Apesar do título também servir para o América em se tratando de clássicos em estaduais (não vencia um desde 2015, quando Flávio Boaventura deu a famosa voadora), ele se encaixa como uma luva no próprio clássico.
Primeiro, finalmente as diretorias de ABC e América deixaram de se engalfinhar na semana do clássico, preferindo uma postura muito mais diplomática e profissional.
O reflexo foi imediato no público: finalmente o clássico interrompeu a curva descendente, com públicos menores do que 7 mil pessoas, quase despencando dos 6 mil. Hoje, mais de 9 mil foram para a Arena das Dunas e as duas torcidas deram um show de apoio às suas equipes.
Até dentro de campo a atitude dos dirigentes deu o exemplo. Não houve uma única confusão entre os jogadores. A única expulsão da partida se deu porque o lateral Yan Peter não resistiu a meter a mão na bola dentro de sua área para impedir o gol de Juninho Tardelli.
Para melhorar, o jogo foi de um nível como há muito não se via. O ABC começou avassalador, dentro da sua característica de marcar a saída de bola do adversário e já partir para o gol. Foram 10 minutos de uma pressão que não parecia ter fim. O América, que parecia manter a calma, começou devagarinho a tirar o jogo do domínio alvinegro. Aos 13, finalmente uma jogada americana foi finalizada rumo ao gol de Edson. O jogo foi se equilibrando, com o ABC buscando contra-ataques velozes e o América pacientemente tocando a bola para achar espaço no posicionamento bem recuado do adversário.
Vale ressaltar que o ABC simplesmente não consegue desacelerar seu jogo. Quando começa a tocar muito a bola com os zagueiros, termina dando sopa para o azar.
Junte-se a isso o nível do meio campo americano, que, como esperado, desequilibrou o jogo. Cascata e Cia. envolveram a defesa alvinegra, Cleiton e Edson não se acertaram, e o rebote do goleiro achou o pé do sempre bem colocado Juninho Tardelli. O gol só não saiu porque Yan Peter resolveu dar uma de goleiro. Como o pênalti coube ao camisa 10, em uma bonita cobrança, o velho Casca pode marcar o gol que Yan tirou de Juninho Tardelli e assumir a artilharia da competição com 4 gols.
Ouvi falar que houve comentarista falando que a Fifa proíbe expulsão em pênalti. A expulsão só está proibida no caso de vermelho direto se o jogador infrator estiver disputando a bola (naqueles lances de agarrar, segurar, chutar, etc.). Se for o 2.° amarelo ou se a infração for como a de Yan, que não disputava a bola com absolutamente ninguém e bancou o goleiro, a expulsão é mais do que permitida, é obrigatória.
O pênalti e a expulsão diminuiram o ímpeto da equipe de Ranielle Ribeiro. Talvez por ser menos experiente, o baque inicial tenha sido maior do que o esperado. Nem Wallyson esteve pelo menos próximo de seu potencial. Aí Juninho Tardelli viu Adriano Pardal passando na diagonal, que, por sua vez, achou Danilo livre na área, que viu Guilherme chegando de frente para o gol e... gol de Guilherme. Acho que foi seu primeiro com a camisa americana.
O América então desacelerou o jogo, mostrando bom domínio e tentando controlar o desgaste físico que um clássico sempre impõe.
No 2° tempo, o ABC tentou voltar a acreditar num ataque mais veloz, mesmo com um jogador a menos. Mas o senso coletivo do América de Leandro Campos terminou mostrando o ar da graça em lance que terminou com uma falta quase na ponta da área, do jeitinho que Cascata gosta. A bola passou por Diego Negretti e encontrou Tiago Sala, que obrigou Edson a fazer praticamente 2 milagres até que Adriano Pardal mandou de joelho a bola para a rede.
O ABC não se entregou e, louve-se de novo, nenhum pontapé foi dado, nem mesmo quando a torcida começou os tradicionais gritos de olé. Muito pelo contrário. Thiago Braga fez até uma dificílima defesa.
E assim foi até o fim, com bons ataques de ambos os lados, embora mais frequentemente perigosos quando empreendidos pelo América.
Dizer que Cascata foi o grande destaque parece samba de uma nota só. Falar dos lances de gol com sua participação também. Mas houve um lance num contra-ataque em que ele driblou Felipe Guedes, mesmo estando de costas para ele e sem nem tocar na bola. Em seguida, disparou no velho estilo "ninguém me pega". Nisso, hoje, Cascata me lembra Romário. O baixinho parecia morto de cansado em alguns momentos do jogo, mas quando decidia disparar numa corrida ombro a ombro, tocava a bola mais à frente e deixava o marcador na saudade. Cascata anda assim.
Para citar então um outro destaque, falo do partidaço de Diego Negretti. Praticamente ninguém se criou para cima dele e muitos, (mas muitos mesmo) lances do ABC especialmente no 1.° tempo terminaram nos seus pés, cabeça e/ou peito, tendo segurado as pontas da pressão abecedista inicial e os contra-ataques do resto do jogo juntamente com seu companheiro Tiago Sala. A dupla vem entrando em sintonia fina e cresce a cada partida.
A entrada de Tadeu mostrou o jogador dominando a bola, brigando para defender e fazendo passes sem dificuldade. Banco é sempre a melhor recuperação para fase ruim. Vira uma opção, especialmente quando o gramado for meia boca.
Fico apenas preocupada com a insistência de Leandro Campos em usar até as últimas gotas de suor de Cascata. Os jogos têm sido cada vez mais intensos, o time mostra os efeitos disso no 2.° tempo, mas o jogador segue em campo até o apito final. 3x0 logo no início do 2.° tempo e com um jogador a mais davam uma boa oportunidade de preservação do meia, que chegou a pedir substituição logo após o lance de Felipe Guedes, salvo engano.
O ABC agora vai juntar os cacos de uma derrota acachapante no clássico enfrentando o Globo pela Copa do Nordeste na quarta-feira.
No mesmo dia, o América bota o seu desempenho de 4 vitórias sem tomar um único gol no estadual à prova na Copa do Brasil contra o Tubarão. Em jogo único, o Mecão passa para a próxima fase com empate ou vitória. Só não pode perder.
Ah, já ia me esquecendo: até a arbitragem potiguar faz jus ao título. Pablo Ramon teve uma atuação quase irrepreensível, apesar de todo o bafafá da semana. E como dizem que o primeiro a gente nunca esquece, esse foi o primeiro clássico apitado por Pablo em que o América venceu.
É esperar que esse prestígio continue em recuperação e que tenhamos um público ainda melhor no clássico do 2.° turno, no Frasqueirão. E que um bom jogo continue sendo a tônica.