Hoje eu esbarrei com um comentário que se perdeu por algum motivo na moderação do blog desde maio. Não tenho ideia do porquê ele não apareceu para minha aprovação como ocorre com todos os outros aprovados desde então.
O comentário de autoria desconhecida trazia um questionamento: Olá, Raissa. Sempre acompanho os podcasts de domingo. É notório o seu desinteresse na atual situação do América. O que houve?
A pergunta tem resposta complexa. Não aconteceu uma única coisa. Diria até que nada aconteceu e daí a insatisfação. A verdade é que já estou pela bola sete com o futebol em geral há muito tempo. Com o América então... São mais de 20 anos acompanhando uma decadência inaceitável do Orgulho do RN, voltado que segue para uma organicidade que fez muito sentido em boa parte de sua existência centenária, mas que já não cabe mais desde o fim dos anos 1990.
São muitas coisas que levam o clube a caminhar num sentido oposto ao de sua torcida. Já não aguentava mais isso quando recebi o convite de Leonardo Bezerra para integrar sua diretoria não estatutária (um grupo mais de apoio mesmo) para trabalhar como "abnegada" (detesto o termo) pela comunicação do clube, mais especificamente a TV Mecão. Apesar de toda a minha rotina já estressante de trabalho, aceitei acrescentar tamanha responsabilidade ao dia-a-dia.
Na equipe, ajustamos ideias e projetos que já existiam ou novos para trazer o clube para mais perto de sua torcida, dando voz a ela até para críticas.
Programa de rádio, TV Mecão cada vez mais presente, até com transmissões estilo rádio em jogos em que não havia possibilidade de transmissão de imagens do campo, integração com o Sócio Mecão... Até uma conta no Instagram - rede com a qual não tenho muita identificação - eu fiz para ajudar na comunicação com a torcida. Aliás, minhas redes sociais sempre receberam críticas, sugestões, elogios, pedidos de ajuda com coisas do clube, que sempre foram por mim respondidos e encaminhados a quem de direito.
Mas nem sempre o que é bom para a torcida é tolerável para outros setores do clube e fora dele. Se eu já era persona non grata para algumas figurinhas, dá para imaginar o que aconteceu com a minha chegada mais explícita na comunicação. Até transmissão autorizada foi desautorizada em cima da hora com direito a confusão por ocupação de uma cabine para ficar apenas na dificuldade mais palpável.
A sensação de murro em ponta de faca tanto em relação ao futebol em geral como ao América especificamente já era enorme quando a pandemia chegou. E a pandemia mexeu completamente com os valores nossos de cada dia. Avisei que não frequentaria mais o estúdio porque não queria me expor e assim expor minha família a uma contaminação. Canindé, o homem das mil mágicas, desenrolou o programa por videoconferência, o que ainda me segurou por lá. Depois disso, a renúncia de Leonardo Bezerra, apesar de eu ter tentado de coração convencê-lo a prosseguir, me liberou para deixar o cargo e seguir apenas na TV Mecão até o fim da temporada do futebol masculino. Minha libertação completa se deu já no início deste ano.
Se não suportava mais os escaninhos do futebol brasileiro, a pandemia me deu um soco no estômago para que eu olhasse para outros aspectos da vida. Para que insistir em algo que só causa ansiedade, com pouquíssimos momentos de alegria e outros muitos de bastante sacrifício pessoal? Se o desencanto começara com a seleção brasileira masculina já desde 2014, com o América, começou a ficar muito chato ter que comentar a repetição infinita de comportamentos equivocados, seja de dirigentes, conselheiros ou da torcida mesmo. Do time também. Ter que acompanhar uma partida do estadual, por exemplo, é uma tortura digna de quem sabe que vai alcançar a paz mundial por tamanho sacrifício, o que, convenhamos, não está nem perto da realidade. Acompanhar o estadual é apenas concordar com os rumos que a federação daqui dá a um futebol que mergulha de cabeça na busca do ostracismo. Não dá.
Sobre as outras competições, ter o estadual como prioridade dá a medida do quanto devemos levar a participação do América nelas a sério, né?
Enfim, a pandemia apenas exacerbou que nosso tempo por aqui é finito e que não temos a menor certeza de sua duração. Pode acabar daqui a 20 segundos, 20 dias, 20 anos. Vale a pena desperdiçá-lo com algo que suga todas as suas energias (até seu suado dinheiro) e que NUNCA segue no rumo correto?
Ainda tenho ajudado como posso aqui de fora o clube do meu coração. Se me perguntam, respondo, seja a respeito do que for. Se me consultam sobre Direito especificamente, me empenho para a melhor explicação. Mas não me envolvo mais com o que sei que não muda.
A pandemia custou a mim o exercício da profissão de professora e um aumento terrível na ansiedade. Em compensação, me trouxe acuidade para separar o que de fato importa do que não importa tanto assim. Não sou mais a mesma e nem sei se um dia voltarei a ser, nem mesmo se quero ser. O futuro dirá.
Por enquanto, vou vivendo um dia de cada vez, muitíssimo atarefada, diga-se de passagem, o que de fato tem afetado tanto a escrita no blog como a produção dos podcasts, estes até já liberados de ter um dia certo e uma hora exata para acontecerem.
O futebol hoje está restrito - e olhe lá - ao das mulheres, ainda em fase romântica. Se um dia o masculino voltar a encantar ou o feminino enveredar pelo mesmo caminho dele, certamente meu interesse mudará. Por ora, é assim que eu sigo.