Sempre que posso, seja em relação ao tempo, seja em relação ao dinheiro, eu assisto a peças de teatro. Que me desculpem todas as outras formas de atuação, mas é no teatro que a atuação tem sua mais grandiosa expressão.
Sem cortes e sem anteparos com o público, resta à atriz/ao ator despejar seu talento durante o espetáculo inteiro.
O teatro também revela textos maravilhosos, que fogem de clichês e cativam até o fim.
Tudo isso se confirma em O som e a sílaba, de Miguel Falabella, e que é estrelada por Mirna Rubim e Alessandra Maestrini.
Inicialmente, que felicidade ver o Teatro Riachuelo disponibilizar um setor com ingressos a R$ 25/meia e R$ 50/inteira. Sei que isso também depende dos patrocínios do próprio espetáculo, mas a alegria de ver programação de qualidade num valor um pouco mais acessível é digna de aplausos de pé.
Sobre a peça em si, algo que mistura música clássica com teatro só pode dar certo. Agora imaginem o encontro de uma cantora clássica frustrada com o fato de ter que dar aulas de canto e uma garota autista com dificuldade de socialização. O espetáculo é profundo e leve ao mesmo tempo, com pitadas ainda mais leves de comédia que conseguiam arrancar muitas gargalhadas do público. A sutileza, minha gente, é um luxo.
A dupla é muito talentosa, mas que susto tomei com Alessandra Maestrini, a Bozena do antigo Toma lá, dá cá, que passava na Globo. Ela era de "Pato Branco, daí.", lembram? Que voz ela botou para fora ontem, viu? Impressionante. E sua personagem autista é absolutamente doce e convincente. Aplausos de pé numa terça-feira à noite.
O som e a sílaba conseguiu superar a boa expectativa que eu tinha a respeito. O espetáculo agora roda o Nordeste. Quem sabe um dia não volta aqui...