Tem gente que tira férias para viajar. Eu não. Não vivo de apenas uma profissão, o que dá o tamanho do problema. Quando estou de férias como professora, a atuação como advogada persiste. Quando estou de férias como advogada, as aulas me mantêm ocupada.
Aí viajar vira um malabarismo entre as duas atividades. Quando o dinheiro está um pouco mais folgado, mato a saudade do Tio Sam. Quando está apertadinho, mato a saudade de alguns pedaços tupiniquins. Às vezes, nem um, nem outro, ou porque a corda está mesmo no pescoço (mais comum), ou porque não há a menor possibilidade na agenda.
Voltando às férias, termino utilizando o período parcial para colocar coisas em dia. Cinema, literatura, revisitar alguns livros de Direito, visitar alguns locais novos ou muito apreciados aqui em Natal, descobrir novas atividades culturais (e me frustrar em algumas). Mas a principal atividade das férias é a faxina.
Gente, faxina é uma atividade libertadora. Além da energia física, a energia mental que ela exige pode nos levar para outro mundo. Tudo parece melhor depois de uma faxina. Dá para encontrar aquele panfleto com uma atração imperdível que perdi porque não sabia mais onde havia colocado o papel. Também dá para viajar ao passado com cada detalhe que vou redescobrindo, como uma foto antiga, um bilhete esquecido, um souvenir qualquer.
Também parece que tomei as rédeas da vida quando finalmente tomo coragem de encaminhar algo para a doação ou para o lixo mesmo, a depender do estado. Sim, sou taurina e, para quem gosta de signos, isso diz muita coisa do meu insano apego às coisas até o fim, como um celular cuja tela está saltando da carcaça e cujo som só é ouvido agora por fones ou Bluetooth e que eu continuo a utilizar diariamente como se nada estivesse acontecendo - prometo publicar um vídeo a respeito.
Só que a idade vai passando e o fôlego diminui. Hoje eu tenho que escolher uma única atividade por vez: varrer, aspirar, passar o pano, arrumar/descartar/guardar. A saúde de alérgica também cobra a conta, então tenho que empreender a faxina aos poucos.
Decidida a varrer/vasculhar tudo (ou quase tudo porque tudo mesmo, só depois de executada as outras etapas), ganhei duas bolhas na mão esquerda no manejo de duas vassouras diferentes e uma pá. Uma das bolhas estourou. Nem lembrava mais qual era a sensação de uma coisa assim. Mas nem isso me fez desistir da etapa ou me sentir pior após a finalização. Valeu a pena.
A próxima etapa - ainda não sei quando terminará - será o encaminhamento de coisas para doação ou lixo. Emocionalmente duríssima para mim. Mas é preciso. Tudo que é bom chega ao fim e é preciso abrir mão de umas coisas para que outras possam chegar. E como estou numa vibe menos consumista, pelo menos em relação a eletrônicos e roupas, vou tentar abrir muito espaço no guarda-roupa e na casa em si.
Até um livro chamado Casa Limpa e Arrumada está na minha cabeceira agora para me ajudar na empreitada. Apesar de achar tudo uma besteira em geral, há algumas boas dicas para o esforço correto em determinada faxina. E como fôlego e tempo andam em falta, não custa aceitar uma ajudinha de onde ela possa vir.
A maior dica até agora é essa mesmo: faça tudo de acordo com o seu tempo. Só tem 5 minutos? Limpe o que puder em 5 minutos. Faça tudo aos poucos ao invés de esperar ter uma semana inteira para colocar tudo em ordem. E é assim que tenho feito mesmo que sempre use as férias para passos maiores.