Quando paro para olhar o ano 2021 como numeral, bate um estranhamento danado. Nascida no século 20, fim da década de 1970, criada nos anos 1980 e com adolescência nos anos 1990, os anos 2000 sempre soaram como algo muito distante para mim.
Já tivemos a virada do milênio (lembram do bug do milênio que enlouqueceria computadores - consertados a tempo - e jogaria a humanidade no caos?), chegamos aos anos 2010 e agora aos anos 2020. São 20 anos já, duas décadas, dentro do novo milênio e do novo século, o 21.
Até a minha adolescência eu tinha certeza de que não passaria dos 20 anos de idade. Acho que isso era muito mais fruto daquela ideia que adolescentes têm de que o mundo tem que ser vivido para ontem e ninguém se imagina mesmo envelhecendo.
O mundo mudou muito neste período. Avançou enormente. Retrocedeu pontualmente, num movimento inconsciente de quem se apega a algo que não presta mais, porém com valor sentimental, e isso impede que a coisa velha vá para abrir espaço para novas e melhores coisas. É como arrumar um guarda-roupa, algo sempre complicado.
Também neste período pude confirmar o que os livros de História diziam sobre a História ser cíclica, que nosso avanço é em espiral, etc. Se o conceito parecia esquisito para a aluna da Escola Doméstica na pré-adolescência, hoje, pelos muitos anos experimentados, fica muito mais fácil perceber que as coisas saem de moda e depois voltam, que a música se afasta de tendências e retorna após uma ou algumas décadas, que a política vive seu pêndulo entre direita e esquerda, de vez em quando chegando aos extremos dessas tendências e nos fazendo perceber que o equilíbrio é mais do que recomendado (vide Nova Zelândia).
Pessoalmente, enxerguei muito cedo a importância de desenvolver em mim a tolerância em todos os sentidos para tentar me despir de preconceitos e conviver bem com pessoas muito diferentes de mim. É uma luta diária, bem desgastante, mas também recompensadora, porque visões divergentes nos obrigam a olhar melhor para as coisas do mundo.
Para não divagar muito neste primeiro texto de 2021, termino dizendo do quanto de déjà vu tenho ao olhar para esta década que se inicia em relação à década de 1980 até a transição para os anos 1990, seja na moda, seja na música, seja na política. De minha parte, por exemplo, já voltei a fazer muito mais ligações telefônicas do jeito tradicional do que enviar mensagens, mas sem saudade dos orelhões a ficha. Aí já seria demais.
Não sei se essa similitude vai me ajudar a me sentir mais confortável com esses anos antes inimagináveis do novo milênio. O tempo dirá.