Domingo me parece um dia perfeito para a filosofia. Só que o termo filosofia assusta muita gente apenas ao ser mencionado. Besteira. Filosofamos o tempo todo. De forma bem rústica, filosofar é querer saber, mas querer saber mesmo, naquele esquema de uma pergunta leva a outra, tão próprio das crianças.
O problema é quando precisamos dar nomes às coisas e alguém arruma um nome estrambólico para elas. Talvez você tenha ouvido falar de zetética e dogmática, de ser e dever-ser. O Direito, por exemplo, é uma ciência fundamentalmente dogmática.
Se não entendeu nada, o parágrafo a seguir, de lavra de Tercio Sampaio Ferraz Junior (Introdução ao Estudo do Direito: Técnica, Decisão, Dominação. São Paulo: Atlas, 1995. 2. ed. p. 41), vai resolver a sua vida, didaticamente separando ser de dever-ser e zetética de dogmática:
A título de exemplo, podemos tomar o problema de Deus na filosofia e na teologia. A primeira, num enfoque zetético, pode pôr em dúvida a sua existência, pode questionar até mesmo as premissas da investigação, perguntando-se inclusive se a questão sobre Deus tem algum sentido. Nestes termos, o seu questionamento é infinito, pois até admite uma questão sobre a própria questão. Já a segunda, num enfoque dogmático, parte da existência de Deus como uma premissa inatacável. E se for uma teologia cristã, parte da Bíblia como uma fonte que não pode ser desprezada. Seu questionamento é, pois, finito. Assim, enquanto a filosofia se revela como um saber especulativo, sem compromissos imediatos com a ação, o mesmo não acontece com a teologia, que tem de estar voltada para a orientação da ação nos problemas humanos em relação a Deus.
O Direito, portanto, não explica a realidade, mas determina como ela deve ser. Homicídios existem. O Direito, como ciência dogmática, não os procura explicar, mas apenas impor sanções para que a realidade seja (con)formada para que homicídios não mais existam.
A filosofia, zetética por natureza, é livre. Porém, é angustiante, vez que nunca se conforma senão com a verdade. E o que é verdade, se é que vocês me entendem?