Boa parte desta postagem foi feita em 26/02/2014, na véspera do confronto América x CRB pela Copa do Nordeste. Num flashback no Twitter, recebi de Diego Cabral há alguns meses um pedido para atualizar o texto, incluindo a mais incrível virada do futebol brasileiro. Tenho certeza de que chegou a hora. A partir do próximo parágrafo, o texto passa a ser, portanto, uma mistura do texto anterior com esses dois feitos e a nova missão. #PraCimaMecão
O América é dado a missões impossíveis. Em 1996, era o time de menor folha salarial, mas fez a melhor campanha da Série B e alcançou a Série A de 1997 como vice-campeão, daí conquistando a alcunha Orgulho do RN, vez que pesquisa Ibope em 1997 que perguntava aos potiguares qual era seu maior motivo de orgulho registrou o América na Série A como resposta da maioria esmagadora.
Aquela Série B foi marcante para o atacante Zé Ivaldo, que marcou dois golaços contra o Náutico, aqui e lá. Chegaram a dizer que o gol que Zé Ivaldo marcara aqui era um gol espírita, porque em 100 anos ele não faria de novo. Meteu um parecido lá nos Aflitos. Para uma pessoa supersticiosa como eu, o que pensar ao dar de cara com Zé Ivaldo numa semana decisiva como esta? Meu celular quebrou e, ao deixá-lo na assistência, lá está o calmo Zé Ivaldo também em busca de um produto seu. Mais uma vez o parabenizei por um gol tão bonito e importante. Porque não é fácil fazer gol bonito. Nem importante. Os dois juntos então...
Você se lembra?
Em 1998, só o salário do meia atacante Petkovic do Vitória pagava toda a folha do Orgulho do RN, mesmo na Série A. Pois não é que o alvirrubro natalense reverteu a vantagem do time baiano no Machadão? O Vitória vencera em casa por 2x1 e em Natal, o Machadão explodiu de alegria com os 2x0 (Biro-biro e Paulinho Kobayashi) ainda no 1.º tempo. Fácil, né? Que nada! O Vitória marcou um gol com o zagueiro Flávio no 2.º tempo. 2x1, resultado que levava o jogo para os pênaltis. Só que a massa empurrou o time e o 3.º gol salvador surgiu dos pés de Carioca, cobrando pênalti. América, campeão do Nordeste em 1998, maior título do futebol do RN, já que garantiu um time do RN na Copa Conmebol, atual Copa Sul-Americana. Ou seja, o América é o único do RN a disputar uma competição internacional. Aliás, a mesma vaga que a Copa do Nordeste atual garantia até o ano passado. Coincidência?
Você se lembra?
Em 2000, surge a primeira missão impossível semelhante à atual diante da Juazeirense. Copa do Brasil. Uma chuva desgraçada em Belém. Campo encharcado. O Remo faz 2x0 no técnico time americano. A classificação só viria para o Orgulho do RN se este fizesse 3 gols e não tomasse nenhum no Machadão. 2x0 levaria o jogo para os pênaltis. O árbitro era o que depois ficaria conhecido como o maior ladrão do apito: Edilson Pereira. Péssimo prenúncio. Mais ou menos como agora, uma vez que o América não costuma ter vida fácil com árbitros pernambucanos.
1.º tempo. Falta para o América. Ricardo, o rei da perfeição na bola parada e péssimo lateral direito, abre o placar para o Mecão. Aos 30 minutos, Edilson deixa de ver pênalti em Helinho. Vida sofrida para o torcedor, né? Logo em seguida, falha da defesa americana e Robinho empata para o Remo. E agora? O Mecão tinha que marcar mais 3 gols para se classificar.
Missão impossível... para os outros, não para o América! No finzinho do 1.º tempo, Ciro, atacante que não caíra nas graças da torcida, marcou o 2.º gol alvirrubro. Ainda faltavam 2 gols.
Intervalo. Expectativa. Mesmas equipes. Aos 3 minutos, Ademir, zagueiro, acha o 3.º gol do Mecão. 3x1 ainda classificava o Remo. Faltava 1 gol. Jogo nervoso. Edilson, sempre ele, marca pênalti para o Remo. E de novo Robinho marca. 3x2.
Desgraça. Agora o Mecão tinha que marcar mais 3 gols. Missão pra lá de impossível faltando menos de um tempo para o fim de jogo. Impossível para os outros, não para o América. Pênalti para o Mecão e Ricardo, o rei da bola parada, converteu. 4x2, faltando menos de 30 minutos para o fim do jogo. Para piorar, Ciro foi expulso. Mecão com um a menos e precisando de mais 2 gols. Aí surge o craque: Moura manda a bomba e faz o 5.º gol americano.
"Não vai dar". Será que alguém pensou isso? Não no América; não na torcida. Aos 39 minutos, Helinho marcou o gol da classificação. 6x2, o placar exato para que o América chegasse a uma inédita fase de oitavas de final da Copa do Brasil.
Você se lembra?
Confira reportagens e imagens dessa missão impossível:
Em 2005, um duelo contra uma equipe do interior, assim como a Juazeirense, ganhou ares de drama. Era confronto de semifinal. O ASSU empolgadíssimo por ter vencido o América por 2x0 em pleno Machadão. Somente um 3x0 lá no Edgarzão garantiria o América na final. Muita gente pensou que ali seria o fim daquela campanha de um time de bons nomes, mas muito irregular. Passei a semana sendo malhada por amigos americanos por ser a única a ter certeza da vitória. Mais de 4 mil torcedores em Assú não acreditaram quando o meia Ewerton e os atacantes Reinaldo e Zezinho deram números finais à partida no 2.° tempo e garantiram o América na final com o placar exato da necessidade: 3x0.
Mas a luta do momento é pelo Brasileiro, então vamos a confrontos fora do estado. Em 2014, o bom time americano viveu uma tarde/noite infeliz com ajuda de um árbitro pernambucano. Quartas de final da Copa do Nordeste, jogo de ida no Rei Pelé. Dois jogadores expulsos (Adalberto e Val), um pênalti e desgraça feita: CRB 2x0 América.
Na volta, outra missão impossível: vencer por 3x0 para se classificar para as semifinais. Impossível? Não para o América. Jogo nervoso. Aos 30 minutos, Adriano Pardal perdeu um gol sozinho na área. O 1.° gol só saiu aos 40 minutos do 1.° tempo: o lateral direito Walber chutou de esquerda para abrir o placar.
Fim do 1.° tempo e ainda faltavam 2 gols. A batalha foi inglória para os corações alvirrubros. Mas a abertura do placar deu ao América a confiança necessária e, com 10 minutos de 2.° tempo, o Mecão já vencia por 3x0 (Adriano Pardal e Rai). Mas o alívio mesmo só chegou aos 47 minutos: gol do atacante reserva Giovanni, Arena enlouquecida e mais uma missão impossível resolvida pelo Mecão.
Você se lembra?
No entanto, o confronto mais espinhoso que marcou a memória coletiva brasileira foi mesmo América x Fluminense pela Copa do Brasil 2014. Em Natal, o Fluminense de Fred e Cícero não deu a menor chance para o Mecão: 3x0. Restava ao time americano a impossível tarefa de vencer o tricolor por 4x0 em pleno Maracanã. Narrador e comentarista da Globo chegaram a dizer que o jogo seria uma espécie de treino de luxo para o Fluminense. O América até poupou jogadores, como Rodrigo Pimpão, que começou o jogo no banco.
Mas aos 16 minutos o lateral direito Marcelinho abriu o placar para o Mecão. Esperança? Que nada! 5 minutos depois, Fred empatou. E aos 36, Cícero virou. E o 1.° tempo jogou uma ducha fria na torcida americana. Não em mim. Vendo a onda pessimista no Twitter, tweetei marotamente "Mecão 5x2 :)" no intervalo.
O resto todo mundo sabe. Max empatou. Com a entrada de Rodrigo Pimpão e Alfredo, o América partiu de vez para o abafa nos últimos 15 minutos. Até então, 2x2. Alfredo fez 2x3 aos 30, 2x4 aos 37 e Rodrigo Pimpão classificou o América aos 45 minutos! Flu 2x5 Mecão. Coraçõezinhos americanos maltratados até o final do jogo ante o grande número de chances desperdiçadas pelo América. A determinação americana foi tamanha que o Brasil torceu descaradamente pelo América naquela noite. Até uma prima minha que é tricolor me confessou que virou a casaca por uma noite naquele 2.° tempo.
Você se lembra?
Só mais um detalhe: a mais incrível virada do futebol brasileiro aconteceu em 13/08/14. América x Juazeirense acontecerá na Arena das Dunas às 16h do dia 13/08/17. 3 anos depois, o América se envolve em mais uma missão impossível. Impossível? Não para o América!