o América forma um elenco para uma temporada com um técnico e muda tudo após 5-6 rodadas (invejosos dirão que foram 7 dessa vez).
Encaremos os fatos como eles são. Primeiro, estadual não é prioridade. Não para o América. Entendam logo isso para não ficarmos nessa ladainha eterna. Se fosse, haveria uma séria manutenção de elenco do fim do nacional para este torneio, inclusive com contratação de verdadeiros reforços, não gente para completar elenco, e não teríamos a troca da comissão e de mais uma ruma de jogadores (podem esperar as famigeradas listas, ou barcas, a depender se tratamos de "reforços" ou de "dispensas") a cada 5-6 jogos.
Segundo, nada é de fato prioridade, a não ser rodar elenco. Já perceberam como os movimentos se iniciam cheios de boatos? A da vez é que Renatinho teria perdido o "comando do vestiário", seja lá o que isso signifique para quem espalha essas coisas. Gente, há quanto tempo não há comando de vestiário no América? Jogador escuta mesmo técnico nas épocas atuais ou são os empresários que definem o melhor esquema, a melhor escalação, o melhor jeito de seus pupilos jogarem e o técnico (o clube também), com o perdão da expressão, que se lasque?
A pergunta do futebol atual é, na verdade, com quantos empresários (todos os atletas têm empresários logicamente) se monta uma equipe unida, focada, para ser campeã e numa Série D. Só um? Alguns? Muitos? Como concatenar afinidades e apaziguar desgostos com o número de contratados de cada um?
A sanha de movimentar o mercado vai matando o futebol em todos os sentidos e o padrão adotado pelo América há muitos anos tem feito do clube uma máquina de moer sua história e sua tradição centenária de tantas glórias nacionais e até se metendo em competição internacional.
Há anos digo: é preciso convicção num treinador. Convicção de verdade, para aguentar o tranco dos boatos, das guerrinhas de bastidores provenientes desse comichão por girar a roda das contratações. Jogador/empresário fez beicinho? Corta-se o mal pela raiz até que todo mundo entenda que só há um caminho e é o traçado pela comissão técnica. De repente, a maré vira e todos estão remando para o mesmo lado.
Há anos espero que alguém da gestão do América se compadeça a de fato trilhar esse caminho tão óbvio de tão diferente do que vem sendo feito anos a fio. Entretanto, há uma sucessão de mais do mesmo.
A única esperança de mudança é arejar a administração do clube com muita democracia. Mas o clube persiste num rodízio que só aprofunda a crise. E a solução mágica é sempre a mesma, à la Rainha de Copas do País das Maravilhas de Alice: corte-se a cabeça; no caso, troque-se o treinador. Assim, já sabemos que o próximo, seja ele quem for, tem prazo de validade. Podemos até começar a contagem regressiva... 6, 5, 4...