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Se você nunca leu um livro de Agatha Christie não faz a menor ideia do que é ser sugado para dentro de uma intrigante estória com assassinos que se julgam muito inteligentes, investigadores aparentemente improváveis e métodos engenhosos. É a irresistível mente brilhante da mulher que me empurrou nos braços do Direito quando me capturou como leitora ainda na minha adolescência.
Eis a única autora cuja vastíssima obra eu de fato coleciono. E quando digo vastíssima é porque é mesmo. São inúmeros livros, peças, contos. Dei a sorte de ter sido presenteada por minha mãe com "Os primeiros casos de Poirot", que já trazia uma grande lista na contracapa das obras da astuta britânica.
Virei membro do Círculo do Livro posteriormente e aí angariei mais uns 15 livros. Depois descobri uma editora que publicava uma coleção semanalmente nas bancas, isso ainda nos anos 90. Consegui mais uns 5 livros. Até que alguém me disse que só conseguiria aumentar mesmo a coleção indo aos sebos. Não sou muito fã de livros usados por causa das minhas alergias. Mas era Agatha, né? Consegui mais alguns títulos desta forma, uns que até me apresentaram a uma Agatha que também escrevia intricados casos de espionagem mundial.
Aí a Saraiva passou a trazer novas republicações e eu passei a substituir os do sebo (devidamente doados) por edições mais apropriadas às minhas condições de saúde. Assim, consegui o livro que acabei de ler ontem que contém 4 obras dela: "Aventura em Bagdá", "Um destino ignorado", "Punição para a inocência" e "O cavalo amarelo". Desses eu já lera os dois primeiros. Mesmo já conhecendo as estórias, não resisti e li novamente. Passei para a terceira obra e nem achei algo tão grandioso assim (mas é Agatha; logo, vale cada página!). Porém, a última obra é absolutamente cativante.
Devo dizer que, às vezes, as mulheres são retratadas como umas bobas por Agatha Christie, mas há também algumas marcantemente inteligentes e perspicazes. Homens também não escapam, mas aí a proporção é menor.
De todo jeito, "O cavalo amarelo" é de todo especial. Traz até um alter ego de Agatha Christie e que também não é retratada à altura do talento da escritora inglesa, embora continue fascinante para fãs como eu. A estória é intrincada como é natural nos livros dela, mas traz novos elementos de mistério para uma pequena cidade do interior da Inglaterra que envolvem até impressionantes rituais de magia negra. Uma pista aqui, outra ali, um mal entendido aqui, outro ali, pronto. Acabou-se o sossego até que consigamos virar a última página do livro.
"O caso dos dez negrinhos", que por motivos óbvios foi rebatizado como "E não ficou nenhum", e "O assassinato no Expresso do Oriente" são duas das mais marcantes obras de Agatha Christie. Posso citar N outras maravilhosas. Aliás, todas são. Mas essas duas acima marcam mais por suas diferenças em relação às outras. A primeira nem tem Poirot ou Miss Marple e é toda ambientada numa ilha. A segunda tem Poirot, mas é sufocantemente passada num trem em movimento.
"O cavalo amarelo" se junta a elas por trazer o já citado alter ego de Agatha Christie e enveredar por um enredo maravilhosamente intrigante e com altíssimas doses de suspense. Leitura obrigatória. Mas fica o alerta: depois de poucos capítulos, sua alma só sossegará quando seus olhos chegarem ao ponto final. Prepare-se.