A vida começa aos 40. É o que dizem. Nunca entendi muito o porquê desse número. Por que não começa antes, aos 30, 35, aos 20, aos 18?
Talvez a questão seja uma maturidade que se imagina inegável nesta idade, pelo menos na média.
Eu cheguei aos 40 ontem. Não sei dizer o que mudou em mim ontem especificamente. Mas posso apontar mil coisas que mudaram ao longo desses anos.
Primeira delas é que me tornei um tanto quanto mais paciente. Nem tudo precisa mais acontecer para ontem. Posso afirmar que parei de brigar com o tempo na maior parte dele, embora a essência não mude muito e eu ainda seja ansiosa.
Outra é que coisas que me atraíam demais para o consumismo perderam o apelo. Não tenho mais obsessão por carros, celulares, roupas. Comida continua firme, mas com menos apelo. Livros seguem me atraindo, porém agora só uma promoção muito grande me faz comprar algum sem ter terminado outro.
Comemorar meu aniversário talvez seja a grande mudança. Todo dia deve ser comemorado. Aniversário é só uma data. A vida mesmo é vivida diariamente. Quem aguarda um aniversário para comemorar a vida perde muita coisa boa.
Assim, pequenos momentos compartilhados tornam-se grandes comemorações. Uma ida ao supermercado, um almoço feito com carinho, um engarrafamento cheio de diálogo, a observação do silêncio do Mirassol, uma falta de energia que provoca risos, tudo vale a pena se a alma não é pequena.
Nesse quebra cabeças que é a vida, tudo parece se encaixar perfeitamente, até os momentos mais difíceis. Eles também nos tornam o que somos hoje. Cada um deles me fez exatamente o que sou agora aos 40 anos. Entender isso muda a chave da nossa vida, posso garantir.
Chego aos 40 então tentando me livrar de pequenos traumas que insistem em querer dificultar a felicidade. E eis que sigo feliz por essa consciência, que não veio agora. Felicidade é um estado de espírito que vem de dentro para fora, não o contrário. Nada nem ninguém vai te fazer feliz se você não se fizer feliz com sua vida primeiro.
Como dizia uma frase feita cartaz por meu pai em sua oficina de máquinas de escrever, não devemos confundir sucesso com felicidade. Sucesso é termos tudo que queremos. Mas felicidade... ah, felicidade é gostarmos de tudo que temos. Tudo mesmo.