Sempre que converso com alguém a respeito das arbitrariedades do governo Bolsonaro faço questão de ressaltar que o Brasil precisava passar por isso. Às vezes é um impulso negativo que faz com que as pessoas acordem da letargia, passem a acompanhar mais o dia-a-dia do país e enfim as coisas andem na direção correta. Afinal, como bem dizia Bertolt Brecht, segundo texto que a ele se atribui, "o pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro, que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política. Não sabe o imbecil que da ignorância política nascem a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e bajulador das empresas nacionais e multinacionais."
Enfim, tudo que nos envolve é politica e o brasileiro precisa entender isso e parar de acreditar que uma única pessoa vai nos salvar de um destino construído coletiva e diariamente por cada um de nós.
Dito isso, voltemos ao governo Bolsonaro. As perplexidades são tantas que estamos observando surdo ouvir e cego ver na política brasileira. Quando vimos um Congresso tão consciente de seu papel de definidor das políticas que de fato dizem interesse ao país? Quando vimos um Congresso que se interessa, enfim, de discutir reformas e leis para acabar com gargalos nacionais? Se é certo que ainda existe muito toma-lá-dá-cá para que coisas do governo sejam aprovadas, também é certo que há uma lupa um pouco maior sobre as medidas que o Palácio do Planalto pretende impor ao país e que espancam a moralidade administrativa.
Quando antes vimos o Nordeste se unir num consórcio em busca de medidas que tragam a região para a linha de frente das decisões políticas e econômicas sem as tradicionais esmolas? Pode até não dar em nada, mas já é o embrião de que algo mudou no Brasil. E os governadores de todo o Brasil também seguem os passos de discutir questões mais abrangentes, como as reformas da Previdência e tributária, esta última calo maior do desenvolvimento nacional reconhecido por 10 entre 10 especialistas do Direito.
Assim, por linhas tortas, o Brasil começa a arregaçar as mangas coletivamente para mudar seu destino, já que o mandatário maior parece mais empenhado em fustigar os inimigos que sua mente cria, como se um presidente tivesse inimigos e não fosse o chefe de toda uma nação.
Ainda bem que deixamos o berço esplêndido da espera por salvação. Sem querer, Bolsonaro permitiu a construção de algo que é a sua própria negação. Ainda bem.