Enfim, tomei a 2.ª dose da vacina contra a Covid-19. Já sofria de uma impaciência pela falta de acerto entre os horários dos locais de aplicação, mas fui agraciada pelo acaso no dia de ontem.
Até agora é o braço o único que segue apitando a dose recém recebida. Desde a vacina da gripe até o momento da 2.ª dose, meu braço deu todas as notas do que seja reação. Ficou vermelho, ficou pesado, ficou dolorido sem toque e ficou dolorido ao toque. Disso tudo, até ontem eu ainda sentia o braço doer quando por algum motivo ele era apertado. Ontem, ele recebeu o acréscimo de ardência e sangramento na hora da vacina, mas faço questão de ressaltar que nada disso incomoda demais ou me faz ao menos cogitar a não vacinação. São as pequenas dores do paraíso que é estar mais protegida contra uma doença que tem um potencial absurdo de matar e sequelar.
Não sei se era a espera por esse momento, que terminou chegando de supetão por folga na agenda, entretanto, também tenho experimentado uma certa falta de paciência com coisas as mais diversas possíveis, como verificar mensagens no WhatsApp, acompanhar as notícias por qualquer meio que seja, ter que frequentar consultórios médicos. Talvez a causa nem seja a vacina, mas o tempo de distanciamento social, ou o embate eterno ideológico nas redes sociais, ou tudo junto.
Não é fácil verificar que há gente que passa seus dias produzindo e/ou divulgando mentiras nas redes sociais. Também não é fácil verificar que há gente dedicada a produzir esquemas fraudulentos diariamente dos mais variados tipos com consequências até para a saúde das pessoas.
É difícil ver o futebol, tão venerado neste país, seguir um caminho cada dia mais estranho, com exploração da paixão das torcidas em coisas medonhamente mesquinhas, como ausência de fiscalização de uso de máscara numa arquibancada ou a decisão de distribuir camisa claramente não oficial vendida como oficial por meio de programa de educação fiscal estadual.
É possível ainda que a própria idade tenha peso grande nesta falta de paciência que me atinge com mais força nos últimos dias. Como lidar com o puxassaquismo adolescente de adultos que se armam para rebater críticas sem ao menos refletir se elas têm fundamento ou não, como se a crítica tivesse o único intuito de diminuir? Não sei como essas pessoas lidam com a maternidade/paternidade ou mesmo com a amizade, se o aconselhamento e a sinceridade com erros são sempre confundidos com oposição destrutiva (embora eu reconheça que essa existe, especialmente dentre os que vivem a reclamar dela). Como lidar com quem se intitula régua do mundo, mas descaradamente utiliza dois pesos e duas medidas no dia a dia?
Para piorar, acho que sofro de uma completa falta de interesse de saber sobre a vida dos outros. Janaina puxa muito a minha orelha por isso. Não tenho curiosidade para saber o que rola nos stories de quem quer que seja, por exemplo. Daí eu achar uma rede como o Instagram absolutamente vazia de conteúdo. Chego a brincar que sou a melhor pessoa para ouvir um segredo cabeludo. Há uma grande probabilidade de em apenas 20 minutos eu ter esquecido tudo e com possibilidade real até de me surpreender de novo se a mesma pessoa vier me contar a mesma coisa algum tempo depois. Acho que isso já dá uma boa medida também do meu interesse no WhatsApp e particularmente em seus grupos.
Tudo isso misturado é dose que fica para um leão ou uma leoa, não para uma pessoa como eu. E assim a falta de paciência tem me consumido até para conseguir ler nos últimos dias, mesmo tendo sido sempre uma verdadeira traça, que gosta até do cheiro de um livro ou de uma revista. Para amenizar, leio a conta-gotas e aposto em programação de streaming (na TV, não no celular), mesmo que seja de coisas que estão na TV em horário fixo. Também redescobri o valor de uma boa ligação telefônica, um milhão de vezes melhor do que uma troca infrutífera e infinita de mensagens escritas, ou pior ainda, de áudio, para resolver coisas que estariam resolvidas em poucos minutos de uma chamada normal, regular, de operadora telefônica mesmo, de voz, sem qualquer possibilidade de haver erro de interpretação do que foi afirmado. E aguardo ansiosamente que a paciência volte logo a dar o ar da graça por aqui.